Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

LANÇAMENTO DO LIVRO DO PROF. JOSÉ ARTUR DE CARVALHO.


LANÇAMENTO DO LIVRO DO PROF.
JOSÉ ARTUR DE CARVALHO.   

DISCURSO DE SAUDAÇÃO:-
Palavras de Hélder Lopes Gurgel por ocasião do lançamento do livro GRAU COM PISTILO - vida e obra do professor farmacêutico José Arthur de Carvalho, em 16 de janeiro de 2013.

Começo com a frase contida logo no início do livro GRAU COM PISTILO - vida e obra do professor farmacêutico José Arthur de Carvalho, organizado pela minha prima professora Terezinha de Carvalho Holanda com a participação prestimosa do nosso primo jornalista José Silva Gurgel Nogueira, que hoje é lançado.  Traduz o objetivo da obra, ao assinalar: “Transmitir aos leitores uma mensagem de fé e altruísmo, dando-lhes um testemunho sublime de que o sentido da vida está em Fazer o Bem”.
Portanto, pretendo focar a análise da obra como o espelho do que foi a rica vida de José Arthur de Carvalho.
Afasto-me do formalismo protocolar exigido em momentos como este para, com a vênia da simpática plateia, oferecer-lhe o sentimento de alguém, como eu, que teve a subida honra de com ele conviver.
Os senhores e senhoras verão na última página escrita do livro uma despretensiosa, mas instigante definição:
“A simplicidade é a característica básica dos homens bons, que, a rigor, têm pouco egoísmo e em geral são bastante humildes.
Quase sempre, no decorrer da vida, tornam-se demasiadamente amigos do próximo e devotam sublime amor à natureza e ao seu Criador.
Por essa força excelsa e sã, tornam-se cada vez mais morigerados e quase chegam a desconhecer os excessos e o luxo. Conformam-se com o pouco que possuem e praticam instintivamente a caridade, dividindo com os mais carentes o pouco que possuem.”
Foi deixada exatamente pelo Zearthur.
Parece que escrevia sua autobiografia, pois, somente as frases acima seriam bastante para sintetizar o que foi, em vida, o homenageado.
Alguns dos presentes neste auditório o conheceram no seu duplo ofício de farmacêutico e professor; outros gozaram do seu convívio por laços de amizade; talvez outros o tenham escutado ao piano, floreando com arranjos próprios melodias imortais, mas os que tiveram a excepcional dádiva de o conhecerem na sua essência, os seus familiares e parentes, hoje comovidos, mas alegres, vivendo este momento de honraria e recordação, inquietam-se por proclamar a todos os outros a experiência que tiveram com a humildade, amor a Deus e ao próximo através da caridade ao conviverem com esta extraordinária personagem. A Terezinha e o Gurgel facilitaram isto para nós ao reunirem sentimentos em forma de palavras neste livro de prazerosa leitura.
Qualquer outro de nós faria esta apresentação com mais propriedade que eu, mas, por certo, me roubaria a emoção de declinar-lhes a grande admiração que tenho pelo Zearthur, herança de uma intercessão de vidas, aproximadas pelo parentesco e pela vizinhança, acrescida pela imitação do bem-querer que o meu próprio pai, Plácido Gurgel, lhe dedicava.
Por certo autorizado pelos senhores e senhoras presente, faço as minhas palavras descerem à simplicidade das declarações emocionadas, fruto de uma sentimental visita à infância/adolescência.
Começo contando-lhes que “alguma coisa acontece no meu coração” quando cruzo a Avenida da Universidade, ao meu tempo Visconde do Cauípe, com a Rua Pe Francisco Pinto, no nosso querido Bairro da Gentilândia.
Naquela esquina ficava a Farmácia Arthur de Carvalho e dela se via a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios que, para todos nós, era o portal do céu e a agenciadora de nossas ações cristãs. Dei conta, somente agora, desta feliz coincidência (providência, na avaliação dos mais crentes): a farmácia olhando para a casa da Senhora dos Remédios.
Subindo a Rua Padre Francisco Pinto até a Rua São João do Tauape, hoje João Gentil, numa manhã de domingo dos anos cinquenta, encontro uma fila de gente na porta da casa do Zearthur – eram pessoas desvalidas, algumas esquálidas, mães com crianças ao colo, sem dúvida incapazes de conseguirem atenção médica numa época em que o SUS sequer era sonho, socorrendo-se da caridade daquele benfazejo homem que as atendia com amor e as despachava com o medicamento necessário à superação de seus males, muitas vezes preparados pelo próprio artífice.
É QUE O ZEARTHUR era um vocacionado farmacêutico, por tradição familiar, acontecida em cascata desde o seu avô, que nos deixou até hoje, as milagrosas Gotas Arthur de Carvalho. Pela vontade de servir ao próximo, abraçou a arte galênica, que exerceu em plenitude na farmácia, no serviço público e na docência em que se houve com elogiável desempenho.
Neste último mister, sendo um estudioso dedicado, não se conteve em ter para si o conhecimento e motivou-se a dividi-lo com os futuros farmacêuticos nos bancos e laboratórios da Faculdade de Farmácia, havendo contribuído para a formação de profissionais que guardam-lhe honrada memória e carinhosa recordação.
Saltando um pouco no tempo, retorno à Padre Francisco Pinto, a meio caminho para a farmácia, onde encontro o sítio urbano no qual o Zearthur alojou-se com a numerosa família – Deus o abençoara, pela sua abertura à vida, presenteando-lhe com nove filhos.
Naquela ampla casa rodeada por exuberante natureza habitava a alegria, filha do amor, que saltitava embalada ao som emanado do teclado dedilhado pelo Zearthur ou de alguma de suas radiolas – sempre músicas de refinado gosto.
É QUE O ZEARTHUR, farmacêutico e professor, era também musicista exímio, compositor doméstico de duas centenas de músicas, e festejado concertista que encantava plateias em saraus e solenidades. Ouvi-lo tocar era lenitivo para as dores que a vida nos punha e deleite para os nossos corações apaixonados. Deixou de tornar-se músico famoso quando optou por continuar aqui, fiel às origens, à família e aos fazeres, no tempo em que os Vocalistas Tropicais, dos quais foi fundador, alçaram voo para o Rio de Janeiro e para os píncaros da fama. A virtuosa interpretação de algumas de suas composições pelo coral e orquestra, na abertura deste encontro e as palavras elogiosas do respeitável maestro Poly, aqui proferidas, autorizam qualquer certeza de suas qualidades musicais.
Mas voltemos às recordações. Daquela casa partíamos, nos finais de semana dos anos sessenta, de cadilac, aero-willis ou rural, sequência automobilística histórica, para a aventura da pescaria, outra das paixões do Zearthur, nas inabitáveis praias do Futuro e Sabiaguaba ou nas pedras da então bucólica Praia de Iracema. Nestes momentos o peixe (geralmente bagre) tinha muito menos valia que a curtição do encontro com a natureza e o convívio familiar. Desconfio, hoje, que a pescaria era sorrateiramente usada para que os filhos e os “penetras” crescessem em afeto fraternal.
De outras vezes, partíamos da casa mãe para o sítio na Lagoa Redonda, seu bucólico lugar de reparação do cansaço por tanta vida batida e vivida entre graus e pistilos, livros e pesquisas, aulas magistrais e práticas e uma grande empatia com os alunos e discípulos na faculdade.
É QUE O ZÉARTHUR, como fiel devoto de São Francisco, amava desesperadamente a natureza e as criaturas de Deus.
Como para completar o adágio popular sobre a completude do homem, ele, que já havia tido muitos filhos e plantado incontáveis árvores, encontrou tempo para nos deixar sabedoria impressa com o seu livro “Retalhos do Cotidiano”, publicado em 1982.
Convenhamos, uma vida plena assim não se vive sozinho. Subvertendo o dizer popular, que, de forma machista, põe a mulher atrás do grande homem, o Zearthur tomou para o seu lado, como esposa amada e ajudadora, uma grande mulher, Maria Carmen. Pois, como está escrito, Deus concedeu ao homem um complemento inteligente e eficaz. Sozinho o homem é incompleto para cumprir o propósito de Deus. Homem e mulher formam, juntos, uma unidade completa para multiplicar-se e encher a terra. A mulher, de seu lado, deve usar sua inteligência, capacidade e experiência buscando um objetivo comum com o marido. Ser unida e solidária a ele, uma vez que o marido necessita ser ajudado em sua sensibilidade. Precisa de ânimo, compreensão, sorriso, aprovação e cooperação em tudo quanto faz. A experiência de um matrimônio invejável de 47 anos nos faz acreditar que sua amorosa Maria Carmen é coautora da encantadora vida de seu marido.
É QUE O ZEARTHUR, para completar o tudo que foi e fez, formou com sua amada esposa um exemplar casal e uma prole que hoje perpetua em suas vidas a experiência de amor que tiveram na animada casa da Rua Padre Francisco Pinto
Amigos e amigas, quis lhes inquietar para conhecerem melhor a extraordinária figura que é lembrada neste livro.
É QUE O ZEARTHUR, retratado aqui, por esta despretensiosa peroração e nas deliciosas páginas do livro Grau com Pistilo, tem muito mais a nos oferecer do que a sua aplaudida carreira de farmacêutico e professor. Sem que ele haja planejado, em sua existência interrompida há quase vinte anos, deixou-nos uma extraordinária lição de vida que dispensa a leitura de qualquer obra de autoajuda.
Quanto ao livro que levaremos para casa, valho-me das palavras de meu antigo professor e mestre Francisco das Chagas Tito, ícone da Odontologia cearense, contemporâneo e amigo do Zeathur, ao apresentar, em 1982, o livro escrito pelo homenageado, Retalhos do Cotidiano, sintetizando o âmago do autor da seguinte forma: “O livro, no seu todo, representa uma alma boníssima, revela o sentimento delicado de quem deseja servir, de quem visa a difundir bondade, harmonia e paz”.
É QUE O ZEARTHUR ERA ISSO MESMO!

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