Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

POR UM FIO Margarida Alencar


POR UM FIO
Margarida Alencar
(Da Academia Camocinense de Ciências, Artes e Letras – ACCAL)

Férias, enfim! Nem acredito que estou de férias.
Depois de muito pensar, resolvi aceitar o convite de minha amiga Alice, e passar uns dias em sua casa, a casa de seus pais, no interior do Estado.
Arrumamos nossas valises e fomos de trem. Que ótima viagem!
Chegamos à noitinha, e todos de casa foram nos esperar na estação bem iluminada.
Muitos abraços, beijos e chegamos em casa. Após colocarmos os assuntos em dia, jantamos e fomos dormir.
Acordamos cedo e fomos caminhar um pouco, à beira da praia.
Ao voltarmos, todos já estavam nos esperando para o café.
O dia passou rápido, sem nada para fazer e, à tarde, fomos dar uma volta pela cidadezinha.
De repente, Alice me convidou:
– Vamos ao hospital, pois eu soube que lá está uma grande amiga minha.
– Claro, vamos logo.
Ao chegarmos lá, fomos à recepção, e a encarregada nos informou que o caso da amiga de Alice era bem complicado, mas nos autorizou a ir até o apartamento dela.
Quando chegamos à porta, um médico foi saindo às pressas e dizendo:
– Ela precisa de uma transfusão, urgentemente, alguém aqui tem o tipo de sangue O+?
Todos responderam que não, e eu, como que sonhando, disse que tinha, sim.
O médico sorriu e disse:
– Então, mocinha, você já teve hepatite?
Respondi negativamente.
Venha, venha, que a moça está precisando do seu sangue.
Vi-me levada para o apartamento e deitada em uma maca. Imediatamente, o doutor improvisou – colocou uma agulha com borracha no meu braço esquerdo e a outra ponta, com outra agulha, no braço da doente.
– Pronto! Ela está salva graças a você, mocinha.
A “mocinha” de quem ele estava falando era eu. Eu? Sim, acho que o meu sangue está salvando aquela doente.
Que coisa estranha!
Trinta minutos depois, o doutor tirou as agulhas, pediu que eu me levantasse, vagarosamente, e tomasse um suco de laranja, que já estava ali, ao lado.
Assim fiz e, meia hora depois, estava saindo do hospital, totalmente refeita.
Ao chegarmos à porta, duas senhoras nos alcançaram.
– Moça, você salvou minha filha, o doutor disse que ela agora já pode se recuperar. Muito obrigada, muito obrigada mesmo.
– Não há de que, senhora.
E saímos, Alice e eu abaladas com o desenrolar dos acontecimentos.
De repente me dei conta:
– Alice, e eu nem sei como se chama a moça para quem acabo de doar sangue!
– Maria José, é Maria José o seu nome.

MARGARIDA ALENCAR – Advogada, pertence à Academia Camocinense de Ciência, Artes e Letras – ACCAL, sendo autora do livro de contos “Sombras na Parede”. É sócia Honorária da ALMECE e colaboradora dos jornais Correio Cearense e Café Literário. Coordenadora do Movimento Cultural Terça-Feira em Prosa e Verso que se realiza em Fortaleza desde o ano 2000. Escreve crônicas e artigos. A poesia também é exercitada com produção em menor escala. Cultiva desde a infância o hábito de ler, admirando grandes autores nacionais e do exterior.

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