Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

FALANDO DE NATAL

 FALANDO DE NATAL

Pedro Bezerra de Araújo

(Da Academia Cearense

de Literatura e Jornalismo)

Não se pode confundir a fragilidade do organismo com a fraqueza do ser. 

Talvez um confronto ou um desafio numa unidade, que se propõe, profundamente, solidário.

Tampouco não dá para embaraçar a fraqueza do ser com as limitações do livre arbítrio. Este depende da vontade, da determinação, da fé e da estratégia diária de cada pessoa. Atende à relatividade não do tempo, senão do indivíduo.

Instaura uma sinergia do existir com o agir, do pensar com o sentir, do decidir com o consentir. 

Muitos desejam, outros se ‘instalam’ no destino, enquanto apenas uma proba réstia de humanos a consegue, porque é preciso postar-se com humildade e coragem diante da vida, e muitos não têm a nobreza de inclinar-se e reconhecer-se autores de suas conquistas e sonhos ou fautores de seus nefastos desígnios e inglórios.

A vitimização exige culpados para não fermentar remorsos, enquanto o êxito e a vitória, parceiros prontos e comprometidos.

Portamos desejos proibidos ou não, porém, desejos.

Trazemos conosco ânsias.

Aliás, somos seres de ansiedade, navegando ora em rio dentro de rios, ora em rios dentro do nosso rio, não navegados por nenhuma outra criatura. Não   na mesma travessia, nas mesmas intempéries, intercaladas de brisas e cenários exuberantes de um bucolismo invejável.

Na consuetudinariedade da convivência, vamos descobrindo imperfeições em nós, atadas com fortes nós e cujo descobrimento vem de olhar brejeiro alienígena e de língua indomável de críticas indesejadas.

Há, sim, momentos em que o desânimo bate atroz. 

Saídas parecem fechadas e um sinal de vedado, um anteparo bloqueador da estrada.

Dédalo e Ícaro conseguiram superar a expectativa sombria de suas mortes. Eles nos ensinam que vale a pena buscar, porque, quando não houver mais nenhuma saída, ainda uma esperança no-la encontrará.

Na vida, a gente pode perder e perde. Porém, uma perda nunca nos faz vencidos. Ela nos incita estratégias, se ‘a nossa alma não é pequena’, diria Fernando Pessoa.

A esperança, inda que tardia, vence a esterilidade da situação. Dá à luz uma que seja oportunidade.

(Pedro bezerra de Araújo, Pierre Nadie)


Texto 2

Sonhos, quem não os tem?

Sonhos, quem os realiza?

Hoje, 20 de dezembro, volto-me, mente e espírito, para contemplar um sonho, pelo qual dei toda a minha vida e emprestei todas as minhas energias.

Um sonho sonhado na minha profunda intimidade e realizado no convívio com tantos outros, colegas, amigos e amigas, que tal desiderato uniu e que o tempo não apagou os rastros de amizade e respeito.

Hoje, faz 46 anos de amor por esta profissão tão sublime, quanto humana, tão nobre quanto vital.

Tivemos bons mestres, respeitáveis e competentes. Constrangimentos e percalços aconteceram, porém jamais nos desencorajaram. Ao contrário, fortaleceram nossa garra de luta, pois, sem sentido, a vida perde o sabor e, sem ele, vai-se  razão de ser.

Fomos diplomados médicos em 1976.

De lá até o fim de nossos dias, somos médicos, curadores de homens e mulheres.

Alguns já nos deixaram e esses, missão cumprida, merecem todo respeito e solidariedade. Numa outra dimensão repousam, porém, sua história permanece conosco. Deixaram-nos, sim,  mas não se foram: sua memória e seus feitos jamais morrerão.

Guerreiros, fomos à luta. Travamos seis anos de batalhas para alcançar o objetivo almejado. Talvez a mais ingrata tenha sido no segundo semestre do quinto ano de Medicina. Uma reforma atingiu-nos de cheio e manchou a unidade processional de nossa caminhada turmal: dividiu-nos, estressou-nos e instou-nos a sair de semestres para uma pedagogia de créditos. Desestabilizou-nos a unidade acadêmica, porém, não conseguiu desacreditar nossa amizade.

Fizemos nossa hora.

Continuamos unidos.

Continuamos médicos e médicas.

Guerreiros, somos vencedores e vencedoras.

Nossos aplausos são nossos pacientes, que tangeram nossas mãos.

Obrigado

, Senhor, por este dom que nos deste e pela determinação e coragem de que nos revestiste!

Deus nos abençoe a todos!

(Pedro Bezerra de Araújo)


Texto 3

Quando o amor começa a doer, 

É hora de retirar-se.

Quando o amor começa a amargar, 

É hora de cogitar

Quando o amor começa a prender, 

É hora de se libertar

Quando o amor começa a ser pesado fardo, 

É hora de aliviar

Quando o amor começa a angustiar

É hora de clarear

Quando o amor começa a estressar,

É hora de avaliar

Quando o amor começa a deprimir,

É hora de partir

Quando o amor acaba o prazer

É hora de redefinir

Quando o amor começa a sangrar,

É hora de estancar

Quando o amor envelhece e fica roto

É hora de dizer adeus

Quando o amor sai dos olhos e foge do coração,

Não há, ó não, outra hora a esperar.

Quando o amor é amor,

Renova-se

Ressignifica-se

Rejuvenesce

Quando o amor é amor,

Sempre haverá razões e jeitos de amar.

(Pierre Nadie)


Texto 4

Palavras, simplesmente, não desaparecem. São como gotículas de Flugge, tão invisíveis quanto sensíveis, tão transmissoras de doenças e nojo, esses perdigotos escondidos que carregam, silenciosa ou estrepitosamente, sátrapas, na próxima tosse, no iminente espirro e no suspiro da fala. 

Palavras, emanações de valores, portadoras de mensagens que a mente engendra e a língua denuncia. Impressão sem tinta a colorir vidas outras, carimbo que timbra espíritos e ânimos, dignos de honra ou vazios de dignidade.

Língua? Não, não é ela algoz fatídico. Vilipêndios, que a mancham, são manchas do caráter escondido nas entranhas da mente, no fulcro da identidade personal de cada ser. Elas deslizam implodindo  sinapses e terminam por salpicos que a língua  ejeta num entorno sem limites de espaço, essa mensageira sagaz que, sem qualquer controle, faz-se soldado miliciano.

Palavras não param, até grudar no vento e, na viscosidade de sua peçonha ou na suavidade de seu sabor, são elas transportadas, em tempestades ou em brisas aos ouvidos, que não são de mercador.

Por um mecanismo subjetivo e peculiar, não passam sem grudar-se aos ouvidos. Desapegam-se do vento, apeiam-se do ar.  Ou o vento para de soprar para que pousem, seguramente.

Podem ali fazer morada ou tornar a desapegar-se, porém, à inversão diretiva dos ares, retorna e modifica o entorno, com a decodificação de sua cultura e de suas crenças. E se outro vento não as levar, aventuram-se por labirintos auriculares para dançar nas peripécias das sinapses do caráter.

A palavra é um bumerangue. Ouvida, pode ser aceita, criticada, envergonhada, estúpida. Pode mudar ou mudar-se.

Não ofende tanto o emissor quanto injuria ou cativa o receptor. No mínimo, desce aos porões e de lá não sai sem emitir uma resposta.

Palavra não se esvai, ela vai.

(Pedro Bezerra de Araújo, Pierre Nadie)

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