TEORIAS
ESTRANHAS
A
escola Antropológica do Evolucionismo social, teve em Edward Burnett Tylor
(1832 – 1917) um grande autor. Ele estudou culturas primitivas. Enfatizou o
desenvolvimento da mitologia e religião. Entendeu que os povos primitivos
imaginaram a existência da alma. Ainda se falava em povos primitivos. Claude
Lévi-Strauss (1908 – 2009) ainda não adotara o nome “ágrafos”, substituindo o
primitivismo pela falta de escrita.
Depois,
para Tylor, teria havido desenvolvimento das religiões. O politeísmo e a
hierarquia entre os deuses teriam sido induzidos pela estratificação social. O
monoteísmo seria uma evolução do politeísmo, por influência do advento da
monarquia. Tylor propunha quatro pontos: negava o sobrenatural e o mistério.
Tudo estava explicado cientificamente. O monoteísmo era o ponto final da
evolução do fenômeno religioso. Só restava ao processo evolutivo o abandono do
sobrenatural, a secularização. Por último, sugeria a verificação de sua teoria
procurando povos cuja cultura e crenças confirmariam sua teoria.
A
evolução do animismo ao monoteísmo, passando pelo politeísmo e desembocando na
secularização, guardam semelhança com a “lei dos três estados”, de Isidore
Auguste Marie François Xavier Comte (1798 – 1857). Atribuo a semelhança ao
cientificismo, eurocentrismo e evolucionismo historicista, influenciado pelo
evolucionismo biológico.
A
transcendência contraposta ao incômodo da finitude; a busca da totalidade e
radicalidade preenchendo lacunas, mais tarde apontadas por Thomas O’Dea em
“Sociologia da religião”, não ocorreram a Tylor. Nem os arquétipos. O Erudito
britânico teve o apoio da comunidade científica. Wilhelm Schmidt (1868 – 1954),
da universidade de Viena, etnólogo e clérigo, por exemplo, considerou a teoria
de Tylor incontestável.
Andrew
Lang (1844 – 1912), discípulo de Tylor, seguiu a orientação do mestre. Chegou
ao quarto ponto. Estudou relatórios sobre culturas de povos primitivos da
Austrália, África, América do Norte, Terra do Fogo, feitos por observadores dos
primeiros contatos com os citados povos. Havia, sim, a ideia de um Deus
criador, tradição muito antiga e difundida. A comunidade universitária, porém,
os descartava como influenciados pelo cristianismo. Don Richardson (1935 –
vivo), em “O fator Melquisedeque”, manifesta perplexidade diante do desprezo
dos eruditos pelas evidências.
Ciência
e comunidade científica perfeitas são ilusões. Gaston Bachelard (1884 – 1962), em
“O novo espírito científico”, mostra que o conhecimento pode ser obstáculo
epistemológico. Thomas Samuel Kuhn (1922 – 1996), em “A estrutura das
revoluções científicas”, mostra a cegueira e a incomunicabilidade dos
paradigmas e que a comunidade científica nunca aceitou uma inovação contrária
ao conhecimento estabelecido. Por isso os erros de Aristóteles retardaram o
avanço da ciência. Max Karl Ludwig Planck (1858 – 1947) teria dito que a Física
só avança quando morre uma geração de Físicos. Sigmund Schlomo Freud Freiberg
(1856 – 1939) foi expulso do Conselho de Medicina. Os micróbios, de Louis Pasteur
(1822 – 1995), não foram aceitos pela comunidade científica da época.
Tylor
retratou-se muito depois. Mas as ideias têm vida própria. Seguidores dos seus
erros continuaram errando. Eruditos sábios, como Lang, fazem a “digestão” das
leituras. Meros acumuladores não “digerem” as tramas epistemológica e teórica. Limitam-se
ao argumento de autoridade: fulano disse. A ciência é invocada a toda hora, seguida
de “está provado”. Acumuladores escutam e repetem.
Fortaleza,
14/6/21.
Rui
Martinho Rodrigues.
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