MORALISMO
E GANÂNCIA
A
palavra moral, acompanhada do sufixo “ismo” é quase sempre usada para
qualificar a moral do outro. A própria tende a ser acrescida do sufixo “ade”. O
primeiro é de origem grega e embora sirva para designar fenômenos linguístico, sistemas
políticos e religiosos ou doença, entre outras coisas, é usado no debate
ideológico, para indicar alguma disfunção ou patologia. Moralismo seria assim a
moral como que patológica, apresentando desvios em relação ao significado
respeitável da palavra, tendo assim claro sentido pejorativo. O sufixo “dade”
se agrega a uma palavra para imprimir a ideia de qualidade ou estado. Não tem
sentido pejorativo. O discurso político se serve dele para proclamar suas
próprias virtudes. A moralidade é sempre aquela de quem se expressa.
Exprobar
a ganância se apresenta como moralidade, virtude associada com superioridade
intelectual justaposta ao superior estado moral de quem a expressa. Mas o que é
ganância? Quais meios usados pelo ganancioso são reprováveis? Quais dos seus fins
são iníquos? Quais efeitos perniciosos desencadeia? Ganância é exclusividade de
quem labora em certas atividades, configurando produto de um tipo específico de
relações sociais, econômicas ou políticas? Lawrence W. Reed, conhecido como
Larry Reed (1953 – vivo), limita o sentido pejorativo da ganância a busca de
vantagem injustificada, sem produzir bens e serviços. Poderíamos acrescentear:
sem as trocas voluntárias dos negócios entre sujeitos capazes, com objeto
lícito e forma não defesa em lei. Fazê-lo assim, e ainda ofertando bens e
serviços, gerando emprego e tributo é legítimo.
Condenável
é a ambição que não oferta bens ou serviços, não tem como arrimo a vontade livre
dos sujeitos envolvidos e disponibiliza o que não é seu. O estelionatário e o
ladrão agem assim. A forma decadente da democracia, que Aristóteles (384 a.C –
322 a.C.) designava como demagogia, oferece bens e serviços que não pertencem
ao ofertante. Oferece regulamentos, exigências e restrições, ao invés dos
haveres aludidos. Não propõe negócios baseado na vontade livre, servindo-se do
poder político para impor os seus designios. Não há virtude em abrir mão do
patrimônio alheio. Para obter dividendos políticos, alavancar a venda de livros,
revistas e jornais ou audiência de programas. Há quem até repita o mesmo
discurso, mudando o título e vendendo o mesmo livro como se fossem vinte obras
diferentes e fica rico condenando a riqueza. Poderia reimprimir com o mesmo
título, mas venderia menos.
A
outra face do moralismo consiste em apresentar como vilão quem satisfaz a
própria ganância pelo modo descrito por Reed como legítimos: ofertando bens e
serviços conforme a vontade livre dos sujeitos, valendo-se de objeto lícito e
forma não defesa, gerando emprego e pagando tributos, sem ofertar o que não lhe
pertence, nem obrigar ninguém valendo-se do poder político. Ganância por
dinheiro é iníqua, mas não se for por poder sobre pessoas? Josef Stalin (1878 –
1953) e Pol Pot (1925 – 1998) não acularam dinheiro. Só queriam poder. Ganância
não é um fenômeno exclusivo de uma dada atividade, sistema político, econômico ou
social. Funcionários públicos e agentes políticos não são mais virtuosos do que
agentes econômicos independentes. Devemos distinguir ambições favoráveis ao
bem-estar daquelas do tipo pernicioso perniciosas.
Fortaleza, 15/7/19.
Rui Martinho Rodrigues.
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