Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 15 de julho de 2015

DEZ ANOS DE FALECIMENTO DA PENEDENSE ZURICA GALVÃO PEIXOTO (1914 – 2005)

DEZ ANOS DE FALECIMENTO DA PENEDENSE ZURICA GALVÃO PEIXOTO (1914 – 2005)
Zurica Peixoto tinha 26 anos incompletos, em 1940, quando escreveu esses versos nostálgicos – por vezes tristonhos – e morava em Copacabana, no Rio de Janeiro.
O Chalé dos Peixotos, no qual ela residiu com a família de 1914 a 1933, em Penedo, Alagoas, teve inicialmente a cor vermelha. Após a saída  dos Peixotos (para o exílio no Rio de Janeiro), foi verde, azul, creme (ou amarelo) e hoje não tem mais cor nenhuma: está em ruínas – e o povo penedense sabe bem o motivo.
Eu fico a conjeturar porque as autoridades penedenses ainda não homenagearam Zurica Galvão Peixoto - minha saudosa tia -, que completa dez anos de falecimento agora no dia 16 de julho, e que amou com tanto ardor esta bela cidade em que nasceu e na qual se fala tanto em história, tradição e preservação da memória.
Fernando Moura Peixoto (ABI 0952-C)
MEU CHALEZINHO VERMELHO por Zurica Galvão Peixoto (1914 – 2005)
Rio, 1940
 
Em um chalezinho vermelho,
Cercado de jasmineiros em flor,
Onde zumbiam as abelhas,
Foi lá que eu vivi
Sempre sozinha,
Sempre tristonha.
Distante, lá em Penedo,
Onde tudo era monotonia,
Tal qual num degredo.
 
Meu chalezinho vermelho,
Onde passei toda a minha infância,
Onde estive a chilrear
Com três outras avezinhas
A chamar: mamãe, papai...
 
Foram dias venturosos
Que ficaram para trás,
Poeira que o vento leva
E não traz nunca mais.
 
Mas, das quatro avezinhas
Do chalezinho vermelho,
Três partiram para longe.
E só uma ficou, triste,
Solitária como um bom monge.
 
Depois, no chalezinho vermelho
Não mais se ouviu
O gargalhar de vozes.
Tudo fazia denotar
Tristezas atrozes.
 
No chalezinho vermelho,
Suspenso no ar, muitas vezes
O meu pensamento ficava preso,
Sem saber como se libertar.
 
E, naquela sacada alta,
Voltada para as bandas do rio,
Era lá, isolada,
Que eu me punha a pensar.
 
O meu São Francisco imenso
Era meu bom confidente,
A quem, nas horas calmas do poente,
Cheias de profunda beleza,
Eu vinha contar as minhas mágoas,
Os meus anseios e tristezas.
E, quantas vezes, lágrimas
Pelas faces deixei rolar.
 
Ah, se as coisas materiais
Pudessem mesmo falar...
Muitas histórias o chalezinho vermelho
Haveria de relatar...
 
Mas não, prefiro-te assim, mudo,
Sempre assim, a guardar
A lembrança de um passado bom,
A guardar a eterna saudade
De uma infância venturosa.
A guardar os segredos de meus sonhos,
Que agora se despetalam todos,
Como o desfolhar de uma rosa.
 
Meu chalezinho vermelho,
Que foi tão meu...
Eu te queria tanto...
Mas, passaram os tempos,
E a nossa amizade arrefeceu...
 

ZURICA GALVÃO PEIXOTO (1914 – 2005)

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