Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

A B O T I J A DOS JESUITAS - PARTE I Antonio de Albuquerque Sousa Filho (Professor Ap. da UFC)

 A  B O T I J A  DOS JESUITAS - PARTE I

Antonio de Albuquerque Sousa Filho

(Professor Ap.  da UFC)




Viçosa do Ceará está situada na Chapada da Ibiapaba, a 740 metros de altitude, possuindo Mata Atlântica a Cerrado, sendo denominada de região de todos os biomas, fazendo parte do Parque Estadual das Carnaúbas, de clima agradável (chegou a ter 15º C. em 12/08/1965 e 4/07/1969), com pluviometria média de 1.349 mm (janeiro-maio), distante 350 Km. de Fortaleza e contando  atualmente com 60.889 habiantes, segundo o IBGE.


 Durante muitos anos a economia do município foi baseada nas culturas do café, pimenta do reino, cana-de-açúcar (fabricação da cachaça e rapadura) e frutas. Mudou nas últimas décadas para o comércio e serviços e a agricultura deu ênfase à produção de hortaliças e flores.  O asfaltamento das estradas Viçosa-Parnaíba (PI) e Viçosa-Granja, chegando a Jericoacoara, além da recuperação da estrada Viçosa- Tianguá intensificou o turismo, que conta com vários atrativos como o Polo de Lazer da Igreja do Céu, Castelo de Pedras, cachoeiras (Pirapora, Itarumã) e as pedras do Machado e do Itagurussu.


Entre as famílias tradicionais da sociedade viçosense, temos: os Cunha, os Fontenelle, os Caldas, os Silveira, os Pinho Pessoa, os Mapurunga, os Miranda, os Passos, os Souza, os Magalhães, os Carneiros, os Pacheco. Terra de filhos ilustres, destacando-se Clóvis Beviláqua – que elaborou o Código Civil Brasileiro; General Antônio Tibúrcio – herói da Guerra do Paraguai e Bezerril Fontenelle, marechal, governador do Ceará, deputado e senador. Minha ligação com Viçosa é minha mãe, Beatriz, ali nascida e originária das famílias Cunha, Fontenelle,  Caldas e Silveira.


A politica partidária em Viçosa foi muito disputada e debatida de forma apaixonada, principalmente no tempo em que existiam os tradicionais partidos como UDN e PSD. A paixão partidária era tão forte, que cada partido tinha clubes sociais separados para seus aliados e adversários políticos não passavam nem nas calçadas.


O farmacêutico Felizardo de Pinho Pessoa Filho, mais conhecido como Dr. Pinho foi, durante muitos anos, quem fazia às vezes de médico, por não existir tal profissional na cidade. Chegou a realizar cirurgias complexas, por ordens judiciais. Foi pioneiro na pesquisa sobre o Calazar no Ceará e provavelmente no Brasil. Utilizando-se de plantas nativas da região, formulou vários medicamentos sob a forma de chás, xaropes e pomadas, o que concorreu para curar várias doenças, tendo realizado também inúmeros partos. Criou o primeiro hospital da cidade, com  seus recursos próprios.  No ano de 1951, foi eleito prefeito municipal, depois de resistir por mais de onze dias que não aceitaria ser candidato. Seu nome foi homologado por unanimidade à sua revelia pela convenção municipal do PSD, sem sua presença, realizada no Teatro Dom Pedro II.  Multidão de pessoas portou-se na porta de sua residência clamando sua aceitação e que depois de consentida, provocou intenso foguetório.  Ao assumir o cargo de prefeito, sua primeira preocupação foi comprar e ler livros sobre administração municipal, principalmente, sobre planejamento, educação, saúde e infraestrutura.


A praça principal da cidade era a Praça Clóvis Beviláqua, mais conhecida por Praça da Matriz, local onde surgiu a cidade, habitada por tribos dos índios Tabajaras, pertencentes ao ramo Tupi, além dos Camucins, Anacés, Arariús da raça Tapuia. Por ali passaram os franceses, vindos do Maranhão (1590-1604).  Os padres jesuítas Manuel Pedroso e Ascenso Gago  chegaram na região em 1700, onde fundaram a  Aldeia da Ibiapaba e onde também construíram  a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da  cidade,  tornando-se a igreja mais antiga do Estado do Ceará,  segundo dados existentes na Arquidiocese de Fortaleza.


A Praça Clóvis Beviláqua apresentava, no ano de 1951, um declive muito acentuado, a partir dos degraus da Igreja Matriz, em direção a Praça General Tibúrcio, um quarteirão abaixo. Sendo as calçadas irregulares (desniveladas), provocavam constantes acidentes. Dr. Pinho resolveu rebaixar a área em torno da praça principal e padronizar as calçadas ali existentes. Para tal tarefa contou com o apoio de seu irmão engenheiro Geraldo, que fez todo o levantamento topográfico, estabelecendo os níveis de rebaixamento necessários (de 60 a 90 cm). Os trabalhos de rebaixamento logo começaram a maioria de forma braçal.


Corre na cidade uma lenda de que os padres jesuítas, ao serem expulsos pelo Marquês de Pombal, Ministro do Rei D. José I de Portugal, deixaram às pressas Viçosa em 1759 e teriam deixado ali enterrado um baú, com ouro e pedras preciosas. Conhecedores dos boatos sobre a botija dos jesuítas, dois dos irmãos do Dr. Pinho, Geminiano e Justiniano, muito criativos e baseados em livros antigos da igreja, escreveram uma mensagem  com ortografia antiga,  em papel  envelhecido quimicamente e colocaram-na numa lata igualmente envelhecida, descrevendo onde estava o baú, nas proximidades da igreja Matriz. Enterram à noite num local  onde, forçosamente, no dia seguinte, seriam direcionados os trabalhos de rebaixamento da praça.

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