Apesar dos cofres abertos ao Parlamento, Dilma enfrenta dificuldades na Comunicação
31/7/2013 14:58
Por Redação - de Brasília, Recife e Porto Alegre
Por Redação - de Brasília, Recife e Porto Alegre
O Palácio do Planalto, às voltas com a queda na popularidade da presidenta Dilma Rousseff e a crise interna na base aliada, enfrenta o assédio dos parlamentares – que voltam do recesso dispostos a analisar matérias desconfortáveis para o governo – com a liberação de parte das emendas dos deputados até o final do ano, mensalmente, até o total de R$ 6 bilhões. Dilmapretende, assim, driblar as dificuldades que, certamente, enfrentará nas votações importantes durante o segundo semestre. Ela pediu aos ministros uma lista dos principais projetos contidos nas emendas que seguem sem solução em cada pasta.
A rebelião no PMDB e a decisão de romper a aliança política que o une ao PT, por segmentos mais radicais do partido, estão na raiz da decisão de Dilma, que busca neutralizar a proposta de Orçamento impositivo e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa reduzir para 20 os atuais 39 ministérios. A presidenta esteve reunida, na noite passada, por mais de três horas no Palácio da Alvorada, e cobrou dos ministros políticos novo esforço concentrado para controlar deputados e senadores de seus partidos. Ela também prometeu empenhar R$ 2 bilhões de emendas individuais agora, no início de agosto.
As outras parcelas, no mesmo valor, devem ser liberadas entre setembro e novembro. No mês passado o governo também reservou R$ 2 bilhões para o pagamento de emendas, mas até agora elas não foram efetivamente liberadas. Conhecido no Congresso como “peça de ficção”, o Orçamento prevê R$ 8,9 bilhões para essa finalidade, ao longo deste ano.
– É um primeiro passo para melhorar a relação com a base aliada. Trata-se de um gesto fundamental porque, afinal de contas, as emendas são legítimas e importantes como investimento para os municípios. Mas, de qualquer forma, a presidente terá de ouvir mais a opinião dos parlamentares e debater projetos com mais antecedência – afirmou o vice-presidente da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR).
Estimativas do Planalto apontam que, se a rebelião dos aliados seguir adiante, poderá causar um déficit de R$ 6,2 bilhões por ano aos cofres públicos. Outros desafios do governo no Congresso são a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a aprovação da MP do projeto Mais Médicos e o Código da Mineração.
Comunicação
Embora a presidenta resista, tanto o marqueteiro João Santana, responsável pela imagem política da futura candidata Dilma, quanto o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que hoje exerce um papel de coordenador político no governo, tentam convencê-la a dialogar mais com jornais, rádios, TVs e, fundamentalmente, com a internet e as redes sociais, como forma de reduzir o número de curtos-circuitos na comunicação com aliados e com os eleitores. A vertiginosa queda de popularidade da presidenta é atribuída, em grande parte, à falta de coordenação dos setores responsáveis por se relacionar com a opinião pública.
Os erros na área de Comunicação Social da presidenta, porém, acumulam-se e tendem a se agravar, caso siga adiante a CPI da Rede Globo, proposta na Câmara por Protógenes de Queiroz (PCdoB-SP), que já teria número suficiente de assinaturas para levá-la à Mesa Diretora. A leitura da proposta, em Plenário, no entanto, é um passo que setores do Planalto tentam evitar a todo custo. Fonte ligada à Mesa Diretora da Câmara, ouvida pelo Correio do Brasil com um pedido de confidencialidade, revela que uma investigação mais profunda no relacionamento entre a emissora de TV do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, e as agências de propaganda que atendem ao Núcleo de Mídia da Presidência da República, “poderá abrir os portões do inferno para a presidenta Dilma”.
– Desde que o governo da presidenta Dilma chegou ao poder, foram investidos mais de R$ 2 bilhões na Rede Globo, em anúncios e promoções. Ocorre que, neste período, já havia um processo instaurado contra a holding que controla as emissoras de rádio, TV e o jornal O Globo, instaurado na Receita Federal, por sonegação de impostos, e outros, na área criminal, que poderão afetar o grupo controlado pela família Marinho. Revirar esse assunto é semelhante a mexer num vespeiro – disse.
Este, no entanto, é exatamente o objetivo do deputado Protógenes que volta, em Agosto, a insistir na abertura da CPI para investigar o assunto. Mas ele já espera encontrar a resistência a que se referia a fonte ouvida pelo CdB, em Brasília, e convoca os manifestantes que promoveram atos públicos em frente à emissora, nas principais capitais do país, a protestar na Praça dos Três Poderes.
– Se fizerem corpo mole, essa CPI com certeza não sai. É preciso repetir os atos públicos que pedem uma apuração rigorosa sobre as ramificações da Globo nos vários negócios realizados com dinheiro público; além da possível sonegação de impostos, que pode chegar a R$ 1 bilhão – afirmou o parlamentar, em entrevista ao CdB, nesta quarta-feira.
Assista ao vídeo produzido pela Rede Record:
‘Torcida’ no Nordeste
Na pista de descida em que o governo Dilma patina, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), avisou na noite passada, em discurso no sertão de seu Estado, que “a fila anda”. Campos, que também é presidente do PSB e provável candidato à presidência da República em 2014, acredita que as próximas eleições serão marcadas por um novo ciclo político. Ele frisa que é preciso “estar sintonizado com o sentimento da população, que saiu às ruas no mês de junho”.
– É preciso que os governantes saibam o seguinte: a fila anda. Quando você termina um serviço não é hora de descansar, é hora de pegar noutro, porque sempre está faltando alguma coisa – disse, numa fala que lembra sua campanha do PSB desse ano, transmitida em rádio e televisão.
Campos voltou a ser questionado sobre o lançamento de sua candidatura ao Planalto, no ano que vem, mas voltou a responder que o assunto será debatido somente no ano que vem. Por enquanto, ele segue na torcida pela presidenta Dilma.
– O apressado come cru – filosofou.
Quanto aos terremotos em série que ocorrem na base aliada, o governador nordestino que comanda dois ministérios e atua como aliado nas votações do Congresso, tem o seu projeto político praticamente garantido. Mas ainda não seria a melhor hora para tomar atitudes que possam atrapalhar a administração federal.
– Veja que a nossa posição é de ajudar as conquistas, eu não participo de nenhuma atividade para fragilizar a presidente Dilma – garante.
Mas deixa claro que discorda dos rumos do governo, em determinados pontos:
– Ela (Dilma) não tem que concordar comigo, mas eu tenho o direito de ter opiniões diferentes.
Rebelião no Sul
Enquanto Campos fala em torcer pela presidenta Dilma e a base aliada que a sustenta no Congresso, o governador petista Tarso Genro praticamente implodiu a aliança entre o PT e o PMDB, em uma entrevista ao diário conservador carioca O Globo. Genro fez coro com a ala mais do PT mais à esquerda, que faz um duro discurso em favor do rompimento do partido com os peemedebistas. Ele defendeu um comportamento “mais coerente e menos pragmático” em 2014 para enfrentar as exigências de um eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
– Se a bancada do PMDB continuar sujeita a interesses meramente fracionários e regionais, que estão travando projetos como os que mencionei, acho que o PMDB se torna mais um problema do que uma solução – disse Genro.
Tanto a ala do governador e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quanto outros setores minoritários da legenda acreditam que o PT deva fazer alianças com vistas a 2014 com partidos da esquerda e da centro-esquerda. A sugestão já está escrita no documento intitulado “Para o PT liderar um novo ciclo da revolução democrática”, elaborado pela corrente Mensagem ao Partido, a mesma em 2005 propôs a “refundação” da legenda. O texto, redigido pela chapa que apoia a candidatura do deputado Paulo Teixeira (SP) à presidência do PT, afirma que as parcerias com “setores conservadores” são um “empecilho” para mudanças, como a instituição do imposto sobre grandes fortunas.
“O novo quadro anuncia, neste momento, uma disputa mais complexa do que a anteriormente esperada para as eleições de 2014. Não parece mais bastar a divulgação dos enormes avanços dos dez anos do governo Lula e Dilma e a comparação com o período anterior”, diz o texto, numa referência ao governo do tucano Fernando Henrique Cardoso. O texto, inclusive, já teria sido flexibilizado antes de sua divulgação final, pois inicialmente foi proposto o rompimento, puro e simples, com partidos “conservadores”
O texto, de seis páginas, serviu de base para a resolução política aprovada nesta segunda-feira pelo diretório nacional do PT e exclui o PMDB e outros partidos da base aliada do arco de alianças que poderiam ajudar na implementação do “programa democrático” petista. Segundo o PT, as alianças para implantação do programa petista vão além dos “acordos parlamentares necessários”.
“As alianças para efetivação desse programa democrático vão além dos acordos parlamentares necessários. Englobam todos os partidos de esquerda, movimentos sociais e coletivos autônomos que estejam dispostos a cerrar fileiras para defender uma pauta de reformas populares”, diz o documento.
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