MINHA FORTALEZA AGREDIDA
Vicente
Alencar
(Vice-Presidente da ALMECE)
Conheci a minha Fortaleza, dos meus
amores e meus arroubos, muito criança, a partir dos 7 anos de idade, pois, a
dorminhoca cidade de 500 mil habitantes, ainda, desabrochava para a vida. As
ruas, segundo “Minhas Lições”, do professor Filgueiras Sampaio, “eram belas e arborizadas”. E eram
mesmo. Tínhamos a Floriano Peixoto, Major Facundo e muitas outras, com os fícus
– benjamins que deram um colorido todo especial, principalmente, nos dias de
muito sol, notadamente no segundo semestre do ano, quando, exceto a “chuva do
caju” atravessávamos uma canícula muito grande.
Mas, Fortaleza tinha o ventinho bom,
que vinha da Praia, que invadia todas as ruas, que por ali começavam e, a prova
maior era que na Praça do Ferreira o vento não deixava em paz as saias
femininas. Tinham que ser seguras para não fazer a alegria dos olhos
masculinos, sempre dispostos a enxergar um pouco mais...
Hoje, minha cidade está bem diferente
daquela. Os anos 50 e 60 foram superados pelo progresso inclemente, que nos dá
crescimento de alguns pontos e nos rouba outros, principalmente, aqueles que
são lembrados mais com o coração que, mesmo, com o cérebro.
Nós, que conhecemos, naquela época, a
avenida Santos Dumont, com seus belos palacetes e casas bem cuidadas, e Duque
de Caxias, com outras de classe média e algumas indústrias (da família Diogo,
por exemplo), e outros pequenos comerciantes, sentimos uma brutal mudança. Os
paralelepípedos foram substituídos pelo asfalto – que jamais poderia ser
colocado em ruas de cidades do Nordeste – brutal e nefasto piso negro que
deveria ser usado somente nas estradas do interior, sejam grandes ou pequenas.
E, ainda hoje, em muitos lugares, estradas são esquecidas em detrimento de
centros de pequenas e grandes urbes, que não necessita, daquele “benefício”.
É provável que você, até não concorde
com meu ponto de vista, mas, na verdade, o escrito tem o objetivo de fazer uma
reclamação. Fortaleza vem sendo, impiedosamente, castigada por pessoas suas inimigas – que teimam em colocar nas
ruas, módulos de cimento, areia e cal, que nada tem a ver com a nossa
realidade, para se fixarem em canteiros ou, mesmo, no conhecido fio de pedra,
como o fortalezense gosta de chamar.
Pois bem, o fio de pedra ou meio fio,
ou mesmo fio – guia, como alguns sudestinos, para cá transportados, gostam de
chamar, esse fio de pedra está sendo arrancado e levado, talvez para as
profundas do inferno!!
Mas, a informação que se tem, na
verdade, é que ele vem sendo arrancado para ser transformado em brita, o que,
convenhamos, provoca um grande lucro para os adquirentes.
E um fio de pedra que, durante
dezenas, centenas de anos ao sol e à chuva, resiste heroicamente a tudo e a
todos, dá lugar a uns bloquetes que nada significam. Em um mês colocados já
estão soltando, quebrando, miseravelmente arruinados dando aos passeios e as
calçadas um ar de desleixo total, como realmente está ocorrendo.
O desleixo de que falamos fica
registrado, confirmado, mostrado, num trabalho de péssimo gosto e categoria
inferior, logicamente, com as benesses de quem contratou o trabalho de mudança
e substituição.
Minha cidade sofre mais uma agressão!
Mais uma facada em seu corpo, em seu território, tão mal cuidado e a visão de
quem de direito, não alcança e coloca o lucro acima de tudo e de todos. O povo,
coitado, sem ter a quem reclamar, acompanha de perto mais uma maldade. “A loura
desposada do sol” é novamente agredida.
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