TRANSTORNO DE PERSONALIDADE MARXISTA, TRAGÉDIA NA
VENEZUELA E ZUMBIS
POR CATARINA ROCHAMONTE
"O curso desse
transtorno costuma ser crônico e persistente; às vezes dura por toda a vida.
Até o momento, desconhece-se uma forma específica de cura".
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08/05/19 18:31
Catarina Rochamonte é graduada em Filosofia pela UECE,
Mestre em Filosofia pela UFRN e Doutora em Filosofia pela Universidade Federal
de São Carlos (Ufscar).
O socialismo é um sistema político
pernicioso sob todos os pontos de vista. É economicamente inviável devido à
prática do centralismo e do dirigismo econômico que manieta a interação
espontânea entre consumidores e engessa a capacidade criativa e ativa do
empreendedor. É filosoficamente insustentável, paradoxal e imoral ao pretender
radicalizar o exercício de poder para, enfim, assegurar a justiça, como se a
justiça pudesse ser corrompida para só depois ser alcançada sob a forma de
equidade material entre todas as criaturas; e é factualmente falho, pois seu
resultado é a condenação à miséria da parcela da humanidade que foi submetida a
esse nefasto experimento social. O povo da Venezuela é atualmente o que mais
sofre as consequências desse desvario teórico nunca eficazmente debelado.
O que faz, porém, com que o discurso
socialista tenha uma aderência mínima a despeito dos máximos desastres que sempre
provoca? O apelo do discurso demagógico, populista, mentiroso e irresponsável
que o propaga. Não adianta, portanto, limitar a questão a um debate no âmbito
econômico, tentando provar que o planejamento central é ineficaz. É preciso que
nos apressemos em destrinçar a linguagem manipulada, denunciando sempre o uso
equivocado, para fins políticos, de determinadas palavras. Ou começamos a
revirar o discurso deles, expondo suas falácias, ou ficaremos presos às suas
teias de argumentações cheias de sofismas.
Com o mesmo despudor de sempre,
incansável no seu ofício de defender o que é nefasto, o Partido dos
Trabalhadores, divulgou – nesse delicado momento político da convulsionada
Venezuela – mais uma nota de apoio ao ditador Nicolás
Maduro. Esse apoio, ainda que explícito, vem floreado de indigestos chavões
ideológicos repetidos a torto e a direito pelos sites de extrema esquerda e
pelos militantes, que só posso ter na conta de maus-caracteres, covardes ou
ignorantes.
Diz a famigerada nota que “o Partido
dos Trabalhadores condena a recente tentativa de golpe na Venezuela, levada a
cabo pela oposição da direita golpista e antichavista.” Na sequência,
chama a ditadura de “governo democraticamente eleito”, afirma
descaradamente que a tentativa de “golpe” fracassou porque o
governo tem um claro apoio popular devido às “políticas voltadas ao
bem-estar da população e contrárias à exploração imperialista e das elites
locais”, exorta ao diálogo e à necessidade de que se leve “em
consideração a vontade expressa no voto popular”, afirma que a “solução
dos problemas venezuelanos passa por levantar o embargo econômico internacional
de que o país e, principalmente, sua população, são vítimas” e –
atingindo os cumes do cinismo e da desfaçatez – conclui afirmando que a “paz
na Venezuela é uma luta de todas e todos os democratas latino-americanos e do
mundo.”
Essa nota é mentirosa, falaciosa,
fantasiosa, maledicente e hipócrita do início ao fim. O mínimo que se pode
dizer de quem adere a um discurso semelhante a esse é que não tem pela verdade
qualquer anelo, zelo ou respeito. Na semana passada, todos assistimos à
fortíssima cena em que um tanque blindado da Guarda Nacional Bolivariana avança
sobre os manifestantes, atropelando-os. No dia seguinte, os jornais nos davam a
conhecer a infeliz declaração do ex-presidente do Uruguai, José Mujica, ao ser
questionado sobre o que achava da cena. Respondeu o “bom velhinho” que “”No hay
que ponerse delante de la tanqueta [não deviam entrar na frente do blindado]”.
Para ironizar um pouco e tentar, com isso, denunciar a hipocrisia daquilo que
seria cômico se não fosse trágico, postei na minha rede social a foto do
atropelamento com o seguinte o comentário: “Momento em que a extrema direita
golpista, antichavista e a serviço do imperialismo norte-americano atropela um
blindado da Guarda Nacional que estava pacificamente nas ruas de Caracas,
defendendo a democracia da Venezuela. O companheiro do Uruguai, José Mujica, já
declarou sua solidariedade ao tanque.”
A manipulação discursiva que
desavergonhadamente faz determinadas palavras serem usadas em um contexto no qual
seu referente é o exato oposto do que o conceito realmente significa, a
distorção aberrante dos fatos e a negação reiterada da realidade são tão
sintomáticas nessa nota do PT, no modus operandi e no discurso da esquerda em
geral, que deveriam começar a ser analisadas como um tipo especial de
Transtorno de Personalidade, como sugere o meu colega de redes sociais, o
médico e psiquiatra forense aposentado Rubens Mazzini Rodrigues.
Mazzine sugere para essa patologia o
nome de Transtorno de Personalidade Marxista e estabelece para ela os seguintes
critérios de diagnóstico:
- a) Visão delirante da realidade e rejeição total a qualquer argumento que se oponha a ela.
- b) Tendência a promover ódio entre classes sociais e entre diferentes raças ou denominações religiosas, ao mesmo tempo em que se acusa os adversários políticos daquilo que a pessoa mesma pratica.
- c) Hábito de culpar um grupo social específico de todos os males da sociedade. Podem ser as “elites”, a burguesia, os judeus, os empresários, os Estados Unidos, os neoliberais etc. Não importa quem ou o quê, desde que possa servir de bode expiatório.
- d) Tendência a distorcer os fatos de todas as formas, de modo a se encaixarem na sua bitolada concepção da realidade, mesmo que, para isso, seja necessário apelar para mentiras e falsificações de toda ordem.
- e) Crença de que tudo é válido para defender suas crenças (suas causas), inclusive o roubo, a corrupção, o homicídio, a mentira, o terrorismo, a promoção da desordem, o aparelhamento das instituições, etc.
- f) Senso obstinado de que seus líderes estão acima da lei e da ordem.
- g) Mudanças súbitas no curso do pensamento que podem levar a sucessivas mudanças de posição, a qual pode, por sua vez, ser completamente oposta à defendida em momentos anteriores. A mudança, porém, não se deve a uma tentativa de aproximação da verdade, mas à necessidade de adequar as circunstâncias ao objetivo maior de hegemonia e poder.
- h) Comportamento obstinado e persistente, mesmo diante de evidências incontestáveis da falência de seus métodos e crenças.
- i) Tendência a se associar a outros portadores do mesmo transtorno com o objetivo de obter controle absoluto sobre a vida e os direitos dos que divergem dos seus pontos de vista.
O curso desse transtorno costuma ser
crônico e persistente; às vezes dura por toda a vida. Até o momento,
desconhece-se uma forma específica de cura, embora haja relatos de remissões
espontâneas pelos mais diversos fatores, que podem variar da simples saída da
universidade (ambiente com maior incidência do caso) a movimentos mais
complexos, como a leitura de obras como “O caminho da servidão”, de
Friedrich Hayek, ou movimentos ainda mais sutis, como a conversão à fé cristã,
que se faz acompanhar de um repúdio imediato às teorias materialistas e imorais
que antes embasavam a reflexão e a conduta do indivíduo transtornado.
Além dos efeitos devastadores sobre o
psiquismo do indivíduo acometido de TPM (Transtorno de Personalidade Marxista), essa
patologia tem amplos efeitos sociais, podendo ser tida na conta de uma grave
pandemia. No caso da Venezuela, por exemplo – cujo ditador é um sequelado
incurável que foi contaminado diretamente pelo seu antecessor Hugo Chávez (que Maduro diz lhe aparecer no
mausoléu na forma de um passarinho) – a recusa da esquerda em
reconhecer o caráter ditatorial e perverso do regime está resultando em
aproximadamente 8.200 pessoas assassinadas em três anos (segundo Anistia
Internacional), centenas de prisões arbitrárias e casos de tortura (segundo
Human Right Watch), aumento de 75% na mortalidade infantil em cinco anos
(segundo Unicef), colapso absoluto do sistema de saúde, propagação de doenças
que podem ser prevenidas por vacinação (como sarampo e difteria), surto de
doenças infecciosas (como malária e tuberculose), previsão de inflação de
10.000.000% e de 44,3% da população sem emprego (segundo FMI), um êxodo de mais
de dois milhões e meio de venezuelanos nos últimos dois anos (segundo a ONU) e
mais de 7 milhões de pessoas necessitadas de ajuda humanitária urgente que,
quando enviada, foi impedida de chegar ao seu destino.
Diante desse quadro, os sequelados
pelo Transtorno de Personalidade Marxista – muito semelhantes a “zumbis” cujos
cérebros foram comidos – vão da negação delirante da realidade (sintoma “a”) à
acusação sistemática de um inimigo imaginário que sirva de bode expiatório
(sintoma “c”). Assim, os Estados Unidos passam a ser o responsável direto pelo
colapso absoluto da economia da Venezuela, embora as tais sanções contra as
quais eles berram tenham começado recentemente e estejam restritas ao
congelamento de ativos de membros da alta hierarquia do governo e à proibição
de compra, pelos americanos, de títulos do Tesouro Venezuelano ou de títulos
emitidos pela sua estatal petrolífera.
Brincadeiras à parte, há denúncias
gravíssimas – devidamente documentadas – acerca da relação da ditadura bolivariana com o
narcotráfico, com armas nucleares e com o terrorismo. Tudo isso está
exposto, com base em milhares de páginas de documentos, pelo jornalista
investigativo Leonardo Coutinho, no seu livro Hugo Chávez, o espectro , que descreve
“como o presidente venezuelano alimentou o narcotráfico, financiou o terrorismo
e promoveu a desordem global”. A investigação e a pesquisa documental expostas
nesse livro demonstram que “a destruição da Venezuela é apenas a face mais
evidente de uma intrincada rede de organizações políticas e criminosas que
foram criadas ou alimentadas por Hugo Chávez como parte de seu sonho de
reengenharia global”. Esse projeto foi herdado e piorado por Nicolás Maduro que
conduziu o país a “um colapso econômico e institucional sem precedentes”. E foi
financiado pelo Brasil durante os governos petistas.
Diante dessa realidade ominosa, a
Venezuela luta para se libertar e tenta chamar a comunidade internacional à
responsabilidade de efetivar esse processo. A coordenadora Nacional da Vente
Venezuela, Maria Corina Machado, foi enfática e explícita, em entrevista publicada no dia
07/05/2019 , quanto à necessidade de intervenção estrangeira na Venezuela. A
ex-deputada desabafou questionando: “é claro que há apenas uma opção, que os
militares não vão ceder até que haja uma força externa para contrariar o Estado
criminoso. O que está faltando?” e complementa na sequência: “a
responsabilidade cabe à comunidade internacional, e essa comunidade deve
definir como vai fazer isso. É genocídio em câmera lenta. É uma política
deliberada”.
O presidente interino da
Venezuela, Juan Guaidó, já afirmou que avalia pedir aos Estados Unidos uma
intervenção militar. Eu, particularmente, sou a favor de que se tire Maduro do
poder à força e não acho que a hipótese de intervenção possa ou deva ser
descartada. Já afirmei isso em artigo anterior e voltei a afirmar recentemente
em um debate do qual participei na Radio O POVO CBN. Devido a esse
posicionamento, fui acusada pelo meu interlocutor no referido debate de
finalmente ‘deixar cair a minha máscara’ e ‘colocar as minhas cartas na mesa’.
Ele concluiu o debate nesse tom, acusando-me de “um discurso bélico, guerreiro,
intervencionista, que quer criar um Vietnã na América Latina”.
Ora, eu já escrevi artigo dizendo
exatamente aquilo que ele me acusou de querer esconder: que, de antemão, não
sou contra a intervenção estrangeira na Venezuela. Portanto, não há máscara.
Máscara quem usa é a esquerda que, hipocritamente, dá chiliques e tem
convulsões quando se fala em intervenção americana e/ou brasileira. Berram logo
algo acerca da soberania e da não ingerência, como se o Brasil governado pelo
PT não tivesse se imiscuído de maneira criminosa nos assuntos desse país
vizinho, seja na forma de empréstimos bilionários via BNDES, seja enviando
marqueteiro (pago com dinheiro roubado dos brasileiros) para fazer campanha,
seja fazendo manobras escusas para tirar o Paraguai do Mercosul e fazer entrar
a Venezuela. Ou seja, a esquerda apoia a ingerência para financiar e sustentar
o regime genocida, mas condena a ingerência cujo objetivo é ajudar o povo
desarmado a se libertar do jugo da tirania.
O argumento da não intervenção é o
argumento da autodeterminação. Várias vezes o meu interlocutor repetiu que
cabia ao povo venezuelano resolver sua situação, ao que eu replicava sempre que
esse povo está tentando desesperadamente fazer isso e que já apresentou várias
soluções democráticas, todas elas rejeitadas pelo ditador. A esquerda
latino-americana criou o totalitarismo venezuelano e agora quer lavar as mãos,
dizendo: “virem-se”. A extrema esquerda brasileira tem sangue venezuelano
inocente nas mãos e continua hipocritamente afirmando que não são os Estados Unidos
ou o Brasil que devem resolver a “crise política”, mas sim os venezuelanos
desarmados, famélicos, esgotados, desnutridos e massacrados.
A autoproclamação de Juan Guaidó como
presidente interino é legítima, constitucional, democrática, republicana e internacionalmente
reconhecida como tal, mas a esquerda surtada, os “zumbis descerebrados”
como Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, Paulo Pimenta, Monica
Valente (que assinam a abjeta nota do PT) falam em “direita
golpista e antichavista” quando nem de direita e muito menos golpista a
oposição venezuelana é.
Friso novamente as palavras da
ex-deputada Maria Corina: “É genocídio em câmera lenta. É uma política
deliberada” e encerro essas reflexões com algumas perguntas: o povo alemão sob
Hitler tinha autodeterminação? O povo russo sob Stálin tinha autodeterminação?
O povo chinês sob Mao Tsé-Tung tinha autodeterminação? O povo cambojano
sob Pol Pot tinha autodeterminação? Os norte-coreanos sob Kim-Jong-Un têm
autodeterminação? Tampouco a tem, nesse sentido, o povo venezuelano. É um povo
de coragem, que está em luta e clama por ajuda. Se você não pode ajudar, pelo
menos não seja mais um “zumbi”.
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