NOVA POLÍTICA?
O Presidente protagoniza embates que não
demonstram habilidade política, no sentido tradicional. Será uma forma de obter
resultados políticos? Será uma tática diferente, uma nova política? Buscar apoio
diretamente nas massas, sem passar por agremiações partidárias não é novidade.
É populismo. Declarações duras, ao gosto popular também. O uso das redes sociais
é novidade do ponto de vista do instrumento usado, mas não deixa de ser a aludida
comunicação direta com as massas.
Articulação, projeto,
definição de políticas e diálogo estão ausentes? Temos neófitos em muitos
postos do governo. O próprio presidente não tem experiência executiva e o
Brasil não é para principiantes, segundo palavras atribuídas a Antônio Carlos
Brasileiro de Ameida Jobim (1927 – 1994). Registre-se que o atual governo foi
eleito por uma frente, quase aliança, ajuntamento de tendências diferentes.
Liberais, conservadores e grupos sem uma identidade política, movidos
unicamente pelo repúdio à improbidade de muitos políticos. Declarações sem
eufemismos produzem um clima inamistoso. Por outro lado, porém, não temos o
tradicional presidencialismo de cooptação, tão repudiado pelos eleitores.
Deveríamos substituir a cooptação pela negociação republicana em torno da
definição de interesse público, ao invés de negociar cargos, verbas e obras
ligadas a negócios suspeitos e ao clientelismo, se isso for possível.
A alegada falta de
projetos e definições políticas estaria inviabilizando o governo. Mas temos a
reforma previdenciária caminhando; mudança na política de concessão de serviços
públicos; simplificação de procedimentos para empreender; encaminhamento de
normas de combate ao crime e à corrupção; iniciativas diplomáticas como a
facilitação da entrada de turistas (com os seus dólares) e acordos como o do
Mercosul e UE, fim do segredo nas transações do BNDES; cumprimento de promessas
de campanha, como o reconhecimento do direito de acesso aos meios de defesa. No
prazo de seis meses não é pouco.
Derrotas do Executivo
atestam o exercício das prerrogativas do legislativo e do Judiciário. Não
estamos acostumados com isso. O presidencialismo, antes de ser adjetivado como
de coalisão, foi classificado como imperial. Já não uma coisa nem outra.
Choramos por isso? Os resultados decorrem das circunstâncias? Ou teremos um
novo jogo político que se serve da comunicação com as massas e do conflito para
obeter resultados?
O mundo está perdendo o
recato. Declarações grosseiras não são um fenômeno unicamente brasileiro.
Contornar os partidos é um desvio de conduta ou uma necessidade diante do fato
de não termos agremiações dignas deste nome? Os “partidos” são cooperativas de
poder, com líderes personalistas e interesses particulares.
A heterogeineidade do
governo é compreensível. É própria de uma frente reunida mais pelo repúdio às
velhas práticas do que por um projeto e agravada pela falta de liderança. Mas
temos um política econômica mais afinada em razão da unificação dos ministérios
da área econômica. Isso é articulação. Temos, no ministério da Justiça, iniciativa
internamente coerente, já impactando nos índices de criminalidade.
A inexperiência de
neófitos é a outra face da não contaminação com vícios de veteranos. Intrigas
palacianas ganham espaço ou visibilidade pela transparência adotada. Isso dará
certo? Será a nova política sem boas maneiras e aos tropeços? Falta habilidade,
é tática ou ambas as coisas? Política é jogo pesado. Tática que funciona é legitimada
pelo eleitorado. O tempo tem as respostas.
Fortaleza, 3/7/19.
Rui Martinho Rodrigues.
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