Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

terça-feira, 27 de novembro de 2012

MINHA FORTALEZA AGREDIDA Vicente Alencar (Vice-Presidente da ALMECE)


MINHA FORTALEZA AGREDIDA
Vicente Alencar
(Vice-Presidente da ALMECE)
           
Conheci a minha Fortaleza, dos meus amores e meus arroubos, muito criança, a partir dos 7 anos de idade, pois, a dorminhoca cidade de 500 mil habitantes, ainda, desabrochava para a vida. As ruas, segundo “Minhas Lições”, do professor Filgueiras  Sampaio, “eram belas e arborizadas”. E eram mesmo. Tínhamos a Floriano Peixoto, Major Facundo e muitas outras, com os fícus – benjamins que deram um colorido todo especial, principalmente, nos dias de muito sol, notadamente no segundo semestre do ano, quando, exceto a “chuva do caju” atravessávamos uma canícula muito grande.
Mas, Fortaleza tinha o ventinho bom, que vinha da Praia, que invadia todas as ruas, que por ali começavam e, a prova maior era que na Praça do Ferreira o vento não deixava em paz as saias femininas. Tinham que ser seguras para não fazer a alegria dos olhos masculinos, sempre dispostos a enxergar um pouco mais...
Hoje, minha cidade está bem diferente daquela. Os anos 50 e 60 foram superados pelo progresso inclemente, que nos dá crescimento de alguns pontos e nos rouba outros, principalmente, aqueles que são lembrados mais com o coração que, mesmo, com o cérebro.
Nós, que conhecemos, naquela época, a avenida Santos Dumont, com seus belos palacetes e casas bem cuidadas, e Duque de Caxias, com outras de classe média e algumas indústrias (da família Diogo, por exemplo), e outros pequenos comerciantes, sentimos uma brutal mudança. Os paralelepípedos foram substituídos pelo asfalto – que jamais poderia ser colocado em ruas de cidades do Nordeste – brutal e nefasto piso negro que deveria ser usado somente nas estradas do interior, sejam grandes ou pequenas. E, ainda hoje, em muitos lugares, estradas são esquecidas em detrimento de centros de pequenas e grandes urbes, que não necessita, daquele “benefício”.
É provável que você, até não concorde com meu ponto de vista, mas, na verdade, o escrito tem o objetivo de fazer uma reclamação. Fortaleza vem sendo, impiedosamente, castigada por pessoas  suas inimigas – que teimam em colocar nas ruas, módulos de cimento, areia e cal, que nada tem a ver com a nossa realidade, para se fixarem em canteiros ou, mesmo, no conhecido fio de pedra, como o fortalezense gosta de chamar.
Pois bem, o fio de pedra ou meio fio, ou mesmo fio – guia, como alguns sudestinos, para cá transportados, gostam de chamar, esse fio de pedra está sendo arrancado e levado, talvez para as profundas do inferno!!
Mas, a informação que se tem, na verdade, é que ele vem sendo arrancado para ser transformado em brita, o que, convenhamos, provoca um grande lucro para os adquirentes.
E um fio de pedra que, durante dezenas, centenas de anos ao sol e à chuva, resiste heroicamente a tudo e a todos, dá lugar a uns bloquetes que nada significam. Em um mês colocados já estão soltando, quebrando, miseravelmente arruinados dando aos passeios e as calçadas um ar de desleixo total, como realmente está ocorrendo.
O desleixo de que falamos fica registrado, confirmado, mostrado, num trabalho de péssimo gosto e categoria inferior, logicamente, com as benesses de quem contratou o trabalho de mudança e substituição.
Minha cidade sofre mais uma agressão! Mais uma facada em seu corpo, em seu território, tão mal cuidado e a visão de quem de direito, não alcança e coloca o lucro acima de tudo e de todos. O povo, coitado, sem ter a quem reclamar, acompanha de perto mais uma maldade. “A loura desposada do sol” é novamente agredida.  

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