CEGUEIRA
E TÁTICA
O
petrolão potencializou a irracionalidade na política. A chamada cegueira dos
paradigmas impossibilita a compreensão do óbvio. Pressupostos e convicções
impedem a percepção e a compreensão. Todos vivenciamos isso entre amigos e até
entre familiares. Galileu não conseguiu explicar sua teoria aos intelectuais do
seu tempo. Outro fenômeno é a negação, por conveniência, da realidade. Na
política temos ambas as coisas: compreensão bloqueada pelos pressupostos
equivocados, de um lado; conveniência, de outro. O momento é pródigo nas duas
coisas.
A
compreensão é bloqueada pelos pressupostos segundo os quais a História tem como
motor o conflito e a ética é guiada por finalidades, justificando meios abjetos.
O ceticismo epistemológico afasta a verdade. A atitude quixotesca de quem
defende dulcineias e ataca moinhos de vento é vista como superioridade moral e
intelectual. Montado em teorias que são verdadeiros pangarés, o Macunaíma se
apresenta como sábio e virtuoso.
O
autoengano e o engano do eleitor são cegueira e tática. A falácia ad hominem se insinua neste espaço. “Nós
e eles” afasta o exame do mérito da argumentação. É o maniqueísmo manifesto. A
dicotomia de uma análise política de dois sacos – direita e esquerda –
potencializa o engano próprio e do outro. Basta dizer: isso é argumento “deles”,
não “dos nossos”. E os nossos são “do bem”. Os outros são “do mal”. Flagrados
fazendo o mal, são “justificados” pelos fins ou negam a realidade.
A
ética teleológica e a lógica do conflito levam à morte da razão eà maldade. O
líder passa a ser ídolo. Daí o culto à personalidade nos partidos com espírito
de seita. A torpeza do líder é negada, ou causa choque, quando não é
justificada. Só não leva ao reconhecimento da realidade. Foi assim com Stalin.
É assim com Lula Odebrecht da Silva. Só a rapacidade do outro é denunciada com
indignação real ou fingida.
Interesses
menores, paixão, irracionalidade e ilusões políticas são destrutivos.
Fortaleza,
23 de abril de 2017
Rui
Martinho Rodrigues
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