Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 7 de julho de 2021

CHUVA: TRANSTORNO OU FARTURA?

 

 

CHUVA: TRANSTORNO OU FARTURA?

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL DIARIO DO NORDESTE EM 15/06/2020

                                                                                                                 

 

Não é de hoje que ouvimos as palavras transtorno e tragédia entoar nos noticiários, quando a abordagem é sobre uma chuva mais abundante. Também vem de longe o bê-á-bá que o homem constrói em áreas de riscos ou impróprias, com a licença ou às vistas grossas das autoridades; que faltam obras de drenagem, de proteção, ou, quando presentes, são construídas ao arrepio das normas de engenharia; como também de há muito se ouve falar de obstrução de galerias e outras passagens de água, ação pouco civilizada.

Os chamados transtornos, muito mais presentes nas áreas urbanas, vêm complementando o já dito anteriormente, também e sabidamente pelas ocupações desordenadas nas expansões urbanas, subornando muitas vezes os planos diretores das cidades, por pressões sociais, movimentos migratórios da zona rural e especulação imobiliária.

O poder, via de regra, peca quando não age respaldado em três pilastras: apoiado numa política habitacional, evitando ações depois do fato consumado; exercendo rígida fiscalização e acompanhamento nas ocupações de áreas perigosas; e, no mínimo, orientando sob cuidados e estudos geotécnicos, e não combatendo a corrupção, que sempre se mistura a interesses de múltiplas naturezas.

Já outro grupo de pessoas dá benza Deus quando a chuva cai com generosidade, recarregando as barragens artificiais e lagos naturais, o que proporciona condições satisfatórias para o plantio e a colheita de grãos e forragens, água para as culturas perenes em perímetros irrigados, para consumo animal, indústria e, por fim, para a sustentação do próprio homem nas mais diversas formas de utilização.

A agricultura irrigada e de sequeiro, a fruticultura, a floricultura e a bovinocultura, notadamente a de leite, a avicultura, a ovinocaprinocultura e a aquicultura são atividades rurais que asseguram renda e emprego, estancando ao mesmo tempo a migração forçada pelas estiagens, (fenômeno antigo e ainda presente em menor escala) altamente maléfica aos centros urbanos.

 

No Ceará,  segundo a IBGE/SEDET/SAN são hoje cerca de 76 mil hectares irrigados, ( 25 % da área irrigável e 5% de toda área cultivada  ) produzindo frutas e hortaliças e gerando  algo próximo a 60 mil empregados diretos. O censo do IBGE 2017/2018 indicou que 928 mil pessoas vivem do setor agropecuário do estado. Esse número abrange a aquicultura, a floricultura e agricultura de sequeiro e a pecuária. Isso significa produção de alimentos para a população, que necessita de apoio técnico agronômico e de insumos. Nesse ponto um destaque: água, principal e indispensável insumo.

Afinal, a chuva traz transtorno ou benefício? É bem-vinda ou indesejada? É culpada ou inocente? É vilã ou vítima? É divina ou infernal? Merece, pois, reflexões. Vejo suas águas indo nas enxurradas de nosso inverno, comumente em novos caminhos retraçados pelo homem, que nem a própria conhece. São xingadas por entrar e sair em residências, plantações, estradas e logradouros urbanos, e por sobrar em canais apertados e subterrâneos. Entendo que se voz tivessem também gritariam à procura da sua ribeira de largura natural, profunda e emoldurada pela mata ciliar, que outrora, mansa e seguramente, sem importunação, levava-as ao oceano. Louvemos a água! Sagrado insumo da humanidade!

                                                                                                                                                           Eng. Agrônomo Jose Flávio Barreto de Melo

                                                                                                                                        Presidente da Associação de Eng. Agrônomos do Ceará

                                                                                   Membro das Academias Cearense de Engenharia e Brasileira de Ciência Agronômica

                                                                                                                                                                            flaviobarreto.barreto@gmail.com

 

 

 

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