Sinos ofendidos
Clauder Arcanjo
A noite foi tão violenta
Que os sinos, ofendidos
Silenciaram na manhã
Que raiou rubra de vergonha.
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Sinos da anunciação
Clauder Arcanjo
Em cada intenso badalar
A dor ou mesmo a alegria,
Se criança ou se velho,
Pouco vale a primazia.
Nas terras deste sertão,
Ao nascer nesta cercaria,
No outro lado da porteira
Morrem pai, a mãe e a cria.
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Sinos de estremecer
Clauder Arcanjo
Na boca da calçada
A velha a mascar seu terço
Apesar da chama da vela
Estremecer no castiçal
Na boca do quarto
O filho a olhar seu pai
Apesar de todo morto
Estremecer no pedestal
Na boca do novo dia
A cidade a enterrar sua cria
Apesar do badalar do sineiro
Estremecer casas e matagal.
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Sinos de silêncio
Clauder Arcanjo
Para José Alcides Pinto
(In memoriam)
Para cada ideia posta
E não desvelada
Para cada segredo roto
E não sublimado
Para cada silêncio estreito
E não vituperado
Nossos sinos, Alcides
Saúdam as ribeiras
Em coitos no Acaraú
Hoje
Sem o teu desembaraço
Sem o teu corpo-fauno
Sem tua palavra nua
Crua, em riste, a insultar
Os santos e a vagina das ruas.
Hoje
Cada poema novo, José
É um silêncio, Pinto de Alcides.
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Sinos de ciúme
Clauder Arcanjo
Criticávamos o badalar
Daquele velho sino banal.
E, hoje, em meio ao silêncio,
Vazio da grande cidade,
Oramos sob o bronze da catedral.
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