Regina
JOSÉ
ALBANO
(* 12 de
abril de 1882 Fortaleza
+ 11 de junho de 1923 Paris)
Dona de formosura peregrina,
Soberba, soberana, poderosa,
Passa a rainha altiva e majestosa,
E humilde a corte em derredor s’inclina.
Arfa-lhe o lindo colo que alucina,
Brilha a constelação
maravilhosa
Dos olhos – e viceja a doce rosa
Dos lábios, perfumada, purpurina.
E passa a linda e encantadora imagem,
E oscila a lampejar, etérea e ardente,
De sua vista a estranha luz fatal.
E o solitário e
apaixonado pajem
No coração, morto de amores, sente
Daqueles negros olhos, o punhal!
A curva do Destino
JOSÉ PIRES
(Jornalista
– O Estado, A Razão, Gazeta de Noticias)
Some-se
a estrada nas floresta turva,
Onde
o sol ao cair no chão parece
Transforma-se
em estrelas... Sobe e desce
Os
alcantis da serra, numa curva.
E
eu subo e desço e sinto que se enturva
No
mistério da volta, no interesse
Do
inexistente, a sacrossanta messe,
Promissora,
da estrada que se encurva...
O futuro é uma curva que se lança
No
infinito das sombras... tendo o luto
Do
presente e as promessas da esperança.
Louco viajor, caminho resoluto!
Sigo...
Mas sinto a mágoa que balança,
Incógnita
na curva de um minuto...
O
Destino
J.
ALBERTO
(Jornalista – Correio do Ceará e Gazeta de Noticias)
O
sujeito é um sujeito irreverente,
A
zombar, todo instante, dos mortais:
Ora
os conduz, em triunfo, para a frente,
Ora
os tange, vencidos, para trás...
E,
à força de mostrar-se onipotente,
Vejamos
nós o que o Destino faz:
– Humilha o que valor possui, realmente,
– Exalta
o que valor teve jamais...
Não
é o mérito o preço da ventura.
O
êxito humano está na curvatura
De
uma espinha dorsal ante o MILHÂO...
Porém,
se hás de ascender assim na vida,
Prefere
tu, mil vezes, a subida
Honra
de te arrastares pelo chão!
Margarida
J. FERNANDES
(Jornalista – Gazeta de Noticias e O Estado)
Muitas
vezes sonhei que, no jardim da vida,
Havia
de apanhar a rosa desejada;
E
quando lá cheguei, com minh’alma iludida,
Quis
colher no rosal a flor enamorada.
Mas
foi tudo ilusão, esperança perdida!
A
flor que eu desejei, a flor mais perfumada
Que
eu sonhara alcançar, foi, ela, Margarida!
Partiu.
E nunca mais olhou-me apaixonada...
Que
flor celestial! Que flor mimosa e pura!
Num
beijo ela me trouxe o Amor e a Esperança...
Na
vida ela me deu ventura e desventura.
Que
me resta, afinal, nas cinzas da amizade?
–
Daqueles tempos bons, só tenho uma lembrança
–
Do nosso grande amor só resta uma saudade!
Engenho Livramento
LOSÉ VALDEVINO DE CARVALHO
(Jornalista – O império e Gazeta de Noticias)
É o
sítio que recordo, quando em quando,
Jardim,
saudoso, de arvores risonho...
Éden
querido; me aparecem em sonho
Seus
mangueirais tristonhos ramalhando...
A
casa, o engenho, o canavial tristonho,
O
rio, a serra, o coqueiral pensando...
Na
saudade de tudo, recomponho
A
orquestração dos pássaros cantando...
É
ele que minha alma, em vão, procura,
Que
meus olhos saudosos querem ver,
Numa
ânsia de cor e de amargura...
Meu
espírito, a chorar, braceja, a esmo,
Procurando,
na angústia do meu ser,
Este
resto distante de si mesmo...
A Árvore Apedrejada
JÚLIO MACIEL
(Poeta e Magistrado)
Essa
árvore da estrada, aos céus a fronde opima,
As
raízes ao chão, na labuta sagrada,
Tem
sempre a fronde oferta a que se lhe aproxima
E a
seu tempo dá flor – pesar de apedrejada!
Sonhador
pertinaz, veterano da Rima,
Que
exemplo, para ti, nessa árvore da estrada!
–
Se o teu sonho te escuda o e teu estro te anima,
O
insulto é inofensivo e é perdida a pedrada.
A
Árvore-símbolo eu lhe rendo o meu tributo,
E
me conforto quando, em meio à audaz peleja
Travada
em prol do sonho, os ápodos escuto.
Amo
a árvore fecunda, a mater benfazeja,
Que
continua dando a sombra, a flor e o fruto,
Indiferente
à mão que os galhos lhe apedreja...
O Velho Poeta
JUVENAL GALENO
(Fortaleza – 1836 – 1931).
Se
vires um poeta encanecido,
Dos
amigos doutrora abandonado,
Sem
vista para ler, mas, conformado;
Da
rua nas palestras esquecido...
Na
cidade natal desconhecido,
No
país em seus versos celebrado,
E
entre o povo, por quem fora escutado,
Muitas
vezes, então, desvanecido...
Ai!
Sou eu que, morrendo nos meus lares,
Deixarei
Omo herança à pátria amada
Minhas
Cenas e Lendas Populares...
E
voando das almas à pousada,
De
lá espero ouvir os meus cantares
Consolando
a pobreza malfadata.
Renúncia
LEÃO DE VASCONCELOS
(Advogado e Poeta)
Uma
noite (recordo-me) disseste:
“Vai
e não voltes a cruzar-me a vida...
Tudo
está findo entre nós dois... olvida...”
E
para o último adeus a mão me deste.
Senti
cair na fronte enfebrecida,
Um
mundo, nessa noite, aziaga e agreste.
Nunca
mais me esqueci do que fizeste,
Ó
enganadora terra prometida...
Livre
devias ser e não como eras!
Mas
porque foi que sem poder amaste
E
abriste aos sonhos meus tantas quimeras?!
E
sem te compreender, indago, triste:
–
Se não querias, para que chegaste?!
–
Se me querias, para que fugiste?!
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