Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

terça-feira, 25 de abril de 2017

CEGUEIRA E TÁTICA - Rui Martinho Rodrigues

CEGUEIRA E TÁTICA

O petrolão potencializou a irracionalidade na política. A chamada cegueira dos paradigmas impossibilita a compreensão do óbvio. Pressupostos e convicções impedem a percepção e a compreensão. Todos vivenciamos isso entre amigos e até entre familiares. Galileu não conseguiu explicar sua teoria aos intelectuais do seu tempo. Outro fenômeno é a negação, por conveniência, da realidade. Na política temos ambas as coisas: compreensão bloqueada pelos pressupostos equivocados, de um lado; conveniência, de outro. O momento é pródigo nas duas coisas.
A compreensão é bloqueada pelos pressupostos segundo os quais a História tem como motor o conflito e a ética é guiada por finalidades, justificando meios abjetos. O ceticismo epistemológico afasta a verdade. A atitude quixotesca de quem defende dulcineias e ataca moinhos de vento é vista como superioridade moral e intelectual. Montado em teorias que são verdadeiros pangarés, o Macunaíma se apresenta como sábio e virtuoso.
O autoengano e o engano do eleitor são cegueira e tática. A falácia ad hominem se insinua neste espaço. “Nós e eles” afasta o exame do mérito da argumentação. É o maniqueísmo manifesto. A dicotomia de uma análise política de dois sacos – direita e esquerda – potencializa o engano próprio e do outro. Basta dizer: isso é argumento “deles”, não “dos nossos”. E os nossos são “do bem”. Os outros são “do mal”. Flagrados fazendo o mal, são “justificados” pelos fins ou negam a realidade.
A ética teleológica e a lógica do conflito levam à morte da razão eà maldade. O líder passa a ser ídolo. Daí o culto à personalidade nos partidos com espírito de seita. A torpeza do líder é negada, ou causa choque, quando não é justificada. Só não leva ao reconhecimento da realidade. Foi assim com Stalin. É assim com Lula Odebrecht da Silva. Só a rapacidade do outro é denunciada com indignação real ou fingida.
Interesses menores, paixão, irracionalidade e ilusões políticas são destrutivos.
Fortaleza, 23 de abril de 2017

Rui Martinho Rodrigues

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