A Porca não “tossiu”
José Lemos*
Na campanha a candidata, agora presidente, fez muitas promessas. Ela prometeu que “faria o diabo para ganhar a eleição”. Promessa cumprida na integra, devidamente respaldada pelo seu criador que falou “eles não sabem do que somos capazes para ganhar uma eleição”. Na iminência de perder o poder, a candidata prometeu, com o seu “apreço” pela língua, que nem que a “vaca tussa” os direitos dos trabalhadores seriam suprimidos.
Ao que se saiba, nenhuma “vaca tossiu”, mas aqueles que perderem o emprego terão seus direitos surrupiados pelas primeiras medidas do novo governo. Os que têm no programa Bolsa Família a fonte de renda terão os valores corroídos pela inflação que insiste em sair do centro da meta estabelecida pelo próprio governo. A candidata que dizia na campanha que os candidatos da oposição plantavam ajustes fiscais para colherem juros elevados teve como primeira medida, logo após ganhar as eleições, a elevação dos juros. A candidata falou que se a oposição ganhasse iria colocar banqueiros para tomar conta da área econômica e isso iria provocar falta de comida na mesa dos pobres. Ela ganhou, sabe-se lá como, e foi buscar num dos maiores bancos privados brasileiros o quadro que tentará reverter os desmandos da sua equipe anterior. Ela que acusava a oposição da intenção de elevar impostos, caso chegasse ao poder, sem que ninguém da oposição jamais tivesse falado nisso, não teve qualquer pejo em propor, como primeiras medidas, a ressureição da CPMF, elevação do valor da conta de luz e do preço da gasolina, mantidos artificialmente baixos em 2013-2014, como medidas eleitoreiras. Nós que compusemos a classe média, cuja filósofa do partido da presidente diz abominar, fomos “convidados” a pagar a parte mais pesada da conta provocada pelos desastres desse governo, via defasagem na correção da tabela do imposto de renda, elevação dos juros para aquisição da casa própria.
Empossada, a Presidente conseguiu nomear para o seu mastodonte Ministério pessoas que sequer sabem para onde vão os rumos das pastas que assumiram. E isto se transmitiu com efeito de vasos comunicantes para as Secretarias dos Estados cujos governadores fazem parte da base aliada desse Governo. Espera-se, por exemplo, que um Ministro ou um Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia seja alguém egresso das Universidades, ou de instituições de Pesquisa Científica, com titulação de Doutor conquistado em Universidade de ponta do Brasil ou do exterior. Tenha vasta produção acadêmica registrada no Currículo Lattes do CNPq. Estes critérios passaram ao largo das escolhas do Ministro e da maioria dos Secretários dos estados. Há casos, como o do Ceará, em que o Secretário de Ciências e Tecnologia sequer tem formação universitária.
Para a Agricultura, um dos pilares da economia brasileira, e que vem segurando para que o desastre não seja maior, deveriam ir pessoas com formação na área de Ciências Agrárias. Idealmente Engenheiros Agrônomos ou Médicos Veterinários. Mas isso não se observa tanto em nível de Governo Federal como na maioria dos Governos estaduais. Senhores ou senhoras com formação exótica à área mais atrapalham do que ajudam, porque não sabem, embora pensem o contrário, como se dá a complexa produção agropastoril, a mais difícil de todas, porque não depende apenas do talento dos praticantes (agricultores), mas de fatores exógenos como clima, mercados interno e externo de insumos e do produto, e de políticas produzidas e executadas por quem conhece os problemas a fundo.
A “grande novidade” da nova gestão, que já começa com cara enrugada, é o mote: “Brasil, Pátria Educadora”. Como pode ser “Educadora” uma Nação que em 2011 tinha 12.865.551 analfabetos e em 2013 este total havia ascendido para13.335.390? Como pode ter a pretensão de chegar algum dia a esta condição tendo na liderança um senhor que nunca foi educador? Aliás, no Ceará, terra que o Ministro da Educação governou por longos e intermináveis oito (8) anos, ele conseguiu a proeza de elevar a quantidade dos analfabetos maiores de 15 anos de 1.076.863 em 2011 para 1.128.905 em 2013. A credencial do atual Ministro é o fato de ele ter criado o programa “alfabetização na idade certa” e, segundo ele e a sua propaganda enganosa, ter dado certo. Os números acima o desmentem. Ceará, Maranhão, Piauí, Alagoas e Paraíba compõem os estados que detém os piores indicadores de educação do Brasil, tanto de um ponto de vista relativo como de um ponto de vista absoluto. Para este tipo de estatística os valores absolutos são mais relevantes do que os relativos. Não adianta reduzir o percentual de analfabetos se a taxa de regressão não for maior do que a taxa de crescimento da população. Além disso, enquanto existir um único analfabeto, um Governo sério deveria ficar preocupado. Tendo mais de treze milhões no Brasil, e mais de um milhão de analfabetos no Ceará, é impossível ser chamado de “Pátria Educadora”. A piloto nos faz voar entre nuvens turbulentas. O desastre é previsível. Tomara que consigamos encontrar a caixa preta depois dos destroços.
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