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e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quinta-feira, 30 de maio de 2019

DOENÇA DE CHAGAS ENTRA OFICIALMENTE NO CALENDÁRIO MUNDIAL DA SAÚDE


Assembleia Mundial da Saúde aprova 14 de abril como Dia Mundial da Doença de Chagas. Medida busca chamar atenção para o agravo, que atinge mais de oito milhões de pessoas no mundo, mas permanece negligenciado 110 anos após descoberta
O dia 14 de abril foi oficialmente declarado Dia Mundial da Doença de Chagas. A decisão da 72ª Assembleia Mundial da Saúde – que reúne delegações de todos os estados-membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) – foi anunciada nesta sexta-feira, 24 de maio, em Genebra, na Suíça. Descrito no Brasil, há 110 anos, pelo médico Carlos Chagas, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o agravo é classificado pela OMS como doença tropical negligenciada. Desde a descoberta pioneira, a investigação científica sobre a doença vem sendo desenvolvida de forma ininterrupta no Instituto e também na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – o que não apenas demonstra que o legado de Carlos Chagas permanece vivo, mas reflete que a infecção permanece como um desafio com profundas raízes sociais. [Confira depoimentos de pesquisadores que trabalham por um mundo livre da doença de Chagas.]
Com estimativa de mais de oito milhões de pessoas afetadas no mundo, a mobilização pela visibilidade do agravo partiu dos pacientes e teve intenso apoio da comunidade científica e da saúde, inclusive no IOC e na Fiocruz. Desde sua fundação, em 2009, a Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas (FINDECHAGAS), que reúne 20 organizações da sociedade civil de diferentes partes do mundo, defende a criação do Dia Mundial. Neste ano, após a inclusão do tema na pauta da 72ª Assembleia Mundial da Saúde, um abaixo-assinado online conseguiu mais de dez mil assinaturas.
Escolhido como Dia Mundial, o 14 de abril lembra a data de 1909 em que Carlos Chagas identificou, pela primeira vez, o parasito Trypanosoma cruzi, causador da infecção, em uma paciente: Berenice, uma menina de 2 anos, moradora da cidade de Lassance, em Minas Gerais. Publicada na revista científica ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’, a descrição do ciclo da doença de Chagas foi um dos feitos mais emblemáticos da ciência brasileira. Além de caracterizar o agente causador da infecção e o conjunto de sintomas, Carlos Chagas identificou o inseto transmissor: o triatomíneo, popularmente conhecido como barbeiro. A paciente Berenice foi reencontrada em 1961 e foi estudada por João Amílcar Salgado até 1981, quando faleceu.
Passados 110 anos da descoberta, estatísticas estimam que menos de 10% das pessoas com Chagas são diagnosticadas oportunamente e apenas 1% recebem o tratamento adequado. De acordo com a OMS, 65 milhões vivem com risco de contrair a infecção. Assim como outras doenças tropicais negligenciadas, o agravo está associado com a pobreza. Condições precárias de moradia favorecem a infestação de barbeiros, que transmitem o T. cruzi. Uma vez que a doença pode ser silenciosa na fase aguda, o baixo acesso a serviços de diagnóstico, faz com que muitos pacientes não recebem a medicação adequada logo após o contágio, quando o tratamento pode eliminar o parasito. Na fase crônica, após décadas de infecção, cerca de 30% dos indivíduos desenvolvem problemas cardíacos ou digestivos. As condições podem levar à morte, mas o diagnóstico e o tratamento adequados são capazes de prolongar e aumentar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, estudos recentes indicam que há entre 1,9 milhões e 4,6 milhões de pessoas infectadas pelo T. cruzi – sendo a grande maioria portadores crônicos – e a doença de Chagas é uma das quatro maiores causas de morte por agravos infecciosos e parasitários. Em 2006, o país recebeu o certificado internacional de eliminação do Triatoma infestans, principal espécie de barbeiro responsável pela transmissão domiciliar da infecção. No entanto, ainda existem focos residuais do vetor e outras espécies de triatomíneos apresentam potencial para colonização de domicílios, reforçando a importância de ações de vigilância e controle. Além disso, a transmissão oral do agravo é uma preocupação no país. De 2008 a 2017, casos desse tipo foram registrados em 21 estados do país. Associada a surtos, a infecção oral ocorre pelo consumo de alimentos infectados pelo T. cruzi, como, por exemplo, açaí ou caldo de cana, nos quais barbeiros são acidentalmente triturados durante o preparo dos sucos.
Por muito tempo, a doença de Chagas foi uma infecção restrita às Américas, em especial à América Latina. No entanto, nas últimas duas décadas, o agravo se espalhou para outros continentes, com casos registrados nos Estados Unidos, Canadá e diversos da Europa, além de Austrália e Japão. Associada principalmente as migrações humanas, a disseminação da doença também foi registrada em casos de transfusão de sangue e doação de órgãos, uma vez que a triagem para a infecção não era realizada em alguns países.
Reportagem: Maíra Menezes
Edição: Raquel Aguiar
24/05/2019

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