A GRANDE TORMENTA
Temos uma crise
sanitária, a A economia mundial não vinha bem. e o impacto da pandemia nas
atividades econômicas é arrasador. A arrecadação dos governos cai e os gastos
públicos crescem. O mundo acordou para dependência de bens industriais da China
e a globalização perde apoios. O nacionalismo e o protecionismo ganham força e
a substituição de importações está sendo exumada, algo semelhante ao
mercantilismo, que reunia a busca de balança comercial favorável, monopólios e
protecionismo. O nacionalismo revigorado e o protecionismo potencializam
conflitos internacionais.
O rearanjo da divisão
internacional do trabalho levou a Índia a esforçar-se por atrair mil empresas
atualmente na China para o seu território. O Japão destinou bilhões de dólares
para ajudar empresas que queiram ser repatriadas. O governo Trump já estimulava
esta política. A União Europeia cogita estabelecer barreiras contra produtos
chineses. Protecionismo lembra custos mais altos e a realocação de fábricas
exige investimentos, desviando-os de outros objetivos. Consumidor e contribuinte
pagarão a conta. Disputas comerciais agravam as relações e aprofundam a
dispendiosa corrida armentista.
Mortes, sistemas de
saúde colapsados, isolamento social por tempo incerto e novas ondas de
propagação do vírus exigem a intervenção do Leviatã. É preciso socorrer
autônomos, desempregados e empresas, investir em serviços de saúde e controlar
a mobilidade de pessoas. Tudo isso será temporários? Surgem suspeitas de que
haverá adiamento da vigência de tais medidas por tempo indeterminado. Os meios
de controle na era digital superam a ficção de George Orwell (Eric Arthur
Blair, 1903 – 1950), “1984”. A internet da coisas, a tecnologia 5G ensejam
controles inimagináveis.
O desequilíbrio de
forças entre os cidadãos e o Estado afasta a possibilidade de resistência aos Poderes
ilegítimos. A crença no Leviatã como agente da História para aperfeiçoar a
sociedade e o homem por meios uma reengenharia social e antropológica, que
exige violência para ser imposta, tem os apoiadores de sempre, entusiasmados
com o controle crescente dos cidadãos pelo Poder central que imaginam poder
controlar. Trata-se da herança de Platão (428/427 – 348/347), (da “República”,
apesar do arrependimento deste autor, expresso na obra “As leis”, pouco
divulgada); reforçado por Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), ideológo
do rei absolutista da Prússia; e pelo entendimento da obra de Karl Heinch Marx
(1818 – 1883), por Karl Raymond Popper (1902 – 1994), que os três autores
inimigos da sociedade aberta.
Perigos
como terrorismo, crime organizado e novas ondas da atual e de novas pandemias
se somam aos temores das décadas mais recentes sobre desequilíbrio ambiental, encorajando
os adeptos de mais controles. A supressão da moeda física começa se tornar
realidade em nome da prevenção de agentes infecciosos em cédulas contaminadas,
para fins de controle do crime organizado e do financiamento do terrorismo. Até
o prosaico argumento da facilitação de troco é desculpa para mais controles,
inclusive os supranacionais. O neocolonialismo se insuna nestas discussões. O
Grande irmão orwelliano é uma realidade, não uma possibilidade. A complexidade
do mundo, os cidadãos desnorteados e o bem contido nas propostas de controle,
dando aparente legitimidade ao totalitarismo, se mostram muito fortes. Já se
disse que nada acontece na política sem que antes aconteça na literatura. Desde
o século XX a ficção só produziu distopias. O momento é preocupante.
Fortaleza,
12/5/20.
Rui
Martinho Rodrigues.
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