Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

FAMÍLIA IMPORTANTE Antonio de Albuquerque Sousa Filho Prof. Ap. da UFC

FAMÍLIA IMPORTANTE

Antonio de Albuquerque Sousa Filho

Prof. Ap. da UFC

 

Até os anos de 1960 Fortaleza era uma cidade provinciana. Todas as atividades econômicas, como agências bancárias, comércio, hotéis, escritórios de representações, consultórios médicos e dentários, restaurantes, bares, redações de jornais, locais de chegadas e saídas de transportes coletivos, táxis, estavam situadas no centro da cidade. Também, as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, assim como Igrejas, Correios, Mercado Central e Unidades Militares e as principais praças.  As pessoas de vários estratos sociais, inclusive políticos, reuniam-se no centro de Fortaleza.

A Praça do Ferreira, o chamado “Coração da Cidade,” reunia os lugares preferidos pela população: o Abrigo Central, com pequenas lojas, bancas de jornal, lanchonetes, cafés, engraxates e pontos de linhas de ônibus. Estavam presentes os melhores hotéis como o Excelsior e Savanah, a agência do Banco América do Sul (térreo do Edifício Sul América), a Leão do Sul que oferecia caldo de cana com pastéis, a Ceará Chic com seus tecidos de última moda,  a Rainha da Moda, as Farmácias Oswaldo Cruz e Pasteur, os cinemas  Moderno  e São Luiz, Lojas de Variedades, a loja Flama, “símbolo de distinção”, a  loja Rouvani, as Lojas Brasileiras (LOBRÁS-4400)), os sucos de Pega Pinto do Mundico, a papelaria O Alaor, o Armazém de Tecidos Leblon, a Rotisserie (bar e mesas de sinuca).  Existia a Esquina do Pecado, também chamada de “Broadway”, esquina do cruzamento das Ruas Guilherme Rocha e Major Facundo, onde um vento forte era a principal atração, levantando as amplas saias em moda na época. A Coluna da Hora, ali existente, era balizadora do horário da cidade e os bancos da praça  identificavam os diferentes  grupos de pessoas que ali sentavam, para discutir politica, futebol, esperar  transportes ou apenas passar o tempo.

As famílias cearenses eram, em geral, numerosas, principalmente no meio rural. Nos anos 1960-1970, a média ficava em seis filhos (conheci uma família de vinte filhos). Atualmente, os casais só querem ter dois filhos, sendo que alguns optam por não tê-los. Era tradição repetir o nome do pai e acrescentar “Filho” ao sobrenome do rebento, da mesma forma que os pais influenciavam na escolha da profissão a ser seguida pelos filhos. Toda família tradicional deveria ter um padre e um  doutor (advogado ou médico).

O professor José Matias Filho, da então Escola de Agronomia da Universidade Federal do Ceará, estivera doente e fora obrigado a faltar alguns dias ao trabalho. A UFC ainda não possuía o seu Serviço Médico estruturado e o professor necessitava de um médico que lhe desse um atestado que justificasse suas faltas junto a sua unidade de trabalho. Indicaram-lhe um médico com consultório próximo à Praça do Ferreira.

O professor dirigiu-se ao consultório com o formulário exigido, timbrado, do Centro Médico Cearense (com faixa azul, na parte superior da folha em branco), submetendo-se à avaliação médica, fazendo o relato dos sintomas da enfermidade recente: dor de garganta, febre alta e entupimento nasal, acarretando também  dor de cabeça, etc. etc.

Médico: ”Qual é o seu nome completo?”.

Professor: “José  Matias Filho”.

Médico: “Você é da família Filho! Uma família muito importante! Conheci vários familiares seus: Antônio Filho, Miguel Filho, Messias Filho, Emanuel Filho e muitos outros.”

O médico falava sério, ao assinar o laudo médico. O professor José Matias Filho saiu com o documento que justificava suas faltas e a revelação da importância dessa numerosa e tradicional família Filho.


01/12/2020.

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