COMUNHÃO DA SERRA
Quintino Cunha
* Vila de São Francisco de Uruburetama em 24 de julho de 1875.
+ 01 de junho de 1943 em Fortaleza.
Ontem, à noite, eu ví a minha Serra,
Como uma virgem, trêmula, contrita,
Recebendo de Deus, d'aqui da terra,
Uma hóstia do Céu, hóstia bendita.
Como foi, para vê-la assim? De neves
Era o véu transparente, que aq cobria,
Vendo-se aqui e alí negros tons leves,
Do negro que do verde aparecia.
Tons negros, talvez restos, que os comparo,
De alguma nuvem torva, esfacelada
Por deus, que só queria o Céu bem claro,
Porque ia dar a hóstia consagrada!
O cafeeiral, que rebentava em flores,
a grinalda na fronte lhe brotava;
E o frio, rebento dos temores,
NJo seu íntimo, o frio rebentava!
Assim a Natureza era o sacrário,
De onde deus dava a comunhão radiosa
À Serra! E era o Céu o grande hostiário
E era a Lua, a hóstia luminosa.
E digam que eu não vi a minha Serra,
Como uma virgem, de grinalda e véu,
Recebendo de Deus, d'aqui da terra,
A hóstia luminosa lá do Céu!
(Livro: Pelo Solimões, 1907)
Fortaleza, 25 de junho de 2015.
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