Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Cem anos de genialidade


Cem anos de genialidade



Januário Bezerra
13 de dezembro de 2012 é um dia de imensa significação para a cultura musical brasileira, notadamente no que se refere ao cancioneiro nordestino. Completa-se o centenário de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.  
Nada mais justo que a comemoração do evento, de incalculável expressão para a memória da Nação Brasileira. Afinal, ninguém, neste país, fez tantas peregrinações artísticas, tantas concentrações populares, tantos shows musicais, manteve durante anos aceso o facho da emotividade sertaneja como na singularidade da temática, eminentemente regionalista e popular, centrada nos problemas angustiantes do homem do campo, fazendo gemer o coração de todo nordestino, em todos os rincões do Brasil, chorando a dor que não tem consolo nem remédio em toda a medicina, quando abraçava ao seu peito a sua sanfona e fazia que os dedos percorressem o seu teclado, arrancando lágrimas de saudade, ou gemidos de angústias sentidas, ou o grito de indignação pelo drama crucial que descrevia com tanto calor, unção e expressividade emocional.
É oportuno dizer, citando o Padre Antônio Vieira, de Várzea Alegre, Ceará, que se Castro Alves foi o poeta dos escravos, Luiz Gonzaga foi o cantor dos párias sociais, dos proscritos da família brasileira – os nossos irmãos sertanejos – não o legendário homem forte, decantado por Euclides da Cunha, mas o humilde trabalhador do campo, desnutrido, doente, depauperado, faminto, sobejo da morte, que a discriminação política e econômica dos nossos governos relegou à condição mais injusta e degradante que a dos escravos da senzala.
Eu arriscaria afirmar: Luiz Gonzaga está para a música popular brasileira (a nordestina, principalmente) assim como Monteiro Lobato está para a literatura infanto-juvenil nacional. E não me venham dizer que as melodias do Rei do Baião subvertem os cânones da erudição musical. A propósito, convém lembrar o valor pedagógico de Asa Branca, reconhecido e mostrado por alguns maestros, que já chegaram a compará-la (em termos pedagógicos, é claro) a nada menos que o Bolero, de Ravel, sabidamente, inegável referência aos que adentram o mundo da orquestração na condição de estudantes.
Neste pequeno espaço, pretendo mesmo é registrar a satisfação em testemunhar as comemorações do centenário de nascimento do Rei do Baião, lembrando assertiva do Padre Antônio Vieira durante a 34ª Exposição Centro-Nordestina, realizada em Crato, Ceará, quando aquele clérigo se reportou a Luiz Gonzaga do Nascimento: O seu nome sobreviverá à sua existência terrena, porque Luiz Gonzaga construiu um mundo de espiritualidade, de misticismo, de sentimentalismo, de ternura, de alegria, de amor e de bondade, na alma e no coração de todo o Nordeste. Ele sobreviverá como os gênios e os heróis de todos os tempos. 

Nenhum comentário: