A
MALHAÇÃO DO JUDAS
A
malhação do Judas denota a dinâmica de uma catarse presente na sociedade. A
necessidade de odiar, de encontrar alguém em quem descarregar as insatisfações,
dirigida ao boneco de pano, havido Judas, é menos perniciosa do que o
linchamento. Uma mulher foi linchada, no litoral paulista, um exemplo entre
tantos outros. Houve protestos louváveis, justos e oportunos.
O
linchamento moral, porém, é praticado sem nenhum protesto. O pretexto é a
condição de corrupto, da pessoa linchada, analogamente aos linchamentos
físicos, que apresentam como desculpa o fato do linchado ser ladrão ou
estuprador.
O
Brasil tem, na vida pública, o linchamento moral como prática recorrente. Não
faltam defensores da violência assim praticada, vista como “Ira santa”,
“indignação cidadã”, “execração pública”. O eufemismo, porém, cede lugar ao
protesto indignado quando existe afinidade ideológica com a pessoa execrada.
Paulo Maluf, Collor, Delfim Neto e tantos outros deram plantão como Judas.
Collor precisou sair do Brasil, porque não podia andar nas ruas de nenhuma
cidade.
A
“Geny” de plantão hoje é Eduardo Cunha. Pensando a respeito da escalação do
Judas do momento, surgem indagações inevitáveis. Ele era presidente da Câmara quando
recebeu pixuleco do petrolão? Não. Era presidente do partido? Não. Era
presidente da República? Não. Era ministro de Minas e Energia a quem a
Petrobras está subordinada? Não. Era presidente do Conselho Administrativo da
Petrobras? Não. Era Chefe da Casa Civil? Não. Era presidente da Petrobras? Não.
Nomeou o presidente da Petrobras? Não. Qual a importância dele? Era, ao tempo
dos crimes que praticou no petrolão, um deputado havido como do “baixo clero”,
de importância secundaríssima.
Integrou,
conforme as informações obtidas de réus da Lava-Jato, em sede de colaboração
premiada, a organização criminosa que abalou a grande petroleira estatal.
Cometeu crime, sim. Mas seria o chefe da organização? Não. Um deputadozinho do
baixo clero não seria o capo de todos
os capos. Seria integrante da cúpula
da organização criminosa? Não, desimportante, ao tempo dos crimes, não era
cúpula. Teve papel decisivo na compra superfaturada da “marronzinha”, a
refinaria comprada no EUA, assim chamada por ser enferrujada? Não.
O
deputado só se tornou importante quando chegamos a um parlamentarismo de fato,
causado pela falência política do Executivo. Tornou-se persona no grata ao Executivo muito depois dos crimes, por motivos
alheios aos referidos delitos. A guerra entre ele e a Presidente da República
deveu-se a disputa pela presidência da Câmara e a divergência no campo da
moralidade sexual, quando o senhor Cunha passou a explorar bandeiras
conservadoras.
Será
esse o grave crime Macunaíma perdoa ladrões, mas não tolera a moral
conservadora?
Parte
dos linchadores, sim. Outros, porém, usam precisam de uma Geny como manobra
para tirar o foco dos chefes da organização criminosa que devastou a Petrobras,
os fundos de pensão e o Tesouro Nacional, hoje com um déficit de 120 bilhões de
reais. Assim, um ladrãozinho pé de chinelo tornou-se o centro das atenções e o
Brasil esqueceu o capo e sua malta.
Fortaleza,
04/01/16
Rui
Martinho Rodrigues
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