Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

segunda-feira, 1 de julho de 2019

PRODUÇÃO LITERÁRIA DE VICENTE ALENCAR - Jornalista e Radialista Cearense - 01 de julho de 2019.

PRODUÇÃO LITERÁRIA DE VICENTE ALENCAR
- Jornalista e Radialista Cearense -
01 de julho de 2019.


... MAIS DE 30 ANOS
    Vicente Alencar

O caminhar era lento, mas firme. Os anos já lhe anunciavam a idade. Quantos janeiros seriam?
70, 74, 80, 82 ou 86? Uma incógnita. Todos o conheciam na Cidade. Todos sabiam que horas
mais horas, pertinho do almoço, ele estaria passando. Ao final da tarde também. Lá pelas cinco horas. Não era sempre pala mesma rua. Mas um dia em uma, noutro dia em outra. O tempo passando. Também, as ruas eram poucas, umas quinze ou vinte, pois a Cidade era pequena.

Riacho das Onças. Mas não existiam onças. Há muito elas tinham sumido desta para a melhor. Quiseram até mudar o nome da Cidade, mas ninguém concordou, ninguém quis. Se tivesse sido aprovada a mudança seria chamada Novo Horizonte. Até um nome bonito. Mas não vingou. Nem ficou.   Por isso a cidadezinha é Riacho das 
Onças até hoje.

E o caminhante de todo o dia já não existe. Mas se passaram mais de 30 anos, desde a última vez que o ví. E, por certo, que ele suportaria cento e tantos anos, pois pelas minhas contas, se tivesse mesmo uns 86 naquela época hoje devera contar com uns 116. Mas, dos Cem acredito que tenha passado. deve ter ficado aí pelos 102 ou 103 anos. Ninguém me disse nada nem eu perguntei.

Somente sei que era forte, entroncado, voz bem ouvida por toda a rua. Por onde passava se sabia, quando não passava por aqui, se sabia que estava por perto. Seu João vendia lenha. Lenha para os fogões que estalavam bonito no fundo da cozinha. Ainda era o começo dos fogões a gás butano, que, pela primeira vez que viu, com a sua cor azulada depois de aceso, a chama quase da cor do mar, Mara que tratava o fogão a lenha tacou uma pergunta a queima roupa, à patroa: 
  - Esse troço será que presta mesmo?
Pois, seu João que levava lenha em duas cargas no jumento andava a pé. O bicho levava a lenha ele caminhava ao lado oferecendo a mercadoria, que tinha sido cortada alguns dias antes. Lá longe, no 
mato. Estou voltando agora a Cidade. São mais de 30 anos. Não vejo mais seu João, não existe mais fogão à lenha e em todas as casas se vê televisão.


A CARTA
Vicente Alencar

Pero Vaz Caminha
aquele que primeiro escreveu
sobre nós,
o descobrimento,
o achamento,
nossas águas
nossas matas, 
nossas riquezas, 
nossa gente sã,
nossa gente inocente,
de boa índole,
de cor parda, avermelhada,
bonita em todos os seus traços, 
"mancebos e de bons corpos"
com 
"bons rostos e bons narizes,
bem feitos"
foi também quem primeiro
pediu a
Vossa Alteza
um emprego para gente amiga.
Pois bem, tudo começou
no primeiro documento:
"peço que, por me fazer 
singular mercê,
mande vir da Ilha de São Tomé
a Jorge de Osório, meu genro - o que
d'Ela receberei com muita mercê".
Era 1.500, era o Brasil!

VIDA
Vicente Alencar

Os caminhos que levam 
 são todos libertos,
mais que abertos.
As vezes,
quando começam a fechar-se,
as vidas começam a perder-se.
A Lei que rege os destinos
não é a mesma que rege os homens.
Compreender o coração.
a via,
o destino,
somente vivendo amores e dores
pois de outra maneira é impossível.

CAFÉ
Vicente Alencar

Não há muita gente aqui.
Apenas algumas pessoas
com seus problemas
e suas interrogações.
Eu, também, com as minhas.
Seriam dúvidas?
Não, não existiam dúvidas.
Estou certo de que
tudo que desejo neste momento
é somente a tua presença.
Como não estás aqui,
comigo, agora,
a solidão deste lugar
se torna maior,
ganha dimensões gigantes
e sinto uma grande dor.
Tua ausência me dói.
A sensação de nada poder fazer
para mudar este momento
é muito ruim.
Continuo resistindo.


APENAS, TUAS MÃOS
Vicente Alencar

Tuas mãos
que se elevam para o alto
contritas, em oração,
também afagam,
acariciam,
amam,
como todo teu corpo.

Tuas mãos
que apertam as minhas
no momento sublime do amor,
são belas, 
são ternas,
são suaves,
e me envolvem
em ardente alegria.

Tuas mãos 
que acariciam,
traduzem em gestos,
movidos pelo amor,
a linguagem nascida 
no coração.


CANTO AO AMOR
Vicente Alencar

Desnudo minha alma
quando estou contigo.
E amo,
penso,
vibro,
descubro raízes
brigo com meus valores,
caminho firme dentro da vida,
pois teus conceitos são janelas
por onde passo a enxergar
pormenores.
São momentos de atenção,
onde ao sabor do movimento
e do calor dos corpos,
sei que vivo.
Sou um homem aberto aos
teus encantos,
aos teus olhares
e teu amor.
Encontro-me contigo, e,
comigo mesmo, 
quando estamos juntos.
Juntos, em corpo, 
pois, juntos, 
estaremos sempre
todo o tempo,
o tempo todo, 
mesmo separados. 
Teu sorriso é meu sorriso,
tua dor é a minha dor,
pois divido nossas emoções.


MARIA DA BARRA
Vicente Alencar

Os barcos da Barra
do Ceará estão cansados.
Os barcos da Barra
estão sem cor.
Os barcos da Barra 
estão tristes.
A morte de Maria
tirou o brilho do dia.
E na noite transtornante
Maria morreu de paixão.

TROVAS
Vicente Alencar

Esta trova de amor
nesta noite de luar
dedico com esplendor
pra teus sonhos embalar.

Este coração que clama,
a toda hora, todo dia,
é porque tanto de ama, 
e quer tua companhia.

No brilho do teu olhar
numa expressão tão discreta
descubro quase a sonhar
este amor que me completa.

Sereia, linda sereia,
você é minha paixão
quando na para passeia
dispara meu coração!...


VICENTE ALENCAR - Jornalista, Radialista, criou e edita os jornais Café Literário, Correio Cearense e O Trovador Cearense, entre outros. Criou o Movimento Cultural Terça-Feira em Prosa e Verso que em Dezembro deste ano completará 20 anos de atividades ininterruptas. Mantém Coluna na Internet promovendo a Cultura Cearense, bem como Programa especializado na Rádio Assunção Cearense AM 620 de 2ª a 6ª feira das 22 às 23 horas. É Sócio Benemérito do Instituto do Ceará - Histórico, Geográfico e Antropológico e foi Presidente da Academia Cearense da Língua Portuguesa, ALMECE e União Brasileira de Trovadores - Secção de Fortaleza. Atual Vice-Presidente da Academia Cearense de Retórica. Dirige a Sociedade Cearense de Geografia e História e a União Brasileira de Radialistas-UBR entre outras atividades.

vicentealencar25@yahoo.com.br  TIM 99994.8679.

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