Primeiras leituras: a Moody's agita o cenário eleitoral no Brasil.
A surpreendente decisão da agência de classificação de risco de revisar o rating do Brasil, mesmo sem intenção, faltando menos de um mês para as eleições, deu munições para os adversários de Dilma. Dilma e Marina botam os bancos no centro da arena.
Pelas razões apresentadas – inflação alta, crescimento baixo e deterioração fiscal – a agência de classificação de risco Moody’s tinha todos os chamados argumentos técnicos para fazer o que fez ontem: rebaixar a classificação do Brasil de estável para negativa, indicado que poderá rebaixar num futuro não muito distante o rating brasileiro.
A Standard & Poors já havia tomado esta medida antes, como sempre causando indignação do governo brasileiro em seu discurso padrão contra essas instituições.
Mas, na ocasião do movimento da S & P, a Moody’s deu sinais de que não pretendia seguir esse procedimento, principalmente depois que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, indicou oficialmente que o governo faria um superávit fiscal consistente este ano e anunciou um corte de R$ 44 bilhões no Orçamento.
O comando do Moody’s, inclusive, sinalizou que não pretendia tomar nenhuma atitude a respeito da classificação do Brasil em plena campanha eleitoral.
Estávamos então no auge da discussão sobre o risco que a economia brasileira corria de ser colhida por uma “tempestade perfeita”, expressão cunhada pelo ex-ministro Delfim Neto, na ocasião ainda um defensor da política econômica: seria uma pororoca trazida pela conjunção do rebaixamento das notas brasileiras pelas agências internacionais e o fim dos incentivos monetários do Banco Central (Fed) dos Estados Unidos. A ameaça, por enquanto, está diluída.
Por isso, os meios econômicos e políticos de um modo geral estão estranhando a decisão da Moody’s ontem, quando falta menos de um mês para as eleições, a presidente Dilma Rousseff está com sua recondução ao cargo seriamente ameaçada e o mercado financeiro mostra sensível tendência a torcer contra a presidente.
Reportagem de “O Globo” registra o tom da estranheza: “O momento dessa decisão da Moody’s é estranho porque ela foi tomada no ápice da incerteza diante das eleições e quando há perspectivas concretas de mudanças independentemente de quem vencer” (Maurício Molan, economista chefe do Santander).
Mas o mais surpreendido com a decisão, como registra “O Estado de S. Paulo”, foi o próprio governo. Em outras ocasiões teria saído com uma pedreira inteira contra a agência. Nas circunstâncias atuais, o Ministério da Fazenda saiu-se com uma nota apenas protocolar, atribuindo a situação citada pela agência a problemas conjunturais da economia nacional.
E a presidente Dilma, que costuma reagir com indignação a situações como essas, ainda mais vindas do “estrangeiro” limitou-se a dizer que o Brasil não tem problemas macroeconômicos. É mais uma demonstração de que o governo está mesmo na defensiva quando se trata da discussão econômica.
Pecados oficiais
Para mal dos pecados oficiais, no ‘Estadão” a diretora para a América Latina da Fitch, uma das três grandes do setor, Shelly Shetty, diz que o Brasil precisa de ajustes macroeconômicos, deixando implícito que sua instituição mais na frente pode seguir os passos de suas duas concorrentes.
A “opinião” da Moody’s está em linha com o sentimento dos brasileiros em geral. Segundo reportagem no “Valor Econômico”, a avaliação dos brasileiros sobre a economia azedou no último ano, registrando a maior queda de um grupo de 44 países pesquisados pelo instituto de pesquisas Pew Research Center.
A fatia dos que classificam como boa a situação econômica no país caiu de 59% no ano passado para 32% em 2014. Trata-se de uma parcela menor do que a dos principais emergentes, inferior a de todos os outros Brics, por exemplo. Na China, o percentual dos que dizem que a economia está bem é de 89%, enquanto na Índia está 64%, na África do Sul, em 51% e na Rússia, em 44%.
Dos entrevistados brasileiros, 85% apontam a inflação como um grande problema e 72%, a falta de oportunidades de emprego. A fatia dos brasileiros que vê a economia como ruim subiu de 41% para 67%.
É mais um arsenal de munições para os adversários de Dilma na corrida pelo Palácio do Planalto. E Aécio e Marina aproveitaram bem a deixa: a candidata do PSB falta em falta de confiança na política governamental e Aécio em fracasso.
Ensinam alguns estrategistas de guerra – e alguns técnicos de futebol menos covardes – que a melhor defesa é o ataque – para não ficar acuado e não perder a iniciativa.
E é esta a tática que a campanha da presidente Dilma Rousseff passou a utilizar preferencialmente desde ontem com grande intensidade contra a principal adversária, no retrato do momento da sucessão presidencial, a ex-ministra Marina Silva.
Em dificuldades para encontrar um discurso coerente sobre o caso Petrobrás, depois das revelações parciais da delação premiada do ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, a campanha da presidente resolveu mirar uma proposta da ambientalista considerada vulnerável em termos eleitorais: a de dar autonomia formal ao Banco Central.
Quem ouviu o horário eleitoral logo cedo ontem no rádio ou viu na televisão percebeu o teor do ataque: Marina foi acusada de querer entregar o Banco Central aos banqueiros e com isso prejudicar os brasileiros que não pertencem ao mundo das finanças.
Depois, quando Marina rebateu, também subindo o tom, acusando Dilma (e indiretamente Lula) de ser uma madrinha para os bancos, Dilma retrucou grosso dizendo que não é sustentada por banqueiro (uma alusão a uma das escudeiras de Marina, Neca Setúbal, da família que comanda o Itaú.
Curioso: durante oito anos de governo do PT, com Dilma no ministério, quem comandou o BC foi um ex-presidente do BankBoston.
Dilma deixou de lado, parece que de vez, o propósito de mostrar as realizações do governo petista e apresentar novas propostas como foco de sua propaganda. Pôs a faca nos dentes, como defendia uma ala de seu staff eleitoral.
E Marina também abandonou sua “incrível leveza”.
O embate de ontem veio antes, naturalmente, da divulgação da pesquisa CNT/MDA que traz uma boa notícia para a presidente: em um segundo turno, embora com Marina na frente, as duas estariam empatadas tecnicamente.
Não dá para fazer uma comparação exata entre as sondagens de diferentes institutos, porém este resultado de ontem difere dos mais recentes do Ibope e do DataFolha que davam Marina desgarrada de Dilma na segunda rodada.
O que se pode dizer olhando-se os dados para o primeiro turno, de fato, é que houve uma acomodação dos eleitores depois da primeira onda Marina. Ele parece estar “meditando”.
São imprevisíveis os efeitos desse clima de agressões mútuas, com ameaças de golpes abaixo da cintura, instalado entre Marina e Marina e Dilma, sobre os eleitores. Há indicações seguras de outras eleições de que o excesso de agressividade costuma ser um tiro pela culatra.
O Ibope soltou ontem pesquisas sobre a disputa de dois governos estaduais. Em São Paulo, Geraldo Alckmin com 48% caminha para definir a eleição no primeiro turno, contra os 18% de Paulo Skaff e os 8% de Alexandre Padilha.
Definitivamente, a “nova” aposta de Lula, em São Paulo, revelou-se um fracasso. Fracasso que pode gerar duas conseqüências paralelas: diminuição dos votos de Dilma Rousseff no Estado eleitoralmente mais robusto do país e uma redução da bancada do PT na Câmara Federal.
Sem falar na complicação para a reeleição de Eduardo Suplicy para o Senado, no retrato do momento atrás do tucano José Serra, embora dentro da margem de erro admitida pela pesquisa.
No Rio, registra-se o crescimento do ex-vice-governador e governador em exercício (portanto, disputando a reeleição) Luiz Fernando Pezão, que encostou no rival do instante, o ex-governador Anthony Garotinho, e deixou para trás também os dois outros adversários que no início da corrida estavam à sua frente – Marcelo Crivella e Lindbergh Farias.
O segundo turno é certo e, na simulação do instituto, Garotinho está na frente, embora seja o mais rejeitado pelo eleitor.
No Rio também a roleta não vai dar o número de Lula.
Tanto em São Paulo como no Rio, a eleição presidencial está descolada na sucessão presidencial. As duas candidatas que lideram a corrida para o Palácio do Planalto não têm candidatos competitivos nos dois lugares. Formalmente o PSB, da coligação de Marina, está coligado em SP ao PSDB, porém a ambientalista renegou esse acordo. No Rio, formalmente Dilma tem palanque com Pezão, mas ele não é o candidato do petismo, partido da presidente.
Assim está também no resto do país. É fato que nunca houve uma convergência, no Brasil, entre o voto federal e os votos estaduais Os arranjos locais é que costumam prevalecer, com exceções.
Este ano, no entanto, a prevalecerem as tendências apontadas pelas pesquisas realizadas por distintos institutos, o divórcio deverá ser muito maior. E, segundo um apanhado feito pela “Folha de S. Paulo”, os maiores vencedores nos Estados poderão ser, pela ordem, o PMDB e o PSDB.
O partido de Marina só disputa a liderança em dois lugares – Pernambuco e Roraima. Em 2010 o PSB fez seis governadores.
O PT tem cinco nomes nas primeiras colocaçoes, mas poderá não emplacar em alguns deles e pode perder lugares vitais como Bahia e Rio Grande do Sul.
O PSDB, na outra ponta, tem cinco lideranças e deve manter a jóia da coroa, São Paulo. Já o PMDB pode sair das urnas estaduais com entre seis e oito governadores, com chances de manter o Rio.
O PT para não ficar fora dos maiores centros eleitorais e do Sul e do Sudeste, terá de confirmar o favoritismo, até agora, de Fernando Pimentel em Minas Gerais e torcer muito para Tarso Genro, no Rio Grande do Sul, sair da segunda colocação que ostenta desde o início das pesquisas este ano.
- EDUCAÇÃO - O número de alunos se formando em graduação no Brasil caiu 5,65% entre 2012 e o ano passado. É a primeira redução desde 2002, quando a série histórica começou. Segundo o censo do ensino superior, 991 mil estudantes concluíram o curso em 2013. No ano anterior, foi 1,05 milhão. Os dados consideram tanto cursos presenciais como à distância. Em números absolutos, as maiores quedas se concentram nos cursos presenciais de instituições privadas e estaduais e no ensino a distância das federais. A condição financeira do aluno e a mudança de curso após o ingresso na faculdade estão entre os fatores apontados pelo setor privado para esse movimento.
. O investimento médio por aluno no Brasil é um terço do de países ricos, de acordo com estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Segundo a organização, o Brasil gasta cerca de US$ 3.000 por ano por estudante, mesmo nível de países como Turquia e México. A média dos países mais ricos é de US$ 9.487 por aluno.Áustria, Dinamarca e Noruega gastam mais de US$ 10 mil e lideram o ranking. O estudo analisou dados dos 34 países mais ricos do mundo e de 10 em desenvolvimento. Os números são de 2011. Proporcionalmente ao tamanho da economia, o Brasil gasta mais do que a média da OCDE --6,1% do PIB contra 5,6%.
- PETRÓLEO - A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, revisou suas projeções e cortou em quase 600 mil barris diários as estimativas de produção de petróleo no Brasil para os próximos dez anos. Os dados da versão preliminar do Plano Decenal de Energia (PDE) 2014-2023, colocada ontem em consulta pública, continuam a indicar um crescimento expressivo da indústria de óleo e gás no período. O tamanho da produção nacional, contudo, foi reduzido em cerca de 11%. (“Valor”)
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