Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

segunda-feira, 13 de abril de 2015

MARIA VAI COM AS OUTRAS Vicente Alencar*

CRÔNICA (VA)
MARIA VAI COM AS OUTRAS
 Vicente Alencar*

Esse Rio de Janeiro, que completa seus 450 anos de história e glória, é realmente enorme, maravilhoso, aberto aos mais diversos assuntos, fatos até mirabolantes, notícias extraordinárias, enfim, Capital do Bem Viver, pois todos estamos sob a égide da alegria, não contando com as dificuldades, tão comuns em todos os lugares do mundo, e que todos conhecemos.

Que se danem os Governos por não saberem coibir violência, trânsito difícil, problemas arrepiados, enfim, momentos que aparecem para transtornar, mas são todos contornados pela sabedoria de nossa gente. Mas, não estamos querendo falar sem dizer, nem contar nada a respeito de problemas sociais, pois, nestes 450 anos, o que nos interessa aqui é a história, a beleza, as riquezas naturais. O nosso dia a dia, com calor ou sem calor, com muito sol ou muita chuva, estamos todos caminhando, firmes, para momentos cada vez melhores.

E, nesta esteira do tempo, pois "o passado não passa", como afirmava o escritor cearense Eduardo Campos (não confundir com o saudoso pernambucano candidato a Presidência da República, em 2014), nós nos reportamos a esse passado, maravilhoso e sagrado, que nos deu a expressão "Maria vai com as outras".

Todos, ou quase todos no Brasil, conhecem esse uso, que existe desde que o Império esteve por aqui. E nasceu em um dos locais mais bonitos dessa Cidade Maravilhosa, como afirma a Marchinha. Exatamente, quando aqui viveu  Dona Carlota Joaquina, mulher de Dom João VI, que se deslocava até o Cosme Velho, para tratar do seu problema de pele, nas águas amigas, agradáveis e ferruginosas que existiam em fontes das mais conhecidas, e todos denominaram, desde a primeira presença de Dona Carlota, de "A Bica da Rainha".

Em sua companhia seguia, sempre, Dona Maria – A Louca e, com ela, o seu séquito de Damas, aquelas mulheres que a atendiam, em todos os desejos e queixumes, nos seus bons momentos e maus humores. Dona Maria "não era flor que se cheirasse" e, por isso mesmo, conhecida como uma pessoa de personalidade (!) difícil. Era muito comentada, em todo o Rio e no País.

"Maria vai com as outras" é justamente a expressão popular nascida da sabedoria do povo, aquele que tudo sabe dizer no momento em que lhe interessa, com muita graça, encanto e até humorismo. "Maria vai com as outras", numa alusão àquelas escravas e outros serviçais, acompanhando a Rainha Mãe, onde ela estivesse. E na "Bica", aí sim, não seria diferente.

A Bica da Rainha ficou famosa por todo o sempre. Muita coisa que diz respeito ao Império fixou-se na história, ajudando, inclusive, ao turismo, embora alguns desconheçam tantos e tantos fatos que se registraram por aqui.

Mas, em 1938, a Bica da Rainha ganhou denominação oficial, por iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, com o seu devido tombamento. São passados, neste 2015, nada menos que 77 anos do registro do fato.

Amante do Rio de Janeiro e do Brasil, preocupado com nossas coisas, nossa história e nossa gente, já estive na Bica da Rainha. Atraído pelas conversas, fui até lá, como também, a Portugal. Pertinho do Rocio, fui ao Teatro Dona Maria para conferir um pouco de sua história.

Aqui, nesse meu Rio de festas, de amigos e de amores, li e vi de perto uma poesia da minha amiga Lydia Simonato, publicada, há algum tempo, na Antologia Verso e Prosa  – VIII Arte, em Laranjeiras & Cosme Velho, organizada por ela e pela notável Juçara Valverde, denominada Bica da Rainha. Está contida ali, na página 35, e diz bem da história dessa expressão ,que ficou para sempre: "Maria vai com as outras".


* Vicente Alencar 
Jornalista, Poeta. Escritor
Presidente da União Brasileira de Trovadores - UBT Fortaleza.
1º Vice-Presidente da ALMECE - Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará.
Secretário Geral da Academia Fortalezense de Letras
 Membro da Academia Cearense da Língua Portuguesa, 
da Academia Cearense de Retórica e da
Sociedade Cearense de Geografia e História
 Titular da Cadeira nº 27 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo

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