Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sábado, 10 de novembro de 2012

Entre a caatinga e o cangaço

Veículo: O Estado Cidade: Fortaleza Editoria: Opinião Coluna:Jornalista: - 
Data: 15/08/12 Pág. 2 51 cm/col. Tipo de mídia: Impresso

Entre a caatinga e o cangaço

Melquíades Pinto Paiva é um cangaceiro das Caatingas sertanejas, versado em muitas Ciências e Letras, dotado de muitos talentos. Como todo nordestino que se preza, com ele não tem conversa mole, rodeios, tergiversações. Pau é pau e pedra é pedra; é o preto no branco sem tirar nem pôr.
Quero dizer que Melquíades é cartesiano no falar e no agir. Não leva desaforo pra casa. Como no verso do poeta Jáder de Carvalho em “Terra Bárbara”, se é para defender o amigo mata e morre; se é para admoestá-lo ou censurá-lo não deixa por menos. Língua solta, sinceridade agressiva, humor ferino, espírito crítico, irônico, às vezes, sarcástico; mas, ninguém o supera em honestidade intelectual. Para além de suas qualidades morais e intelecuais, Melquíades é, sobretudo, um homem integrado à sua terra e à sua gente. Um sertanejo de perneira, chapéu e jibão, daqueles que não muda nem o sotaque nem o gestual, não obstante já ter corrido mundo, proferindo aulas, conferências e recebendo homenagens em todo o Brasil e em vários países do planeta.
Aos 82 anos, se lhe fraquejam as pernas em face do peso do corpanzil agigantado que nem parece um cabeça-chata, por outro lado a mente fervilha de ideias, sempre renovada e ágil; a criação intelectual é tão ou mais intensa do que ao tempo da juventude. Já agora no mês recém-findo deu publicidade a dois livros de sua lavra, posto que é, de fato, incansável lavrador de obras que enriquecem as bibliotecas do nosso País.
Em“A Universidade das Caatingas” (Edição Dnocs/BNB-Etene, 141 págs.), o velho mestre que domina as mais diversas áreas relativamente às ciências das águas, escreve uma memória do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – Dnocs, quando este ainda se chamava Inspetoria; faz um recorte histórico, abordando a pré-história de um dos órgãos mais importantes para a pesquisa e desenvolvimento do semiárido nordestino.
No escorço histórico empreendido por Melquíades assoma a preeminência do engenheiro Arrojado Lisboa, o qual nos anos de 1909-1912 providenciou a formação de um grupo de cientistas para estudar a problemática das secas no Nordeste e elaborar “projetos destinados a corrigir falhas das chuvas”. Ou seja, criava uma “Universidade das Caatingas”.
O texto de Melquíades resgata um importante período na história socio-econômica do Nordeste, quando personalidades de grande vulto como o ministro Francisco Sá, genro do comendador Antônio Pinto Nogueira Acioly, foram decisivas nos começos da busca de soluções para os problemas climáticos adversos que afligem os sertões nordestinos.
Entre a Caatinga e o Cangaço, na sisudez que esconde não um homem rude, mas um cavalheiro, esse cavaleiro andante da sertanidade chamado Melquíades Pinto Paiva vai registrando com escritura firme e apaixonada, a história a um tempo trágica e gloriosa da terra e do povo sertanejos. A terra e o povo que são mais nossos queridos do que os outros brasis.

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