FRANCISCA CLOTILDE (1862-1935) E A PALAVRA EM AÇÃO
Francisca Clotilde é mulher de sinuosos caminhos, recuperados aos poucos e não completamente desvendados. Nasceu na Fazenda S. Lourenço em São João dos Inhamuns – hoje município de Tauá –, em 19 de outubro de 1862. Em 2012, são comemorados os 150 anos de seu nascimento na Bienal Internacional do Livro do Ceará, com palestras e mesas-redondas em torno da importância de seu legado.
Seus escritos estão registrados em panfletos, almanaques, brochuras, revistas, jornais e nos livros que publicou, concretizando em mais de cinco décadas um largo programa de escrita. A imprensa era seu lugar, no Ceará que via mais de uma centena de jornais circulando e agremiações culturais e literárias em atividade, nas últimas décadas do século XIX. Por algum tempo, utilizou o pseudônimo Jane Davy.
É na urbanidade e na modernidade em construção na capital cearense que a leitora Francisca Clotilde transita, no gabinete de leitura, nas livrarias, nos jornais, nos clubs literários, nas tertúlias. Constrói-se como leitora-escritora e escritora-leitora na convivência com outros autores e também com seus alunos, que estudavam nos colégios que fundou e onde lecionou. Foi, aliás, a primeira professora da Escola Normal, em 1884. Em 1886, tornou-se a única sócia efetiva do Club Literário, do qual participavam intelectuais como Rodolfo Teófilo e Antônio Bezerra.
Colaborou em grande número de periódicos de matriz operária, literária, abolicionista, republicana. Escreveu para os jornais Cearense (1877-1884), Libertador (1881-1891), Revista Contemporânea (1884), A Quinzena (1887-8), A Evolução (1888-1889), Gazeta do Sertão (1893), Ceará Ilustrado (1894), Iracema (1895-1900), O Combate (1896), A República (1896-1901), A Fortaleza (1906) e Folha do Commercio (1911), entre outros.
Também participou do Almanach do Ceará, entre 1897 e 1919, e teve seus textos publicados no Almanach das Senhoras Brazil/Lisboa (1911). Figurou, ainda, em jornais de vários estados, com destaque para A Família, de São Paulo (1881-1883) e Rio de Janeiro (1883-1897); e A Mensageira (1897-1900), também paulista.
Cultivou nestes espaços a prosa, a poesia e a não-ficção, em contos, crônicas, artigos, crítica literária, teatro, traduções, charadas, anúncios.
Não obedeceu rigorosamente ao cânone – Clotilde se insurgiu discretamente contra a escola realista, em voga no último quartel do século XIX, e se afirmou romântica. Não se contentou com os rodapés e publicou os seguintes livros: Coleção de Contos (1897), Noções de Aritmética (1889), os dramas Fabíola e Santa Clotilde (s/d). Mas foi o romance A Divorciada, de 1902, sua obra mais conhecida. Já a brochura Pelo Ceará (1911) revela uma mulher republicana, que exalta a pátria e toma partido no amplo movimento de oposição à oligarquia aciolina, lançando uma série de artigos favoráveis à candidatura de Franco Rabelo.
Nas primeiras décadas do século XX, dá vida a um longevo projeto literário e educativo na imprensa cearense: a revista A Estrella, que reuniu uma ampla rede de assinantes e colaboradores, estendendo-se por vários lugares do País de 1906 a 1921.
Como diversas moças de seu tempo, Francisca Clotilde fascinava-se com os romances e folhetins, seus enredos repletos de reviravoltas, cenários idílicos e sentimentos exacerbados. E, como poucas em sua época, utilizou o espaço de jornais e revistas para publicizar e perenizar sua visão de mundo.
Alguns trechos de escritos de Francisca Clotilde:
Poema abolicionista A Liberdade, publicado em 1882 no jornal Gazeta do Norte:
Somem-se as trevas horríveis
Além desponta uma luz
É a liberdade que surge
Nos horisontes azuis.
Dos lábios puros de um mártir
Nasceu repleta de luz
Traz em seus lábios a paz
É santa… Vem de Jesus!
Tem por preceitos sublimes
O amor, a caridade,
É grande, imensa divina;
Esta sublime deidade.
A sua voz poderosa
Faz heróis na mocidade.
Todo aquele que a defende
Tem por templo a eternidade
O Jangadeiro, publicado em 1911 no jornal Folha do Comércio, de Aracati:
Braços unidos, corações despedaçados, os míseros volviam um ultimo olhar para as areais alvejantes da terra da pátria que iam deixar para sempre. Lagrimas profusas brilhavam naqueles rostos onde a fatalidade estampára desde o berço o ferrete da maldição (…)
O que os esperava nas paragens do Sul? O engenho, o trabalho forçado, a tarimba, a minguada ração, o azôrrague do feitor cruel, o opprobio, a miséria enfim!
Ali a escravidão ainda era mais negra!…
E se aproximavam os míseros da praia, enquanto o marulho das ondas quebrava a monotonia da tarde que passava.
Artigo A Mulher na Política, publicado na brochura Pelo Ceará em 1911:
Em que se pese aos obscurantistas o tempo do fuso e da roca já desapareceu na voragem do passado e hoje a mulher não tem o direito de se apresentar nos comícios eleitoraes porque a lei não lh’o quiz ainda conferir, tem o dever sagrado de acompanhar o homem, máxime quando elle se bate pela pátria em seus dias nefastos e trabalha pela liberdade e pelo progresso.
QUANDO
Local: Sala 2 Bruno Jaci (José Carlos Jr) |Mezanino 2 |
Dia: 10.11.2012 (Sábado)
|14h00 – 18h00| Homenagem aos 150 anos de Francisca Clotilde
|14h00 |Abertura
|14h15| Palestra
Tema: Francisca Clotilde: “A palavra em ação”
Convidada: Luciana Andrade (Jornalista /Doutoranda em História/ PUC-SP)
Mediação: Cecília Cunha (Professora SEDUC/Dra. Literatura Brasileira/UFSC)
|15h30|Mesa Redonda
Tema: “Uma vida em fragmentos”
Convidadas: Gildênia Moura (Professora SEDUC/Dra. Educação Brasileira/UFC), Ângela Gurgel (Núcleo Documentário/TV Assembleia), Rosângela Ponciano (Professora SEDUC /Bisneta), Cecília Cunha (Professora SEDUC/Dra. Literatura Brasileira/UFSC) e Anamélia Mota (Educadora/Biógrafa)
Mediação: Madalena Figueiredo (Bibliotecária /ACL /Biblioteca Pública do Estado-CE)
|16h30 – 18h00| – Documentário
Tema: “Francisca Clotilde uma história de amor e de lutas” (TV Assembleia)
Comentário: Cid Carvalho (Membro da ACL)
Mediação: Rosângela Ponciano (Professora SEDUC / Bisneta)
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