Coordenação: Lúcia Barreto.
31 de maio de 2015.
Nossos poetas e poetisas cearenses.
Grandes nomes que precisam ser mais divulgados pelo mundo.
DEGRAUS
Carlos Augusto Viana
(Da Academia Cearense da Língua Portuguesa)
Atravessas a pátina dos crepúsculos
e imprimes,
no barro das horas,
a caligrafia de teus passos.
O vento lança
sobre a concha das árvores
o vôo abissal de teu nome.
Pássaros se põem a espreita,
e o mar alteia a espinha de suas espumas.
Enorme,
a noite debulha a messe dos espelhos
e pede noticias do teu ventre.
PARREIRA SOMENTE DÁ UVA
José Maria Chaves
(Da Academia Cearense de Médicos Escritores).
Brasil está de volta
cabisbaixo, derrotado
por Cafu capitaneado
Foi preciso até de escolta
Para sair da Alemanha
Pois a torcida revolta
Aos gritos de mercenáriosd
jogadores sem vergonha
Pipoqueiros e falsários
Não de dinheiro, mas de bola.
Espalhe sua peçonha
Longe da Pátria, oh, Cartola!
Não enxovalhe o conceito
Dos que não tiravam o pé
Nas divididas, no grito
Como Garrinha, o Mané,
Tostão, Jair, Brito ou Zito,
Gérson, Djalma e Pelé. Parreira, que pixotada!
Ao vê-lo em dia de chuva
Cara de vaca atolada
Assenta-lhe como uma luva,
bem de forma apropriada,
o nome, para dar uva
Futebol é diferente
não se adapta trieza
não se admite moleza
É como água fervente
Em constante ebulição
Há que imitar, somente,
O valentão Filipão,
Que se perca, se consente,
Mas, perder sem briga, NÃO.
(Fortaleza, 01 de julho de 2006).
SOMBRAS À MESA
Luciano Maia
(Da Academia Cearense de Letras).
Em torno à mesa se interrogam sombras
antes de comungarem das perguntas
sobre presente tão distante, tão...
Quem é você lembrança nesta sala?
Ah, nosso trisavô nada nos disse
ido por sóis e luas, numa era
quando os riachuelos eram estradas
em verões de água longe, longos ventos...
Vossa mercê, sombra primeva, tome
assento à cabeceira, comunguemos...
Deixemos que nos deixem as crianças
sós nesta sala em fim de tarde leda.
Silêncio, pois, memórias e saudades:
escutemos, pois nos indagam os vivos...
CIÚMES
Joaquim Leão +
(Autor de Visões do Passado).
Quando à noite, saudosa, entristecida,
Geme e brisa no bosque sombreado,
Quando da Lua o disco prateado,
aclara o dôce ninho da avenida.
Junto à janela eu vendo-te, Querida,
de olhos chorosos, rosto macerado,
Súbito eu sinta o coração magoado,
Punge minh'alma pela dor ferida.
Ó deixa tanta mágoa e cisma tanta"!
Porque assim envenenas, minha musa,
O teu amor que a minha vida encanta...
Sofres? é meu também o teu sofrer;
Não temas! Teu cantor não te recusa,
Volta a sorrir, alegra o meu viver.
DUPLA LIÇÃO
Regine Limaverde
(Da Academia Cearense da Língua Portuguesa)
A primeira grande lição
é memorizar tuas pausas
silenciosas
e decifrá-las
como uma aquiescência
ao nosso duplo caminho.
A segunda grande lição
é questionar-me
se vale a pena
uma viagem tão longa
carregada de uma pesada
bagagem - tua inconstante presença.
ESPERA
Vicente Alencar
(Da Academia de Letras e Artes
do Nordeste - ALANE - Fortaleza).
A dôce espera
remonta um mundo de esperanças
A dôce espera
não conta minutos nem horas.
Vive os momentos intensamente
como se fossem séculos.
A dôce espera
mantém o coração em alerta,
sentinela de um amor inquebrantável.
DÚVIDA
Batista de Lima
(Da Academia Cearense da Língua Portuguesa).
Não sei com que roupa
vou vestir o meu dizer
palavras são panos poucos
a cobrir tantos abismos.
A MESA
Carlos Augusto Viana
(Da Academia de Letras e Artes
do Nordeste - ALANE - Fortaleza).
Estranho,
o trigo dos mortos.
Posta a mesa, intumesce-o
o lêvedo da memória.
Irremediável,
a hora
em que quedam os talheres
e os pratos emudecem.
DORME O POETA
Neide Azevedo Lopes
(Da Academia Cearense
da Língua Portuguesa.)
O gato esconde-se no sofá
E o jardim derrama-se em vermelho
A lesma vasculha o muro
E o jornal espalha notícias pela casa.
O dôce de cereja ferve em desespero
E a solitária xícara pede café
A poeira suja os pés da mesa
E a saudade passeia por cima das horas
impaciente, a pena salta da gaveta
E o livro tomba em desalento.
O silêncio, junto a ti, também ressona
E a denúncia de uma longa espera
Cai sobre todas as coisas.
Tudo é tão quieto enquanto dormes,
que ouço o escuro entrando pela porta...
AMADA
João Soares Lôbo
(Da Academia Cearense da Língua Portuguesa)
Quando eu te amo, acho que incendeio
Os nossos corações tão parecidos
Se brigamos, parece que passeio
Entre os que, pelo inferno, andam perdidos.
Teu amor me conduz ao pastoreio
Dos sonhos toda a vida perseguidos
Teu silêncio desperta-me o receio
Dos velhos pesadelos mais temidos.
Por tua trança alcanço, sem permeio,
Castelos de rochedos proibidos.
Expulso Reis, na torre os chicoteio.
Se queres, toda a vida serás minha:
Dou-te o troco dos que forem vencidos
Amada, tu serás minha Rainha.
Leia, multiplique, envie para seus amigos no Brasil
e no exterior.
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