MOVIMENTO CULTURAL TERÇA-FEIRA EM PROSA E VERSO
Coordenação Vicente e Margarida Alencar
21 de Setembro de 2022
Dia do Rádio e Dia da Árvore
Um Texto literário do Médico e Escritor
Pedro Bezerra de Araújo, o Pierre Nadie.
MORRER E AMAR
Morrer e amar, dizem, são universais. Aquele o é mais, enquanto amar é, profundamente, infinito. Aquele é ‘atentado’ à existência, este, desafio do viver.
Morrer é um diálogo exclusivo de si com suas entranhas, com seus órgãos, com seu corpo. A unidade do ser quebra-se para poder penetrar numa outra dimensão e recuperá-la, agora, sem as limitações descartadas. A mesma unidade essencial do ser personalizado é readquirida, melhor dizendo, permanece, pois, sua identidade assim o exige para continuar sendo identidade.
Para uns, a outra dimensão é o caos, o nada, o fim. Neste caso, a identidade funda-se com este ‘nada’, torna-se ‘nada’, mas não se perde, para quem o ‘nada’ e o ‘caos’ existem.
Para os que veem, além do horizonte terrestre, a esperança promete o ressurgir identitário e jamais a destruição, o aniquilamento. O pensamento, que nos dá o livre-arbítrio, embora impulsionado pelos neurônios e estimulado por sensores corporais, configura-se numa simplicidade metafísica e, como tal, não pode dissolver-se, pois não há o que desmembrar, nem desaparecer nas brumas do caos ininteligível, porque é inteligível. Como sua vivacidade subsiste, escapa aos axiomas das ciências e aos ditames dos ‘nobres’ mortais. Há conjecturas, hipóteses, opiniões diversas, pontos de vista e especulações filosóficas. No entanto, somente o rastro da fé apresenta uma ‘explicação’ ou ‘hipótese plausível’ ou inda um ponto de vista razoável, sem entrar em contradição com a verdadeira ciência. Cientistas e pensadores, há-os de todos os matizes, várias insinuações pululam, mas a verdade segue a certeza da crença: “escândalo para uns, loucura para outros, realidade para os cristãos”.
O ignoto não significa inexistente e o não-ser pode ser ‘ser’.
A epopeia da vida continua, à semelhança de um rio que corre, rumo ao oceano: o peixe sem o rio morre, porém, o rio sem o peixe continua sua trajetória existencial.
Se o morrer nos despisse para sempre da vida, talvez, como afirma Heinrich Heine, o melhor fosse, de fato, nunca ter nascido, jamais ter sentido o sabor de viver.
(Pedro Bezerra de Araújo, Pierre Nadie)
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