CRISES,
GUERRAS E A ECONOMIA
Crises
misturam impasses e oportunidades. Guerras têm forte correlação com crises. As
guerras mundiais e a grande depressão iniciada em 1929 impactaram fortemente na
nossa economia. Falências, desemprego foram impasses que criaram a oportunidade
de industrialização por substituição de importações. Faltou divisa para
importação. Fomos obrigados a produzir. Reserva de mercado, isenções fiscais,
créditos subsidiados e barreiras alfandegárias foram o caminho seguido por
quase todo o século XX, com destaque para os governos de Getúlio D. Vargas e do
consulado militar. Investimentos nas áreas de energia e transportes completaram
o crescimento.
Crescíamos
como os asiáticos de hoje. O preço por tal crescimento foi altíssimo. Desigualdade
regional e social, inflação e urbanização descontrolada são alguns dos
problemas do modelo de economia em marcha forçada sob proteção do Estado. A
qualidade inferior e o preço elevado dos nossos produtos é o que tínhamos. A
falta de competição desestimulou o aperfeiçoamento da indústria. O maior ícone
do modelo descrito, o presidente Vargas, ficou conhecido como o pai dos pobres
e a mães dos ricos, porque tratava os primeiros com paternalismo e cumulava de
riquezas os últimos. Este foi o preço da nossa industrialização. A revolução
tecnológica inviabilizou o modelo.
A
nossa economia ainda é muito fechada. O pouco que abrimos foi o suficiente para
a concorrência predatória dos chineses e outros asiáticos provocarem a
desindustrialização do nosso país. Isso trouxe produtos de melhor qualidade e
preços mais suportáveis e inflação civilizada. Trouxe também desemprego e
dependência de fornecedores. A indústria que ainda temos depende inteiramente
de fornecedores de componentes. As guerras mundiais nos privaram de certos bens
por falta de divisas para importa-los, porque as nossas exportações caíram,
situação agravada por falta de fornecedores em razão da guerra e pela queda das
exportações. A grande depressão da década de trinta, novamente com falta de
divisas, limitava as nossas importações. A crise abalou a economia dos mercados
para os quais exportávamos, sem divisas substituímos importações.
Hoje
o mundo está mais integrado. Vantagens comparativas das trocas trouxeram
benefícios. Ficamos mais dependentes. A guerra na Ucrânia pode nos deixar sem
fornecedor de fertilizantes e sem comprador da nossa carne. Crises políticas e
militares podem prejudicar as nossas transações bancárias nos deixando sem mercado.
As guerras econômicas entre terceiros podem prejudicar o nosso comércio. É
tempo de repensarmos a relação comparada entre custo e benefício da abertura da
economia e do protecionismo. “Tudo tem o seu tempo determinado, e há um tempo
para todo o propósito debaixo sob o céu” (Eclesiastes 3; 1). A substituição de
importações é um campo aberto no mercado interno e pode criar uma base
industrial para competir no exterior. Há escassez de semicondutores,
componentes dos setores eletroeletrônico, metal mecânico, químico farmacêutico
e tantos outros.
Os
inconvenientes da dependência foram evidenciados com as demandas subitamente
aceleradas no caso da pandemia e por embargos impostos como sanção econômica.
Não é preciso que a guerra bata à nossa porta. Uma conflagração distante pode
nos atingir. Belarus sofreu embargos e temos escassez de fertilizantes. Declarações
sobre a Amazônia como patrimônio da humanidade, tutela imposta em nome da
proteção ambiental, de indígenas e dos direitos humanos têm odor de sanções
econômicas que podem ser muito fortes.
Fortaleza,
2/3/22.
Rui
Martinho Rodrigues.
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