DEMOCRACIA É TOLERÂNCIA
Democracia
é, entre outras coisas, tolerância. Mas não ilimitada. Democracia não tolera a
intolerância. Noruega e Alemanha sabiamente tipificaram como crime as
manifestações neonazistas, incluindo o racismo, o antissemitismo e demais
condutas antissociais supostamente escudadas em valores morais. Em boa hora o
Brasil também criminalizou as condutas citadas. Agressões não devem ser
toleradas. Manifestações públicas que incorram nos crimes citados são apologia
da ilicitude. Devem ser reprimidas pelo Estado. Particulares, individualmente
ou em grupos, na forma de movimentos políticos ou sociais que chamem a si a persecução
penal, usurpando a prerrogativa do Ministério Público, incorrerem no exercício
arbitrário das próprias razões, nos termos do ordenamento jurídico brasileiro,
capitulado no Código Penal.
Nos
EUA, em nome da liberdade de expressão, a Constituição, conforme a
interpretação da Suprema Corte, assegura a todos o direito de manifestar suas
ideias políticas, inclusive nazistas, racistas, antissemitas e o que mais
houver. É um erro tolerar a intolerância. Cabe ao legislador norte americano
corrigi-lo. Não cabe, todavia, aos particulares, individualmente ou em grupo,
nas associações e movimentos políticos ou sociais, reprimir a intolerância
racista, nacionalista, religiosa, política ou de qualquer espécie, chamando a
si a tarefa que deveria ser do Estado. A privatização do poder de polícia não
consta do cardápio político nem do mais convicto dos liberais. A inconformidade
política não pode se expressar pela violência, ainda que arrimada na mais justa
das inconformidades.
Nos EUA nazista e racista ganharam as
ruas. Inconformados, conscientes de que não se pode tolerar a intolerância,
organizações políticas e sociais partiram para o enfrentamento. Foi a
privatização do poder de polícia o caminho da radicalização. Foi uma repetição
dos atos de inconformidade diante dos resultados eleitorais das últimas
eleições presidenciais americanas. É, ainda, a repetição da conduta expressa no
refrão “na lei ou na marra”, usado no Brasil por quem se acha certo e se
inclina pelo uso da força e a ruptura institucional quando contrariado.
Manifestações neonazistas, racistas e assemelhadas são casos de polícia. Não
podem nem devem ser combatidas por movimentos sociais ou políticos.
Porto Alegre, 17 de
agosto de 2017
Rui Martinho Rodrigues
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