TRIBO DO TEATRO 10 anos
PRODUÇÃO e APRESENTAÇÃO: SERGIO FONTAEspecial
(semana de 4 a 11 de setembro de 2020)
10º aniversário da TRIBO DO TEATRO nas ondas do rádio, uma década dedicada ao teatro e à sua história. Continuamos. No rádio, em nossa newsletter chegando a milhares de pessoas pela internet e também nas páginas do jornal Correio da Manhã / 2º Caderno, agora semanalmente.
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Além de atriz, Clarice Niskier é dramaturga e diretora. Tem mais de 40 espetáculos em sua trajetória. Embora tenha sido consagrada com A alma imoral, já em 1993, recebia indicação ao Prêmio Shell de Melhor Atriz, com a peça Tróia, dirigida por Eduardo Wotzik, com quem desenvolveu uma parceria de mais de dez anos. Em 2006, com a peça Tudo Sobre Mulheres, direção de Ticiana Studart, mais uma indicação ao Prêmio. De qualquer modo, foi o ano de 2007 que abriu todos os caminhos para Clarice com a peça A alma imoral, monólogo adaptado do livro homônimo de Nilton Bonder, supervisão de Amir Haddad: viajou por tod o o Brasil, está há 14 anos em cartaz e já foi assistido por mais de 500 mil espectadores e ganhou o Prêmio Shell. Clarice é afeita a longas e boas parcerias, como a que desenvolveu também com o saudoso diretor Domingos Oliveira, e hoje pesquisa sua linguagem ao lado de Haddad. Em março de 2020, estava em cartaz como atriz, diretora e autora com o espetáculo A esperança na caixa de chicletes Ping Pong, inspirada na obra de Zeca Baleiro. Seu depoimento em nossa Série é dolorido, mas posicionado, trazendo questionamentos prementes e para os quais devemos prestar atenção.
Depoimento Nº 21 Clarice Niskier, atriz
"No dia 13 de março de 2020 eu estava em cena, ensaiando a peça A Esperança Na Caixa de Chicletes Ping Pong, no palco do Teatro Petra Gold. Tínhamos estreado na sexta anterior, dia 6 de março. Aquele dia seria o primeiro da semana após a estreia. Eu, Amir Haddad e Aurélio de Simoni estávamos melhorando certos momentos. De repente, o Aurélio, da cabine de luz, fez um gesto: ensaio encerrado. Não entendi o que estava acontecendo. Acho que foi ele quem disse: não vai ter peça. Continuei sem entender. De repente, alguém falou: saiu um decreto do governador fechando todos os teatros. A minha energia não tinha como parar por decreto. Lembro que disse: Amir, vamos continuar ensaiando. Ele disse: Tá louca? O que está acontecendo é muito grave. Eu estava louca de vontade de fazer a peça. Pelo menos, continuar ensaiando m e tirari a daquela sensação de beijo interrompido bruscamente. E o público, perguntei? André Junqueira, diretor do teatro, disse: vamos explicar, devolver os ingressos. E ele, vendo minha tristeza, falou: a gente volta daqui a quinze dias. Doce ilusão. Já lá se vão cinco meses de quarentena, morreram mais de 115 mil pessoas, e as coisas ainda estão bem caóticas. Agora, tenho ido ao teatro fazer a peça on line. Foi muito bom voltar, apesar do medo que senti de sair de casa e de fazer com o teatro vazio, com três câmeras me olhando, tristes. Está tudo muito triste. O céu está triste, apesar de mais límpido. Minha pele está triste. Me olho no espelho, e pergunto: onde está meu tônus de meses atrás? Cadê o brilho nos olhos? O que espero depois da pandemia é que o brilho do olhar volte, que o orvalho retorne ao amanhecer, que a Humani dade res pire, que os povos indígenas sobrevivam, que a população se fortaleça, que a Amazônia resista, nós precisamos dela, ela precisa de nós, que gritemos por ela para que permaneça bela e majestosa como é, e não vire um bosque de ilusões perdidas, que acabe esse pesadelo político, que venha a vacina, que eu volte a fazer as peças presencialmente, que eu abrace o público e que, finalmente, o bicho-homem entenda que a origem da vida não é o dinheiro".
Artur Azevedo (1855-1908)
dramaturgo, escritor, tradutor, jornalista, crítico teatral
Nos verbetes do quadro Memória, finalmente coloco o foco em alguém que já deveria ter entrado neles há muito mais tempo, criador de minha maior admiração, Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, ou, simplesmente e eternamente, Artur Azevedo, nascido em São Luís, no Maranhão, em 7 de julho de 1855. O teatro brasileiro – em especial na comédia de costumes - tem dois pilares que sustentam toda a sua história: Martins Pena (1815-1848), sobre o qual já falamos em outra edição, e Artur Azevedo. Entre eles e depois deles há, claro, uma sucessão de perspi cazes co mediógrafos que ajudaram a construir o mosaico do humor nacional. A nossa querida atriz Fernanda Montenegro costuma dizer que, no teatro, não basta ter talento, é preciso ter vocação. Artur Azevedo tinha os dois. E revela cedo suas qualidades ou, melhor dizendo, seu talento e sua vocação. Ainda criança já escreve pequenas peças e as exibe, no quintal de casa, para sua família da qual faz parte outro futuro escritor, seu irmão, Aluísio Azevedo (1857-1913). Aos quinze anos escreve a peça Amor por anexins, toda recheada, como o próprio título diz, de provérbios, mas de uma forma tão criativa e crítica, que provoca risos do começo ao fim e é encenada até hoje. Quando adolescente, já colabora para jornais, em linha quase sempre polêmica ao satirizar a sociedade da capital maranhense. Muda-se para o Rio de Jan eiro em 1873 e, nos anos seguintes, abre as comportas dramatúrgicas: surgem as peças A joia, Uma véspera de Reis e A filha de Maria Angu, sua estreia profissional. Naquele tempo pululam em quase todos os teatros as operetas, trazidas por Companhias europeias e logo Azevedo faz uma paródia em cima da montagem de La fille de Mme. Angot que, por sua pena, logo virou a citada A filha de Maria Angu... Emplaca o primeiro sucesso com a revista de ano O mandarim, em parceria com Moreira Sampaio (1831-1901). No raiar dos seus 40 anos, porém, escreve o texto que se tornará um clássico nacional, a comédia musical A capital federal, estreada no Teatro Recreio Dramático, em 1897. Sete anos depois é a vez de outra obra-prima: O mambembe, desta vez em parceria com José Piza, no Teatro Apolo, uma verdadeira declaração de amor ao teatro, suas dificuldades , seus s onhos, suas paixões. O teatro é a plataforma central de Artur Azevedo, mas a força de sua escrita se desdobra em volumes de contos, poemas, artigos nos melhores jornais da época e... crítica. Sim, ele é um crítico arguto e, algumas vezes, ferino, sem mesmo poupar parceiros, como Moreira Sampaio, tradutor do espetáculo Lambe-Feras. Azevedo, em sua coluna “O Theatro”, no jornal A Notícia, ao comentar a montagem, critica a encenação, o título e uma das atrizes: “(...) Infelizmente a interpretação de outros personagens deixa alguma coisa que desejar e a plateia, razão tem ela, não me parece disposta a aceitar a Sra. Ismênia Mateos senão como cantora. Realmente, confiar um papel de comédia a essa língua de trapos é estragar completamente a comédia”. Por muitos anos Artur Azevedo luta pela con stru&cce dil;ão do Theatro Municipal. Sonhava-o como uma casa ao estilo da Comédie Française, onde o autor brasileiro tivesse um espaço permanente, financiado pelo governo e com montagens de qualidade. Morre em 22 de outubro de 1908, sem ver a finalização da obra, inaugurada em 1909. E sem saber que o Municipal se transformaria na icônica e suntuosa casa do balé e da ópera, embora tenha tido momentos teatrais pontuais e históricos como as estreias de Vestido de noiva, em 1943, Orfeu da Conceição, em 1950, e, por justiça e merecimento, O mambembe, em 1959, espetáculo antológico do Teatro dos Sete, dirigido por Gianni Ratto, com Fernanda Montenegro, Sérgio Britto e Ítalo Rossi como protagonistas. Artur Azevedo é um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1897, na Cadeira 29 (hoje ocupada pelo escritor e embaixador Geraldo Holanda Cavalcan ti), que tem como patrono Martins Pena. Era uma celebridade e, antes de tudo, um homem de teatro, um comediógrafo robusto – em todos os sentidos – que sabia bem os segredos da plateia e o gosto popular. Poderíamos falar dele em inúmeras edições. Com todos os devidos aplausos.
Artur Azevedo, memória iluminada do teatro nacional.
Refletor
MONÓLOGO SOBRE A COMPANHEIRA DE GERTRUDE STEIN
* Um peculiar olhar sobre a convivência da escritora norte-americana Gertrude Stein e de sua companheira Alice B. Toklas é o viés do monólogo Alice, retrato da mulher que cozinha ao fundo, de Marina Corazza, com Nicole Cordery, sob a direção de Malu Bazán. Na Paris de 1907, Stein escrevia sem parar e sua casa era o point de intelectuais e pintores que, depois, explodiram no mercado das artes, como Picasso, Gauguin e Matisse, entre outros. Alice, sua amante e companheira, era a grande anfitriã e impecável cozinheira da casa, além de super-secretária. Stein morreu em 1946 e Alice viveu 20 anos mais cuidando com afi nco da obra de sua companheira. Neste sábado, às 20h, para assistir ao espetáculo gratuitamente e ao vivo, via Zoom, basta se inscrever no site www.teatrovivoonline.com.br ou no link do perfil no Instagram @vivo.cultura.
ITAÚ CULTURAL: FESTIVAL ARTE COMO RESPIRO
* Começou esta semana a 2ª edição do Festival Arte como Respiro, promovido pelo Itaú Cultural, desta vez com a inserção da categoria Artes Cênicas, ao lado da Música e das Artes Visuais, com artistas selecionados pelos editais de emergência, uma forma de amenizar os efeitos nocivos da pandemia nas artes e aglutinar espetáculos de teatro, dança e circo dentro de um determinado formato, contemplando diversas linguagens. Cada trabalho fica disponível por 24 horas a partir de sua exibição, tanto aqueles para adultos , quanto os destinados ao público infantil. No domingo, por exemplo, as artes cênicas correm por conta do grupo Xama de Teatro, do Maranhão, com o espetáculo A carroça é nossa, às 20h; já na segunda-feira, dia 7, vai haver a leitura dramatizada da peça Que os mortos enterrem seus mortos, de Samir Yazbeck, com Helena Ranaldi e Maria Fernanda Cândido, também às 20h. Os ingressos podem ser reservados pela Sympla.
ON LINE: OFICINA GRATUITA COM EDUARDO WOTZIK* O diretor e ator Eduardo Wotzik disponibiliza uma oficina teatral em que discorrerá sobre sua experiência de 40 anos de carreira. Vai ser no dia 9 de setembro, às 19h, com a duração de 60 minutos. Para quem se inscrever será enviado um texto e um personagem a fim de que, antes do dia da oficina, eles sejam estudados e pesquisados. Mais informações pelo e-mail wotzik.oficina@gmail.com.
IDENTIDADES MASCULINAS NO TEATRO SHAKESPEAREANOS
* Acaba de ser lançado pela Ed. Amavisse o livro Identidades Masculinas em Coriolano e Antonio & Cleópatra, de William Shakespeare, autoria do xará do bardo, William Soares dos Santos. É uma obra alentada, de mais de 350 páginas, que investiga o epicentro masculino em duas peças romanas de Shakespeare. Sobre a figura de Coriolano, por exemplo, o autor apresenta "o tema da construção da identidade masculina, uma vez que a história desse personagem é bem representativa de como os homens são construídos até os dias atuais, para se comportarem de um modo bem específico dentro da soci edade. (...)". Como vivemos ainda a saga pandêmica, para a compra do volume, há um link, nada pequeno, mas útil aos leitores amantes da dramaturgia shakespeareanas:
TRIBO DO TEATRORua Paula Freitas, 45 / 801, cep: 22040-010
Copacabana - Rio de Janeiro RJ
E-mail: gikon@terra.com.br
Secretaria
Academia Carioca de Letras
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