Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

terça-feira, 22 de junho de 2021

FORTALEZA, CIDADE DE PERO COELHO - I

 ACADEMIA CEARENSE

                   DE RETÓRICA

   Fundada em 17 de Abril de 1979



FORTALEZA, CIDADE DE PERO COELHO

Barros Alves




O contar a História não constitui uma atividade retilínea, mas um exercício permanente de investigação e garimpagem em que podemos encontrar tesouros valiosos a cada escavação. E muitas vezes, a botija está enterrada sob os nossos pés, à porta da camarinha ou no quintal da nossa casa.


Por outro lado, a História enquanto ciência, se é que o seja, não se inscreve entre as exatas e ao longo do tempo tem sido expressa por intermédio de versões que se subordinam a circunstâncias as mais diversas, sobretudo no quesito político, o qual se subsume às vontades do poder em determinada época. Ao historiador cabe, portanto, o esforço para fidelizar a narrativa aos fatos, numa busca incessante e intimorata da verdade histórica, com o objetivo de subtraí-la da dimensão subjetiva que a palavra possa conter, assim como da arbitrariedade das opiniões mutáveis ditadas pela efemeridade de poderosos.



Sempre me incomodaram as disposições da lei 7.535/94, que institui o 13 de abril como Dia do Município de Fortaleza, no pressuposto de que esta capital assentou seu embrião urbanístico que gerou a cidade, em face da Resolução Régia de 9 de março de 1725, concretizada a instalação somente em 1726, na data que ora comemoramos. Os fatos requerem das autoridades, em especial dos historiadores, um resgate memorial daquele que inscreveu indelevelmente o seu nome como o primeiro a pôr os pés nestas terras que viriam a se tornar a cidade de Fortaleza e o estado do Ceará. Sem qualquer motivo para olvidar a importância de Martim Soares Moreno, o guerreiro mitificado pela genial criatividade de José de Alencar; ou a figura do aventureiro flamengo, Matias Beck, ouso assegurar que os louros da fundação do Ceará e de Fortaleza, na condição de pioneiro, cabem ao nobre açoriano Pero Coelho de Sousa, que aqui aportou via Jaguaribe, em meados de 1603, indo ter aos contrafortes da Ibiapaba na tentativa de chegar ao Maranhão, sem, no entanto ter logrado êxito. De retorno, estabeleceu-se na foz do Rio Ceará, “onde fundou a colônia Nova Luzitânia, com a sua capital Nova Lisboa, e o fortim São Thiago, cujo nome está indicando que ele já estava neste sítio insalubre no dia 25 de julho de 1604,” consoante o registro do jornalista e historiador João Brígido, em breve ensaio comemorativo dos 300 anos da fundação do Ceará, nominando nossa personagem como Pedro Coelho.


Concluo, citando o referido autor, que secunda e, neste pé, é seguido por outros nomes respeitáveis da historiografia cearense os quais certamente estarão presentes nos artigos que pretendo escrever sobre este tema. Diz João Brígido: “No limiar do Ceará está Pedro Coelho de Sousa (…) é o primeiro nome do Ceará, justamente o primeiro mártir da sua causa.” Por pertinente, lembro que o Egrégio Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), sob a liderança do inolvidável Barão de Studart, comemorou com grande entusiasmo o tricentenário do Ceará em 1903, assegurando, destarte, que 1603 é data magna para esta terra, que deve a Pero Coelho um preito de gratidão, em razão das suas lutas, das suas dores e das suas mágoas, que não têm merecido o reconhecimento e o amor da posteridade, como já lembrava Brígido no ano do tricentenário.


BARROS ALVES

JORNALISTA, POETA E ASSESSOR PARLAMENTAR

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