DISCURSO DE POSSE ACLP
“ A
literatura nos mostra o homem com uma veracidade que as ciências talvez não
têm. Ela é o documento espontâneo da vida em trânsito. É o depoimento vivo,
natural, autêntico.” ( Cecília
Meireles)
Ilustres Acadêmicos,
Senhoras e senhores, boa noite!
Gostaria de cumprimentar os integrantes da Mesa
na pessoa do Presidente, Acadêmico Vicente Alencar. Saúdo as demais autoridades
e os amigos presentes nesta cerimônia, na pessoa do Acadêmico Maurício Cabral
Benevides, presidente da Academia Cearense de Retórica.
O renomado
poeta e memorialista JOAQUIM NABUCO afirma: “ O ESPÍRITO ACADÊMICO É UMA
ESPÉCIE DE CONSERVAÇÃO OU UM CONVITE À FRATERNIDADE DAS INTELIGÊNCIAS, ATRAVÉS
DA ALEGRIA DO CONVÍVIO INTELECTUAL E COMPREENSÃO DOS ESPÍRITOS, FUNDINDO
CÉREBROS E CORAÇÕES PARA A COMUNHÃO DAS IDEIAS”. Evocando o pensamento de
Nabuco, chego a esta Casa com júbilo e alegria, mergulho neste mar de cultura e
saber, deixando-me flutuar tranquila e confiante nas águas cristalinas dessa
gloriosa Arcádia da terra de Alencar, a Academia Cearense da Língua Portuguesa.
Confesso que resisti temerosa ao sonho
acalentado de candidatar-me à vaga do saudoso mestre e amigo, Acadêmico
Professor Dr. Sinésio Lustosa Cabral Sobrinho, ocupante da cadeira de nº 3 que
tem como Patrono o filólogo e etimólogo carioca Antenor Nascentes. Dúvidas e
receios tomaram conta de meus pensamentos. Faltar-me-ia competência,
legitimidade, sabedoria para conviver com pessoas tão valorosas e cultas? Seria
eu merecedora de tamanho privilégio? Sem dúvida, ingressar em tão nobre
entidade literária representa uma vitória das mais significativas para qualquer um de
nós, amantes das Letras. É aqui nesta Casa que o idioma pátrio, herdado dos
bravos navegadores portugueses, tem como doutrina o amor à preservação da
Língua Portuguesa, reconhecida como a mais próxima dos padrões latinos.
Senhoras e Senhores,
Não
podemos ocultar os problemas existentes, relacionados à hegemonia de economias
poderosas e de sociedades mais desenvolvidas, mas é importante constatarmos que,
segundo estudiosos no assunto, fica
provado que o “Português” é a terceira língua mais utilizada no Ocidente,
dentro de um elenco das dez principais. Sendo a língua materna falada em
Portugal e no Brasil, é adotada como língua oficial em outros países espalhados
em três continentes, destacando-se em 5º lugar entre os idiomas mais
representativos.
Em 1908, Teófilo Braga, em texto publicado no
“Boulletin de la Societé des Etudes Portugaises”, afirma: “ A língua portuguesa
foi sempre uma emancipação orgânica do individualismo nacional ou da autonomia
de Portugal contra o esforço de absorção das monarquias, hispânica, leonesa e
castelhana. É a língua portuguesa, como vibração física que unifica milhões de
portugueses, sendo o documento sociológico de um povo que, além das grandes
descobertas, criou uma bela literatura, expressão do seu gênio estético, que
nos encanta e fascina.” Assim, a realidade de uma língua de cultura como a
nossa, portadora de uma longa história, continuará sendo um poderoso laço de
união entre as diversas civilizações hodiernas.
Quanto
a mim, senhoras e senhores, afigura-se bastante claro que a Providência Divina
esteve ao meu lado quando reservou-me a cadeira de nº 3, pertencente ao
inesquecível Acadêmico Sinésio Lustosa Cabral Sobrinho, um dos fundadores dessa
Arcádia, grande mestre e amigo. Ele que
foi um dos maiores incentivadores de minha carreira literária, apoiando-me e
orientando-me com extrema bondade e presteza. Gentilmente fez a revisão de meu
primeiro livro de poesia “Poeira de Estrelas”, esclarecendo minhas dúvidas,
corrigindo meus deslizes e escrevendo na
contracapa palavras das mais alentadoras para uma poetisa iniciante. Falar
sobre a rica trajetória profissional e literária desse ilustre Acadêmico seria impossível
fazê-lo em tão pouco tempo. Entretanto, tentarei sintetizar com absoluta
admiração alguns dados referentes a sua vitoriosa existência.
Sinésio Lustosa Cabral Sobrinho nasceu a 22 de maio de 1915, em Várzea Alegre-Ce.
Era filho do magistrado Genésio Lustosa Cabral e da professora Líbia Lustosa
Cabral. Advogado e professor, exerceu os
cargos de Juiz Preparador e Eleitoral, Promotor de Justiça, Curador de
Registros Públicos e Procurador de Justiça, no interior e na capital do Ceará.
Foi professor de Linguagem Forense, em cursos de preparação para o Exame de Ordem
na O.A.B. – Ceará, e no curso, ministrado juntamente com o professor Acadêmico Myrson Lima, de Revisão Gramatical
na ESMEC, em 1998. Lecionou Língua Portuguesa em Itapipoca, Sobral e no Liceu
do Ceará, em Fortaleza. Pertenceu às Academias Brasileira e Cearense da Língua
Portuguesa, presidindo esta última no biênio 1984 - 1986. Era membro também da
Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro, Academia Petropolitana de
Poesia Raul de Leoni, em Petrópolis- R.J, Associação Cearense do Ministério
Público, que também presidiu, Instituto Cultural do Vale Caririense em Juazeiro
do Norte, e sócio efetivo da Associação Cearense de Imprensa.
Durante décadas editou o “Mensageiro da
Poesia”, uma publicação independente de projeção nacional em que divulgava poemas,
notícias literárias, informações sobre a língua portuguesa e mantinha uma
coluna dedicada aos Trovadores. Dentre os vários livros publicados, destacamos
“Sonetos e Poemas” e “Reflexos D’Alma”. Recebeu a comenda de Honra ao Mérito da
antiga Fundação Cultural de Fortaleza, o diploma cultural e título de Acadêmico
Honorário da Academia Cearense de Letras, e a medalha de Membro Padrão do
Ministério Público do Ceará, entre outras homenagens.
Era casado com D. Mª Diva Ximenes Cabral; pai,
avô e bisavô extremamente dedicado, compartilhando um grande amor a todos os
familiares. Sua partida aos noventa e seis anos deixa enorme lacuna no meio
intelectual, principalmente aqui na Academia Cearense da Língua Portuguesa, da
qual era sócio fundador e o mais idoso membro, sendo também uma das mais
queridas presenças no universo acadêmico do Ceará.
Senhoras e senhores,
É tempo de agradecimento. São inúmeras as pessoas que contribuíram para
a realização deste momento especial. Impossível citá-las todas, mas o registro
de algumas, fará justiça àquelas que estarão para sempre guardadas em meu
coração. Em primeiro lugar a Deus, criador do universo; também à minha dedicada
avó Maria Luisa Gomes Parente Silva, aos meus pais Aníbal e Carmen Câmara
Bomfim pela lição de vida e pelos princípios éticos que me legaram e que sempre
nortearam minha existência; a meus irmãos Sérgio, aqui presente, Anibal e
Alzira, residentes no Rio de Janeiro. A meus filhos Magno, Ana Paula e Émerson,
a minhas noras Virgínia e Regina e a meu genro Helvécio, nos quais sempre
encontro apoio, carinho e solidariedade. E a meus netos Kaylan, Caio e Luísa Aline, as mais doces presenças no outono de minha
vida. Às minhas tias Isa, Dolores e Aline Silva, valorosas professoras que
despertaram meu amor para o mundo mágico da literatura, e aos mestres dos
colégios que frequentei. Primeiramente Imaculada Conceição, depois, Escola
Normal Justiniano de Serpa, Liceu do Ceará, Lourenço Filho, onde comecei minha
vida profissional convidada pelo mestre e poeta Filgueiras Lima, até a
Universidade de Fortaleza, onde cursei Direito e Pedagogia.
Queridos mestres, quanto saber vocês me
passaram! Benditos todos, onde quer que estejam neste momento tão significativo
para mim! Impossível não citar os nomes de Regine Limaverde, minha prima-irmã, Vicente
Alencar, José Augusto Bezerra e Giselda Medeiros, ilustres acadêmicos a quem
devo gratidão e apreço. Parabenizo as acadêmicas Regine Limaverde e Ana Paula
Medeiros, que nesta cerimônia passaram a ocupar as cadeiras de nº 7 e de nº 12,
e ao ilustre Acadêmico Cid Carvalho por tão brilhante e acolhedora
apresentação.
Para encerrar, mais uma vez agradeço a confiança
e a generosidade dos Acadêmicos que
aprovaram meu ingresso nesta Casa,
afirmando-lhes que estarei sempre disponível, procurando dentro de minhas
possibilidades e invocando a ajuda de Deus, contribuir para o engrandecimento
desta valorosa Arcádia , a Academia Cearense da Língua Portuguesa.
Muito obrigada.
MARIA LUISA BOMFIM
Fortaleza, 22 de
novembro de 2012
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