IMPASSE E OPORTUNIDADE
A duração da guerra da Ucrânia
aparentemente será longa. A progressão das tropas russas é lenta. Não há desânimo dos
ucranianos, que por sua vez não avançam, os invasores não são expulsos. Uma
longa conflagração não interessa às partes nem ao mundo. Restrições econômicas
e obstáculos decorrentes do conflito, como a falta de semeadura da próxima
safra na Ucrânia (exportadora de grãos), embargo das exportações russas de alimentos
e minérios prejudicam a todos. Sanções elevam o preço de bens, cortam cadeias
de produção e distribuição de bens. A Europa sofrerá se o fornecimento de gás
da Rússia for interrompido, a alta dos preços das exportações russas (petróleo,
trigo, cobre, níquel) atinge a todos, que já estavam fragilizadas pela pandemia,
tendo ainda “sequelas” da crise de 2008.
As grandes economias expandiram os meios
de pagamento para enfrentar as crises de 2008 e da pandemia (inspiração nem
sempre fiel a John M. Keynes, 1883 – 1946). O presidente Biden estimulou a
economia americana pelos gastos públicos, com destaque para a modernização dos
meios de transporte. O desequilíbrio fiscal crônico foi agravado nos EUA e no
mundo.
Até o Japão e os EUA têm dívidas
astronômicas. A elevação dos juros, consequência da inflação causada pela escassez
provocada por sanções impostas à Rússia, Belarus, Irã, Venezuela que atingem
terceiros países. O aumento dos meios de pagamento gerou uma bolha de tudo,
muito maior do que a bolha imobiliária de 2008. Uma crise financeira sem
precedentes é uma hipótese a ser considerada. O presidente Biden ameaçou os
chineses com sanções. A dependência do mundo aos fornecimentos da China e a
falta fariam que as exportações para a “Terra do Meio” seriam um golpe terrível
para o mundo, inclusive para os EUA.
Chineses são os maiores investidores e
mutuantes. O presidente dos EUA não ignora estes fatos. Biden estaria blefando?
Pequim não se deixaria enganar por ameaças vãs. Estaria ele escolhendo o
caminho do caos? O dólar será fragilizado por tantas sanções impostas a tantos
e tão importantes países. A Arábia Saudita e os emirados árabes foram
desprestigiados pelos EUA com o veto a venda de cem bilhões de dólares em armas
para aqueles países e condenou os sauditas na guerra do Iêmen, enquanto tenta
uma aproximação com o Irã. O governo de Riad reagiu: decidiu vender petróleo
aos chineses mediante pagamento com a moeda daquele país. O congelamento das
divisas russas nos bancos ocidentais estimula a diversificação dos depósitos em
bancos de diferentes países, favorecendo os chineses.
Uma grave crise do dólar e a
substituição da moeda americana, prejudicaria os credores da dívida americana,
como fez a Alemanha nazista? Ou os EUA estariam apenas desvalorizando o dólar
para estimular a substituição de importações e reindustrializar o país? A Europa
está flexibilizando a legislação ambiental para substituir importações. O
abandono das vantagens comparativas (David Ricardo, 1772 – 1823) pela
substituição das importações é desvantajoso sob vários aspectos. Mas a
dependência gerada pela integração econômica é um risco estratégico evidenciado
pela crise.
As finanças
internacionais ainda são influenciadas pelos acordos de Bretton Woods (1944),
quando a economia mundial estava fragilizada pela guerra e a economia dos EUA
passava por grande expansão. Estará o governo dos EUA escolhendo uma saída que
lhe traga alguma vantagem? Crises são impasses e oportunidades. A eleição do
caminho a seguir pode decisiva. A substituição de importações também pode nos
ser conveniente.
Fortaleza, 24/3/22.
Rui Martinho Rodrigues
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