Nosso sertão
Certa vez, governava o Estado do Ceará, pelos idos de 1985, quando num pequeno município, fui abordado por um senhor idoso que disse: "gosto munto do governo de vossimicê, agora pra nóis o mior de todos é a chuva, pruquê os problemas se resolve". Concordei e fiquei encantado com a pura filosofia do velho sertanejo. Lembrei-me, naquele momento, de belos versos de Patativa do Assaré: "Eu sou de uma terra que o povo padece/ Mas não esmorece e procura vencer. / Da terra querida, que a linda cabocla / De riso na boca zomba no sofrer / Não nego meu sangue, não nego meu nome / Olho para fome, pergunto o que há? / Eu sou brasileiro, filho do Nordeste, / Sou cabra da Peste, sou do Ceará". Observando as recentes chuvas, principalmente no dia de São José, pensei: graças a Deus o inverno chegou e recordei a mensagem do velho sertanejo, há trinta anos, ao visitar seu torrão natal. Não me contive, chorei e recitei para mim um poema que fiz (Nosso Sertão) após vários anos daquela visita: O inverno chegou. A chuva cai. / Belos campos frondosos. / Rios correndo, meninos pescando. / Animais pastando, garbosos. / Aves alegres, voando. / Cheiro de chão molhado. / Pessoas plantando, outras colhendo. / A caatinga, rude vegetação. / Absorvida pelo verde, quanta satisfação! / Como é grande a alegria! / Porém, poderá voltar a melancolia. / Eis o sertão nordestino, / com esperança, ainda um dia, / será visto, não só pelos homens, mas por seu virtuoso destino. P.S. Lembro, neste ano, o centenário da grande seca de 1915 descrita de forma bela e pioneira pela querida Rachel de Queiroz em "O Quinze".
Gonzaga Mota
Professor e escritor
Professor e escritor
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