Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 22 de março de 2023

COLUNA DO VICENTE ALENCAR EDIÇÃO Nº 2639 QUARTA-FEIRA, 22 DE MARÇO DE 2023

COLUNA DO VICENTE ALENCAR

EDIÇÃO Nº 2639 

QUARTA-FEIRA, 22 DE MARÇO DE 2023

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL


Dia Internacional das Águas


Hoje apresentaremos um texto

do Confrade Pedro Bezerra de Araújo,

médico e latinista, colega da

Academia Cearense de Literatura 

e Jornalismo:



PERDÃO: CONDIÇÃO HUMANA

Muitas pessoas, que têm dificuldade de perdoar confundem sentimentos com perdão, assim como muitos também confundem emoções com amor.

Sentimentos e emoções podem alternar-se e dependem de humores.

O perdão, bem como seu irmão-gêmeo, o amor, originam-se numa decisão assentada nas reentrâncias neuronais, ou seja, trata-se de uma determinação da mente.

A intensidade e gravidade do opróbrio pertencem mais ao ofendido que ao defensor: uma semelhante ofensa causa reações variadas em cada pessoa ofendida: o caráter, os princípios, a autoestima . A postura começa a formar-se nos primeiros anos de vida, no ‘modus educandi’ dos pais. Crianças muito mimadas tendem a achar-se o centro do mundo e sua fragilidade nos relacionamentos sociais e privados engendra, mais facilmente, dependência e submissão, enquanto crianças mal amadas predispõem-se a ser dominadoras e opressoras. Aquelas tendem a ser egoístas, enquanto estas, possessivas.

Todavia, a imprevisibilidade humana é alheia a qualquer receita, ela é uma exaltação do que acalentamos dentro de nós, nos acontecimentos que nos envolvem. Hanna Arendt define-a como ‘condição humana’ das formas de viver do ser humano, que não é a mesma coisa de natureza humana. Está ligada ao conceito grego ‘archein’, e é vista por Heidegger como ‘modo de ser do ente’. Arendt cita três bases da condição humana: o labor, ou seja o processo vital do organismo humano para sobreviver, o trabalho, ou seja, a criatividade e potencialidade da criatura humana para criar a ‘mundanidade’, o mundo e a terceira, denomina ação, que se diferencia dos dois pilares anteriores, e caracteriza-se por ser uma atividade entre os seres humanos, constituindo pluralidade. Dela advém a liberdade.

É a nossa condição humana, segundo Aristóteles, que nos impele à realização de nosso ser, e, por isso, nos torna responsáveis por nossas ações: a liberdade e os limites misturam-se às necessidades e potencialidades.

Por suposto, podemos rabiscar que  perdoar é uma determinação de nossa liberdade de agir; daí, assumimos, perante nós, a responsabilidade dessa atitude, genuinamente, pessoal e intransferível, com as suas consequências tanto humanas quanto espirituais.

O ser social é um ser de perdão: perdão a si mesmo e perdão ao outro.

Sem o perdão, podemos navegar, mas o destino será incerto.

“Age de maneira tal que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autêntica” (Hans Jonas)

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