MEMÓRIA
Sylvia Leão
Aquela voz redundou
no mais antigo
dos meus corações.
Surpreendi-me,
pois aqueles tempos,
em tamanha ânsia
de serem acordados,
não os sabia.
A falta dele-
que eu não sentia
que sentia tanto-
estrondou amantíssima
e brutal, por todos os lados
do meu dentro.
De repente, meu ouvido infante
se pôs na ponta dos pés,
com a memória grudada
na antiga estridência
do "rádio de pano".
Assim, subitamente
amiudada, não era mais eu, quem ouvia;
nem era mais o locutor, quem falava.
A minha alma não se conteve,
desabei no choro!
Sim, uma das minhas tantas almas órfãs,
aquela de um pai, ainda tão precisada,
foi despertada às dez horas da noite,
morrendo de fome.
Naquela voz,
fartadas se aninham,
as minhas memórias
de leite.
Para o meu amigo, Vicente Alencar,
porque me devolveu o meu pai.
Sylvia Leão
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