É o Juvêncio?
Geraldo Duarte*
Brasília. Fins de 1980. Recém-chegados, concluindo a mudança para o apartamento onde residiríamos, deparamo-nos com um problema deveras preocupante. Conseguir uma linha telefônica.
Afora o valor exorbitante, quase o de um veículo, e registro na declaração do Imposto de Renda, dificuldades outras existiam.
Encontrasse a preciosidade, fazia-se necessário saber, junto à empresa responsável, da possibilidade de instalação no imóvel. Resposta à consulta demorava dias, período no qual seria examinada a disponibilidade de conexão na caixa distribuidora.
Na fila de requerimento dessa verificação, vencida a anterior, em que se recolhia uma taxa bancária, havia quem já recorrera por vezes e reclamava.
Conseguidos uma aquisição com o indicativo da área correspondente, terminal vago de rede e uma semana de espera, veio à promessa de cinco dias para a colocação. Foram-se mais.
Parecia festa a comemoração dos benditos sinais de chamada de telefonemas inaugurais aos familiares. Antes, o transceptor de radioamador, com prefixo PT7-GY, era o meio falho de comunicação.
Com o telefone funcionando, surgiu novo contratempo. À época, os contatos interestaduais tinham alíquotas menores depois das 20, 22 e 24 horas. E, diariamente, passada a meia-noite, o tilintar e a voz de uma senhora: “É o Juvêncio?”.
Dizíamos que não, explicávamos da transferência, mas nada dela desistir de ligar.
Quando retornamos de uma viagem, a secretária do lar, disse ter feito parar as ligações: “Informei que o Juvêncio morrera!”.
De tão embasbacados, a dúvida: repreendê-la ou desconversar? Certo ou errado, optamos pela dúvida.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário