Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A FRONTEIRA DA TRANSMISSÃO DO SABER


A FRONTEIRA DA TRANSMISSÃO DO SABER

Aluisio Gurgel do Amaral Júnior,
da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo

A quantidade de aparelhos de telefonia móvel no Brasil atingiu a marca de 273,58 milhões de unidades vendidas, enquanto a população brasileira na atualidade está quantificada em 206 milhões de habitantes. Se está claro que em 15 anos a telefonia móvel ultrapassou a densidade demográfica brasileira, então o que devemos esperar dos próximos 15 anos? No mínimo a duplicação do número de aparelhos, agora com um incremento bastante positivo: a completa acessibilidade à internete -- e por "completa acessibilidade" refiro à navegação 4G em banda larguíssima, capaz de permitir o fácil e rápido trânsito de vídeos com excelentes taxas de compressão de mais de 4 horas de duração. Em outras palavras, refiro-me à transmissão de aulas inteiras sem a menor dificuldade. Este fenômeno vai impactar diretamente na relação ensino/aprendizagem. 

Muito provavelmente veremos o fim da sala de aula como a conhecemos na atualidade. Ela será substituída por uma sala virtual acessível através do aparelho de telefonia móvel. O estudante simplesmente plugará o fone de ouvido e assistirá o conteúdo "on line" esteja onde estiver. O professor terá o conforto da sua casa para preparar o material pedagógico e transmiti-lo a qualquer momento, sem necessidade de sincronia -- as aulas estarão à disposição do estudante assim ele queira e seu tempo de estudo será de sua responsabilidade. Eventuais dúvidas serão esclarecidas através de videoligações via "skype", "FaceTime" ou outro aplicativo que esteja na moda no futuro. Até aqui a realidade projetada parece muito bem arranjada, mas falta uma ponta importantíssima do nó que deve ser adequadamente atada: o sistema de titulação do estudante. Como o estudante será certificado em seus estudos?

Talvez a maior ruptura do sistema esteja precisamente aí. A educação deixará de ser o sistema rentável que atrai o interesse da iniciativa privada. Completaremos um ciclo inevitável e retornaremos à idéia da antiga professorinha do bairro, mas com características que atribuirão aos professores do futuro alguns "superpoderes" até então inimagináveis, por assim dizer. O professor do futuro avaliará seu aluno diretamente junto ao portal da educação. Ao final do curso, vale dizer, completada a carga horária da sua disciplina, o aluno experimentará aprovação ou não. Aprovado, será certificado no seu registro; reprovado, será encaminho a outro professor para repetição do programa da disciplina. Sua titulação advirá do apostilaremos virtual do número de disciplinas em suficiência para a aquisição do título. Será mais ou menos assim tanto no ensino fundamental, quanto no ensino médio ou superior.

A adoção do novo paradigma educacional importa na admissão da telefonia móvel como seu fundamento essencial, algo que as operadoras já sabem desde que se iniciou o processo de pavimentação da estrada da informação. O problema  consistia na redução dos custos das pesquisas para comportar miniaturização, altas velocidades e temperaturas elevadas. A equação de difícil solução era atingir altas velocidades de transmissão de dados em nanoespaços sem que a colisão de partículas elevasse a temperatura e inviabilizasse o processo. Hoje em dia tal dificuldade já se acha completamente superada e tudo coincide com a instalação de cabos óticos ao redor do mundo, ao mesmo tempo em que as pesquisas apontam vertiginosa elevação da capacidade de negociação de dados via satélite. Tomados em conjunto, estes elementos desenham o inevitável futuro da educação através da telefonia móvel.

Por óbvio, a socialidade da sala de aula dará lugar a um novo tipo de socialidade que ainda está em construção, mas que já manifesta suas primeiras características -- hoje pela manhã, alguém que havia perdido um aparelho de telefonia móvel já havia adquirido outro, já havia recuperado o número e reclamava da sensação de solidão e desalojamento social que experimentou durante o tempo em que permaneceu "fora do ar." Em seguida, sabendo que sou do tempo que antecede à telefonia móvel, não fez qualquer cerimônia para me perguntar como fazíamos para ajustar horários uns com os outros, marcar encontros e tudo o mais. Naturalmente caiu em espanto quando informei que não tínhamos outro meio senão a telefonia fixa e que, antes dela, éramos capazes de mandar recados por bilhetes, cartas e até através dos programas diários nas rádios locais de assídua audição. Pois é a esta nova socialidade nascida e crescente a que me refiro!

Nenhum comentário: