MAS
SE ERGUE A CLAVA FORTE DA JUSTIÇA...
A
manifestação da Praça Portugal, em Fortaleza, neste 15 de março,
caracterizou-se pela presença de homens grisalhos e senhoras de cabelos acaju;
famílias inteiras levando crianças de colo e muita paz. Não se arrancou uma
flor de um jardim. As cores eram o verde e o amarelo. O Hino Nacional Brasileiro
foi cantado por todos, com o devido respeito. A polícia não teve trabalho.
Policiais não foram agredidos e por isso não usaram da força. Não se usou baixo
calão. Não havia ali mercenário em busca de pecúnia, aguardando receber
“quentinhas”, não havia “boiada cidadã”, tangida pelos “vaqueiros da
cidadania”, profissionais do ativismo. Não eram pessoas disponíveis encontradas
nas proximidades, pois domingo, sob o sol inclemente do meio dia não se
encontram passantes disponíveis para permanecer sob o sol causticante de
Fortaleza.
Os
cabelos brancos e as famílias com suas crianças de colo atestavam a maturidade,
a seriedade e a serenidade da manifestação. Não havia ali a expressão dos
arroubos de juventude, embora não faltassem jovem entusiasmados. O que havia
ali era a presença de uma cidadania madura, consciente, digna. O que motivava a
multidão ali reunida eram os versos do hino entoado por todos:
Mas se ergue da justiça a clava
forte/Verás que o filho teu não foge à luta/Nem teme quem te adora a própria
morte.
A
milícia da organização paramilitar convocada para reprimir a expressão da
cidadania não intimidou aqueles que não fogem à luta quando se ergue a clava
forte da justiça. Os ministros Teori Zavascki e Dias Toffoli precisam saber
disso. O Senhor Rodrigo Janot também precisa atentar para esse fato. A clava
forte da justiça, empunhada pelos que não fogem à luta foi erguida.
Ao
contrário das jornadas de junho, esta jornada de março não disparava
reivindicações difusas. A pauta era única: fora Dilma, fora corruptos, fora PT
e um sonoro basta! Partidos e sindicatos foram as grandes ausências. Sabiam,
por certo, que seriam repelidos, o que evidencia a crise de representação da
sociedade brasileira. A oposição partidária esteve ausente, embora fosse um
protesto especificamente contrário ao governo federal. Ao contrário do que
defensores do governo andaram propalando sobre uma oposição “afoita”, o que se
viu foi uma oposição omissa, cuja presença era indesejável por ser reconhecida
como leniente diante das práticas dos governantes.
As
alegações de golpismo foram desmentidas pelo espírito legalista de
manifestantes ordeiros e pacíficos, pela ausência de conexões com supostas
ambições oposicionistas. A manifestação não estava a serviço de ninguém além da
defesa da probidade administrativa e das instituições republicanas. A ausência
de artistas, celebridades e de show desmente a hipótese de carnaval cívico, até
pela presença das famílias e de idosos. Havia até um jovem tetraplégico
acompanhado de familiares. As jornadas de março começaram como a mais
autêntica, mais pacífica, a mais espontânea e a mais democrática de todas as
manifestações de toda a história deste país. E também a mais consciente.
Fortaleza,
março de 2015
Rui
Martinho Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário