Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Poema de Clauder Arcanjo

Sinos ofendidos



Clauder Arcanjo



A noite foi tão violenta

Que os sinos, ofendidos

Silenciaram na manhã

Que raiou rubra de vergonha.



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Sinos da anunciação



Clauder Arcanjo



Em cada intenso badalar

A dor ou mesmo a alegria,

Se criança ou se velho,

Pouco vale a primazia.



Nas terras deste sertão,

Ao nascer nesta cercaria,

No outro lado da porteira


Morrem pai, a mãe e a cria.



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Sinos de estremecer



Clauder Arcanjo



Na boca da calçada

A velha a mascar seu terço

Apesar da chama da vela

Estremecer no castiçal



Na boca do quarto

O filho a olhar seu pai

Apesar de todo morto

Estremecer no pedestal



Na boca do novo dia

A cidade a enterrar sua cria

Apesar do badalar do sineiro


Estremecer casas e matagal.



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Sinos de silêncio



Clauder Arcanjo



Para José Alcides Pinto

(In memoriam)



Para cada ideia posta

E não desvelada

Para cada segredo roto

E não sublimado

Para cada silêncio estreito

E não vituperado

Nossos sinos, Alcides

Saúdam as ribeiras

Em coitos no Acaraú

Hoje

Sem o teu desembaraço

Sem o teu corpo-fauno

Sem tua palavra nua

Crua, em riste, a insultar

Os santos e a vagina das ruas.

Hoje

Cada poema novo, José

É um silêncio, Pinto de Alcides.



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Sinos de ciúme



Clauder Arcanjo



Criticávamos o badalar

Daquele velho sino banal.

E, hoje, em meio ao silêncio,

Vazio da grande cidade,


Oramos sob o bronze da catedral.



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