Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Geraldo Holanda Cavalcanti em O Rapto de Europa

Geraldo Holanda Cavalcanti em O Rapto de Europa (1950)

Post do blog Geraldo Holanda Cavalcanti em O Rapto de Europa (1950) foi atualizado.

29 janeiro, 2014 - 14:18 - Diego Mendes Sousa

Poeta Geraldo Holanda Cavalcanti

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Na juventudeGeraldo Holanda Cavalcanti flanou pelo velho mundo e ofertou O RAPTO DE EUROPA (1950), uma bela obra feita de aprofundamentos linguísticos, tanto em versos livres, quanto em sonetos, que demonstram a evolução do Poeta.
A poesia de Geraldo Holanda Cavalcanti  é irmã da poesia de Carlos Pena Filho, seu contemporâneo, conterrâneo e amigo. Embora em esferas distintas de linguagem, ambos representam o melhor da poesia de Pernambuco na segunda metade do século XX, antecedidos por Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto.
 
(Carlos Pena Filho)



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Preciso fora nuvens perseguir
para entre extintos mares encontrá-la
e halos e luas de escondidos mapas
entre frisões buscar preciso fora
 
Preciso fora olhá-la entre os jacintos
mais loura do que os braços das auroras
para escutar a noite aprisionada
sob o inocente ocaso de seus mastros
 
Passado imerso, infância refreada
nas cancelas de grutas perfumadas
para aquecê-lo em retardada hora
 
que o sol mudasse e os trópicos ferissem
história e sangue de apartadas eras
que te buscasse aqui preciso fora
 
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Me despeço de ti, Senhor
nesta tua casa de sombra e de silêncio
Vim te buscar, ainda uma vez, pensando
que destas aras, onde escondeste teu oráculo
me enviarias o sinal que em vão esperei
dos altares de Olinda
Parto com o teu silêncio impassível
Tua misericórdia não me alcançou
No hard feelings
Jejuno da carne por tuas dores
que me deveram salvar
deste-me o dom maior das tentações do espírito
e com elas sigo, livre agora
para a aventura da vida
 
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Mais que perfeito amor o nosso fora
se a ti mais que desejo te fizera
e a meu encontro agora te trouxera
 
Com que convulso ardor te consumira
e de molhados beijos te cobrira
se em meu leito desfeito te encontrara
 
Mas que feição terias se tomara
com estas mãos teu rosto, se despira
o teu busto, que gostas descobrira
 
que perfume em teus braços, se quisera
sorver-te como quem se desfizera
sumir-se em ti como se a morte fora
 
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Não te levei flores nem bombons
Esquivando-me dos guardiães da tua e da minha saúde
(tinha tifo, diziam), eu te levei somente meus olhos sem cor
minha inocência e minha dor
minha perplexa confusão diante do mistério
da beleza e da morte
 
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Fiquemos calados, querida
se é o amor tão evidente
o que acossa nossas bocas
 
Pois que palavra mais rica
do que a lúcida sintaxe
que maneja nossos corpos?
 
Roça tua pele e tua vida
e em nosso silêncio explodem
cometas enlouquecidos
 
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Diurno... querida
 
pois tuas mãos me queimavam
teus olhos cavavam o meu rosto
como sóis perdidos
e teus dentes feriam-me a boca
como esporas de vidro
 
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De entre passado e bruma apareceste
para esquentar-me a noite com teus olhos
mas somente promessas me tens dado
e nem um gesto me assegura a espera
 
Por isso penso às vezes que és mentira
e se distância e mares tu venceste
deixaste o medo caminhar contigo
 
Mesmo assim te bendigo pois trouxeste
com teus faróis noturnos a esperança
longe perdida em trópicos de infância
 
Hoje, porém, temor me desconcerta
perdem-se as rotas na neblina avara
e se as amarras de meu barco solto
não sei se à vida ou ao sonho a onda me leva
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Penso em ti
e rios se desabam
pulsam avalanches
nos meus dedos
Musa, maga
duquesa
e se te vejo
cercada dos suitors que desprezas
comparto irado
o desejo que espalhas
e a tua volta
incendeias
 
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(Além de renomado Poeta, Geraldo Holanda Cavalcanti é ensaísta, tradutor e diplomata de carreira)
 
Debruçado em segredos procurava
encontrar diamantes de alquimia
assim perdeu miragens e harmonias
que de seus magros tubos se evolavam
 
e se fantasmas ou sombra percorria
seus corredores ou insensatas magas
recolhia o desejo e mergulhava
negros olhos nas velas galerias
 
Um dia foi mais lento que os receios
e descobriu deitada entre as retortas
branca figura de enfunados seios
 
Esqueceu palimpsestos e incunábulos
fechou cortina e desprezando a aurora
encontrou na velhice o filtro de ouro
 
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Inventas portas, esquinas, guarda-chuvas
para esconder de meus olhos de mouro
a porcelana fina de teu rosto
Te sigo por jardins e corredores
agrilhoado a teus cabelos louros
incapaz de esquecer-te ou de deixar-te
Te esquivas, mas descobres, se te perco
como outra vez lançar-me de soslaio
e teu rastro seguir mesmo sem ver-te
Mas se o acaso nos joga frente a frente
sou eu quem, tartamudo, se desprende
e te foge infeliz e temeroso
 
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Desmembrado fiquei quando partiste
tateando nas ruas do presente
de teu passado o eco; desfizeste
porém, teus rios, meus caminhos
 
Tão parco me fiquei com tua ausência
que a própria dor de te perder se exaure
privada da energia que o tormento
de tanto amar-te renovava em mim
 
Temo esquecer-te por cansaço um dia
acostumar-me à amputação que sofro
minha vida empobrece e me amesquinha
 
Sou o que sobra de mim; já sem que existas
para dares sentido ao que me resta
nada nem quero ou espero desta vida
 
 
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Poemas de Geraldo Holanda Cavalcanti
Minuta de Diego Mendes Sousa

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