VISITA
AO PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO (INTEGRAÇÃO) DO RIO SÃO FRANCISCO
Antônio
de Albuquerque Sousa Filho, Presidente da ACE.
-
INTRODUÇÃO:
Comitiva
da Academia Cearense de Engenharia (ACE), juntamente com
representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do
Ceará (CREA-CE), estiveram no período de 26/10 a 29/10/2016,
visita ao Projeto de Transposição do Rio São Francisco,
oficialmente denominado Projeto de Integração do Rio São
Francisco, nos Municípios de Mauriti, Brejo Santo e Jati, no Ceará
e Cabrobó e Salgueiro, em Pernambuco, no trecho chamado Eixo Norte.
A
história da transposição começa em 1847, no período do Império
Brasileiro de Pedro II, tendo em consideração a sugestão do Dr.
Marco Antônio de Macedo que imaginou um canal ligando o São
Francisco até o Rio Salgado no Ceará, por meio de gravidade,
visando solucionar a seca no Nordeste. O que não foi adiante por
falta de conhecimento e equipamentos da engenharia inexistentes na
época. No governo do Presidente Getúlio Vargas a discussão foi
retomada, sem qualquer avanço. Durante o Governo do Presidente João
Batista Figueiredo, quando ocupava o Ministério do Interior Mário
Andreazza, foi elaborado o primeiro projeto consistente a cargo do
extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS).
No
governo de Itamar Franco, foi nomeado Ministro da Integração
Nacional o Deputado Aluízio Alves, do Rio Grande do Norte para
realizar estudos sobre o potencial hídrico das bacias semiáridas
dos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.
Quando Fernando Henrique Cardoso assumiu seu primeiro governo assinou
o documento ¨Compromisso pela Vida do São Francisco¨ com
objetivos de revitalização do rio e a construção de canais de
transposição: Eixo Norte, Eixo Leste, Sertão e Remanso, bem como
previa ainda a transposição do Rio Tocantins para o Rio São
Francisco. Através de Decretos Governamentais foram criados os
projetos Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF)
e o Projeto de Conservação e Revitalização da Bacia Hidrográfica
do São Francisco (PCRBHSF). Em decorrência de tais projetos surgiu
a Lei das Águas e os Comitês das Bacias, formados por
representantes dos estados e municípios cujos territórios fazem
parte da bacia, dos usuários das águas e entidades civis de
recursos hídricos que atuem na bacia.
No
primeiro governo do Presidente Lula foram contratadas as empresas
Ecology and Environment do Brasil, Agrar Consultoria e Estudos
Técnicos e JP Meio Ambiente para reformularem e continuarem os
estudos ambientais da transposição do rio e conseguir o
licenciamento junto ao IBAMA. Também foram realizados estudos
sobre Inserção Regional, relativo a demanda e
disponibilidade de água no Nordeste Setentrional e de Viabilidade
Técnico-Econômica, considerando o melhor traçado dos canais,
planejamento, custo da obra e sua viabilidade econômica. Os estudos
finais foram concluídos em julho de 2004, com a versão atual do
projeto que passou oficialmente a ser chamado de Projeto de
Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional.
Depois
de muita polêmica e resistências por parte dos Estados da Bahia,
Sergipe, Alagoas e Minas Gerais, setores da Igreja Católica (com
bispo realizando protesto de fome), ecologistas, indianistas e
setores governamentais do poder central e graças à habilidade do
Vice-presidente da época, José de Alencar, designado pelo
Presidente Lula como mediador dos conflitos existentes e a
determinação do Ministro de Integração Nacional, na época Ciro
Gomes as obras tiveram inicio em julho de 2007, através do Exército
Brasileiro.
-
O PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO
O
projeto em execução consta da construção de dois eixos (Leste e
Norte), compreendendo canais, túneis, aquedutos, estações de
bombeamento e reservatórios, envolvendo os Estados de Pernambuco,
Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, beneficiando uma população
de 12 milhões de habitantes, em 390 comunidades.
O
modelo adotado de construção foi de licitação dividido em seis
trechos de obras (Metas 1N, 2N, 3N, 1L, 2L, e 3L).
A
meta 1N, compreende 140 Km. de canais que vai da captação do Rio
São Francisco, no município de Cabrobó (PE) até o reservatório
de Jati (CE). A obra passa pelos municípios de Cabrobó, Salgueiro,
Terra Nova e Verdejante em Pernambuco e Penaforte, no Ceará, estando
90% concluída. Faltam a construção de 10 Km. de canais, concluir
o túnel em Jati e outro na fronteira com o Estado de Pernambuco.
A
meta 2N, tem 40Km de extensão, começa no reservatório Jati (CE) e
termina no reservatório Boi II, em Brejo Santo. Este trecho passa
pelos Municípios de Jati, Brejo Santo e Mauriti, no Ceará. No
referido trecho todos os canais estão concluídos, bem como os
aquedutos, o túnel de 15 Km. de cumprimento, com 9 metros de
altura e largura, que liga o Ceará a Paraíba. Estão em conclusão
(equipes trabalham 24 horas), as barragens Boi I, Boi II, Cipó, Cana
Brava, Porcos e Atalho (já concluída).
A meta 3N, com 81
Km, que vai do reservatório Boi II município de Brejo Santo até o
reservatório Engenheiro Ávidos, no município de Cajazeiras (PB),
estando 60% concluída. Este trecho passa pelos municípios de Brejo
Santo, Mauriti, Barro, no Ceará e Monte Horebe, São José de
Piranhas e Cajazeiras, na Paraíba.
A meta 1L,com 16
Km, compreende a captação no reservatório de Itaparica até o
reservatório de Areia, ambos no município de Floresta, em
Pernambuco, estando com 93% concluída.
A meta 2L, tendo
167, Km. vai da saída do reservatório Areias, em Floresta (PE) até
o reservatório Barro Branco, em Custódia (PE), passando pelos
municípios de Floresta, Custódia e Betânia, todos em Pernambuco,
estando 70% concluída.
A meta 3L, com 34
Km., compreende o trecho entre o reservatório Barro Branco (PE) e o
reservatório Poções, em Monteiro (PB). A obra passa pelos
municípios de Custódia e Sertânia (PE) e Monteiro (PB), estando
25% concluída.
A obra da
transposição do Rio São Francisco, engloba a construção de 4
túneis, 14 aquedutos, 9 estações de bombeamento, 27 reservatórios
que funcionarão como pulmões de água , visa deslocar 1.4 % de água
da vazão média do rio, tendo 38 programas ambientais e sociais(
saúde, educação). Segundo informa o Ministério de Integração
Nacional, a obra em termos de engenharia, apresenta-se no final de
outubro de 2016, 86,3 % concluída.
-
A VISITA AO PROJETO
A
visita da comissão da ACE ao Projeto de Transposição ao Rio São
Francisco começou com deslocamento via a Empresa Aérea Avianca, no
trecho Fortaleza- Juazeiro do Norte, no dia 26/10/16, voo 6378, que
saiu às 18:17 h. chegando às 19:15 e Hospedagem no Hotel Verdes
Vales, em Juazeiro do Norte.
No
dia 27/10, as 7:30 h. o grupo acrescido por dois conselheiros do
CREA-CE e um engenheiro do Cariri Cearense , deslocou-se via
micro-ônibus da Empresa Pernambucana, rumo a Mauriti (CE), com
parada, inicial no município de Barbalha para uma visita a unidade
do CENTEC, onde foi instalada uma unidade fabril denominada Fabrica
Escola de Rapadura e Aguardente.
Ao chegar ao município de Mauriti fomos recebido pelo engenheiro
Alexandre de Sousa Fontenelle, do Ministério de Integração
Nacional, que levou a comissão a percorrer 40 Km. de canais a maior
parte revestidos com placas de concreto, tendo em sua base manta
asfáltica revestida de concreto e outros com lençóis subterrâneos
de água elevados tendo suas bases e taludes revestidos por pedras,
todos prontos; passando por três aquedutos, dentre eles o de pinga;
o túnel de 15 Km. de cumprimento, tendo 9 metros de altura e
largura, tendo metade no Ceará e o restante na Paraíba, concluído;
a construção das barragens de Boi I, Boi II, Porcos, Cana Brava,
Cipó e Atalho (já concluída), estas situadas no município de
Brejo Santo, cuja conclusões são previstas para dezembro/16. Após
as visitas nos deslocamos para o canteiro de obras da Empresa
SERVANG, onde almoçamos.
Após
o almoço a comissão deslocou-se para o município de Jati,
visitando in loco a construção da barragem e de um túnel que
levará água para o restante do projeto nos Estados do Ceará e
Paraíba A obra é complexa, de dimensão significativa, com muitas
máquinas e operários trabalhando, mas que exigirá no mínimo de
quatro a seis meses de obra.
Antes
de chegarmos às obras da barragem de Jati, demos uma parada ao lado
da BR-116 para verificar andamento da construção de um trecho do
Cinturão das Aguas, que levará de Jati ao Cariri Cearense, águas
da transposição do São Francisco, a cargo do Governo Estadual.
Depois
da visita a Barragem de Jati, fomos direto ao Município de Salgueiro
(PE) para o pernoite, onde o grupo foi hospedado em dois hotéis:
Salgueiro Plaza Hotel e Hotel Imperial.
No
dia 28/10, acompanhado pelo engenheiro João Edinaldo, do Ministério
de Integração Nacional, fomos visitar o local de captação da água
do Rio São Francisco, do Eixo Norte, próximo à Ilha de Assunção
(tribo indígena dos Trukas),no município de Cabrobó, onde começa
o canal de aproximação, construído pelo 2º Batalhão de
Engenharia do Exército Brasileiro, de aproximadamente 2 Km. até a
Primeira Estação de Bombeamento I-1, das 3 existentes no Eixo
Norte. O canal de aproximação é revestido por pedras, cuja
tecnologia é o tipo caixa, obra executada pela Empresa Mendes
Júnior.
Em
seguida, estivemos visitando a primeira Estação de Bombeamento de
águas, trecho 1N, onde está previsto a instalação de oito bombas
(já todas no local), tendo duas instaladas, da marca SULZER (suíça).
O prédio da primeira Estação de bombeamento tem 42 metros de
altura, sendo 15 metros abaixo de seu piso (27 metros do piso ao
teto) e elevando a água do canal de aproximação para os primeiros
canais de concreto a 36 metros. As bombas são enormes, segundo
informações do técnico tem mais de 3 mil peças. A construção do
prédio da Estação de Bombeamento, bem como a instalação das
bombas foi executada pela Construtora Mendes Júnior. Ao lado dos
prédios das Bombas de Elevação existem Estações Abaixadoras de
energia elétrica.
Depois
fomos a ver a Barragem de Tucutu, seguindo até Salgueiro ao lado de
canais já prontos e alguns aquedutos, parando em Salgueiro para
almoço.
Após
o almoço seguimos para visitar a Estação de Bombeamento I-2, cujo
prédio, montagem das bombas e construção dos canais de concreto
foram construídos pela Mendes Júnior. Da Estação de Bombeamento 1
até a estação de Bombeamento 2, existe água nos canais
construídos Na Estação 2 estão montadas 2 bombas marca ALSTOM
(francesa) e outras seis já estão no local. A elevação das águas
entre o canal que traz água da Estação 1 para a que passa para os
canais a partir da Estação 2 é de 55 metros.
Depois
seguimos para visitar a Estação de Bombeamento I-3, cuja construção
parcial de seu prédio, dos canais e montagem das máquinas está
paralisada, dado o abandono das obras por parte da Construtora Mendes
Júnior. Faltam concluir 10 Km. de canais, montagem das bombas e
abertura de um pequeno túnel entre Pernambuco e Ceará. Este é o
grande obstáculo para as águas do São Francisco chegar ao Ceará.
Em
seguida, rumamos para Juazeiro do Norte, onde pernoitamos no Hotel
Verdes Vales e no dia seguinte (29/10/16) retornamos a Fortaleza pela
Empresa Avianca, Voo 6376, às 7:25 h.
-
CONCLUSÂO
A
visita proporcionou aos associados da nossa Academia, um conhecimento
real do andamento da construção do Eixo Norte, do Projeto de
Transposição do Rio São Francisco. Vai permitir uma tomada de
posição dos nossos acadêmicos perante um tema dos mais importantes
para o desenvolvimento do Estado do Ceará, tendo em vista a escassez
de águas decorrente de cinco anos de seca, provocando queda da
produção agrícola, industrial e riscos de sobrevivência humana.
O
projeto de transposição é a maior obra de infraestrutura hídrica
do País e figura entre as 50 maiores construções de infraestrutura
em execução no mundo. É orgulho para a engenharia brasileira e
principalmente, é a redenção do Nordeste Brasileiro, na parte
relacionada com a sua região do semiárido.
Agradecemos
a todos aqueles que possibilitaram a nossa visita principalmente ao
confrade Francisco José Coelho Teixeira (Secretário de Recursos
Hídricos do Ceará), que facilitou o nosso contato com a
Secretaria de Infraestrutura Hídrica, do Ministério da Integração
Nacional; ao Dr. Frederico Meira, Coordenador de Obras do Projeto de
Transposição; aos engenheiros Alexandre Fontenelle e João Edinaldo
do Ministério da Integração Nacional que acompanharam com muita
competência e cortesia as diferentes etapas de nossa visita. A todos
os nossos sinceros agradecimentos.
REFERÊNCIAS:
Aveiro,
Carolina. A Transposição do Rio São Francisco: Aspectos polêmicos
e Jurídicos.Justbrasil.com.br, 29 de Outubro de 2016.
Portal
Brasil, de 29/10/2016. Obras do Projeto São Francisco continuam,
garante governo.
Wikipédia,
Transposição do rio São Francisco, 30/10/2016.
Revista
Super Interessante. Por que a transposição do rio São Francisco é
tão polêmico. 6/12/2005 e atualizado em 19/10/2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário