Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 3 de julho de 2015

O velório do prefeito / Gonzaga Mota- professor e escritor

O velório do prefeito
 
Era véspera do dia do padroeiro de um pequeno município localizado no sertão do Ceará. A praça da matriz estava cheia de gente e de barracas; vendia-se  do “churrasquinho de gato” às calças “boca de sino”. O serviço de auto-falante não parava de mandar mensagens de um alguém para outro alguém, bem como rodava a  musica “Festa no Interior” na belíssima voz da grande Gal Costa. De repente, anunciou um infausto acontecimento. O querido prefeito Zeca do Açude, havia falecido do coração. Talvez não tenha suportado a emoção do momento. Parou tudo, pois o sertanejo é puro e respeita as tragédias da vida. A generosidade do vigário, imediatamente, tirou o corpo do Zeca do meio da multidão, colocou-o num caixão e o conduziu para  próximo do altar da igreja. A festa transformou-se num velório. Milhares de pessoas, fazendo preces ao padroeiro, passaram a rezar e uma enorme fila arrodiava o caixão preto. Ao lado, três senhoras choravam copiosamente. Tomando conhecimento do acontecido, logo cedo, o governador do Estado se deslocou ao município. Quase não consegue adentrar à matriz, era uma multidão incalculável. Ao chegar, depois de muito esforço, perto do féretro, perguntou ao vice-prefeito: qual das três senhoras é a esposa do Zeca? Chiquinho da Rapadura respondeu com naturalidade: as três. A autoridade tomou um susto, mas de forma triste aproximou-se e externou suas condolências a cada uma. As três disseram que Zeca do Açude era um homem bom, amigo e cumpridor das obrigações. O governador ficou perplexo. Quanta compreensão! Às vezes, a vida é assim.
Gonzaga Mota- professor e escritor  

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