Enquanto presidente apelava por coragem para enfrentar corrupção, moradores de três estados e do DF fizeram panelaço
POR O GLOBO
08/03/2015 21:10 / ATUALIZADO 09/03/2015 8:04
BRASÍLIA - Em sua primeira fala à nação depois da divulgação da lista de políticos que serão investigados na operação Lava-Jato, a presidente enfrentou a mais pesada crítica popular endereçada diretamente a ela desde o início de seu governo, em janeiro de 2011. Enquanto pedia paciência à população e coragem para enfrentar a corrupção, em um pronunciamento de 15 minutos programado para comemorar o Dia da Mulher, moradores de ao menos três estados - Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina - e do Distrito Federal foram às ruas e janelas de prédios para protestar contra a presidente. Houve panelaço, buzinaços e vaias, com xingamentos, em diferentes bairros. (LEIA A ÍNTEGRA DO DISCURSO)
No discurso, Dilma pediu paciência à população para as medidas de enfrentamento à crise econômica. Nos 15 minutos de discurso, ela fez ainda uma breve menção ao escândalo da Petrobras, afirmando que o Brasil tem coragem de submeter os corruptos à Justiça. E que está havendo uma apuração grande e rígida do esquema, a que ela classificou como "lamentável".
Ao mesmo tempo em que a presidente fazia seu pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, moradores de diversas cidades realizaram simultaneamente um panelaço em protesto ao seu discurso. Em bairros nobres como Higienópiolis, em São Paulo, e Barra da Tijuca, no Rio, as pessoas não só batiam panelas como gritavam palavras de baixo calão contra a presidente.
Também foram registrados protestos nos mesmos moldes em Brasília e cidades do Nordeste. Muitos internautas postaram vídeos em seus canais de relacionamento e em redes sociais.
Na esteira do protesto contra o pronunciamento, alguns moradores aproveitaram para incentivar a manifestação pró-impeachment de dilma roussef, programada para o próximo domingo.
- Com coragem e até sofrimento, o Brasil tem aprendido a praticar a justiça social em favor dos mais pobres, como também aplicar duramente a mão da justiça contra os corruptos. É isso, por exemplo, que vem acontecendo na apuração ampla, livre e rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobras - disse Dilma.
Depois de ouvir reclamações de aliados e de seu próprio partido por não fazer defesa enfática do pacote de ajuste fiscal que o governo enviou ao Congresso, Dilma usou a maior parte do pronunciamento para explicar e pedir apoio às medidas. Ela negou que o Brasil passe por uma crise de grandes dimensões, disse que depois do início da crise econômica internacional de 2008, o governo agora teve coragem de mudar a estratégia de enfrentamento ao problema, que no Brasil foi agravado por conta da crise hídrica. Dilma ressaltou que os direitos dos trabalhadores são sagrados e não serão prejudicados. E que o país não vai parar. O esforço, disse, será passageiro.
Numa tentativa de criar empatia em quem a assistia ou ouvia, Dilma disse compreender a irritação e preocupação de brasileiros diante do cenário atual,com inflação em alta, economia fraca e aumento do endividamento das famílias. A presidente pediu a confiança da população e conclamou a todos a se unirem em um esforço coletivo para a retomada do crescimento do país.
- Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão porque esta situação é passageira. O Brasil tem todas as condições de vencer estes problemas temporários. E esta vitória será ainda mais rápida se todos nós nos unirmos neste enfrentamento. Peço a vocês que nos unamos e que confiem na condução deste processo pelo governo, pelo Congresso, e por todas as forças vivas do nosso país - e uma delas é você! - afirmou.
Dilma disse que os noticiários às vezes mais confundem do que esclarecem, e chamou de injustas e desmedidas críticas que o governo tem recebido por conta do ajuste. Ela espera que uma reação da economia aconteça já no segundo semestre deste ano.
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- Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e agora temos que dividir parte desse esforço com todos os setores da sociedade.
Em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, as pessoas saíram às janelas dos prédios batendo panelas e gritando "fora Dilma", "fora PT". As manifestações começaram na metade da fala da presidente e só se encerraram depois do pronunciamento. Algumas pessoas estouraram rojões.
Uma série de vídeos foi postado na internet durante o pronunciamento. Em muitos deles, as pessoas também apagavam e acendiam as luzes do apartamento como forma de protesto. Em alguns bairros de São Paulo, o protesto foi além do panelaço. Muitas pessoas de carro saíram buzinando pelas ruas enquanto Dilma falava na TV.
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