Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

ELEICOES E POLITICA DOMINAÇÃO

O desrespeito dos Estados Unidos às experiências democráticas dos Estados-nação nas Américas parece perder força neste século XXI. Isso não se deve a mudanças na política externa da administração Obama, mas, em boa parte, à realização de eleições nacionais em circunstâncias de normalidade constitucional e à atuação de organismos regionais, criados sem as bênçãos da potência imperialista. As deposições dos presidentes de Honduras e Paraguai constituem casos excepcionais do golpismo outrora costumeiro no continente e foram firmemente contestadas. Recentes tentativas de desestabilizar os governos de Nicolás Maduro, na Venezuela, e Raul Castro, em Cuba, mediante apoio a ONGs e movimentos de oposição, não foram bem sucedidas.
Seria ingênuo supor que os interesses estadunidenses não adotam diferentes meios, além da intervenção direta, para seguir controlando o destino das nações americanas, as quais abrigam algumas das maiores reservas de água doce do planeta, como o Aquífero Guarany e a Floresta Amazônica, de petróleo e gás natural, de solo agricultável, entre tantas riquezas naturais.
 
Outro fator a considerar é que, hoje, formamos um promissor mercado, estimado em 934 milhões de habitantes; que o diga a China e seus esforços para penetrar em reduto que até pouco tempo era, em linguagem chula, o “quintal” da Casa Branca.
Na disputa, as instituições financeiras multilaterais pendem, obviamente, para o lado do principal mentor. Suas práticas abrangem prescrição de condições de empréstimo e difusão de ideias sobre desenvolvimento, sustentabilidade, governança e democracia, em busca de encobrir estratégias de domínio.
 
No jogo de poder, cada vez mais o confronto ocorre entre o multilateralismo neoliberal, liderado pelos Estados Unidos (NAFTA, Iniciativa Regional de Segurança para a América Central e Aliança do Pacifico), e o multilateralismo progressista abraçado por governos comprometidos com a transformação social, moderada ou radical (Mercosul, Unasul e Alba).
 
Este quadro mais amplo permite perceber o real significado das eleições de 2014 nas Américas: seus resultados influenciam o futuro tanto das sete nações que realizam pleitos presidenciais quanto dos organismos regionais, no tocante à continuidade ou ruptura da cooperação. A opção dos novos governantes por qualquer das iniciativas multilaterais passa pela análise das oportunidades econômicas e afinidades ideológicas. Chama atenção a variedade de combinações possíveis de desenvolvimento nacional, integração regional e inserção internacional, como também o repúdio a regimes ditatoriais e o debate sobre alternativas de gestão das sociedades.
Costa Rica e El Salvador abriram a agenda eleitoral, no mês de fevereiro. Trata-se de países que participam de tratados de livre comércio e seu alinhamento regional poderá sofrer uma reviravolta com a vitória de candidatos de esquerda, respectivamente, Solís Rivera, do Partido de Ação Cidadã, e Sánchez Céren, da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional.
Até outubro, a expectativa de reeleição movimenta o pleito na Bolívia, no Brasil e no Uruguai, onde opositores de tendência conservadora desafiam Evo Morales, do Movimento Ao Socialismo, Dilma Rousseff, do PT, e o ex-presidente Tabaré Vázquez, da Frente Ampla. Caso triunfem, é provável que as inovações em curso nas políticas sociais fortaleçam a capacidade de articulação dos três vizinhos e as iniciativas multilaterais progressistas.
Embora seja pouco lembrada por candidatos e eleitores, a política exterior, como observa Gramsci em seus dias de cárcere dedicados à leitura de Maquiavel, persiste sendo um elemento central para a conquista e manutenção do poder, ou seja, para a afirmação do Estado-nação.
 Mônica Dias Martins
Professora da UECE e coordenadora do Observatório das Nacionalidades

 
 Vilemar F Costa
Poderia ser a pessoa mais agradável do mundo, mas optei por ser eu mesmo. - Renato Russo                               Odeio almas estreitas, sem bálsamo, sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade. -Nietzsche   Eu de nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. (Guimarães Rosa)   
A alma, se quer conhecer a si mesma, deve olhar para outra alma” (Platão).
Não leio os poucos livros que leio pra entender nada, mas pra lhes roubar o que já me pertence.

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