Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Galinhas furtadas e ferradas - Geraldo Duarte*

Galinhas furtadas e ferradas
Geraldo Duarte*

Década de cinquenta do século passado. Maior problema da polícia e das pessoas eram furtos de galinhas.

Evitando ser vitimados, os proprietários adotavam providências, objetivando afastar más surpresas ao acordarem.

À noite, colocavam as aves dentro de casa. Os possuidores de árvore no quintal encostavam uma escada à noitinha, as penosas subiam, retiravam-na e a recolocavam no dia seguinte.

Mundinho, possuidor de galinhada de reprodução, corte e vendas de ovos e criação de galos de briga (permitida na época), “ferrava” seus “bichos bicudos”, como os denominava. Seu cunhado, trabalhador do cais do porto, trazia-lhe tinta zarcão marítima. Mundinho pintava um dos pés das picotas. No muro em frente, colocou placa alertando: “Minhas galinhas são ferradas e o delegado sabe”.

O espírito galhofeiro fortalezense criou dito, que falava ao aparecimento de vendedores ambulantes: “Quem foi o dono?”. Logo motivava confusão.

JAP, estimado amigo de infância e hoje economista, estudava no Liceu do Ceará e presenciou fato correlato.

Grupo de liceistas, próximo ao colégio, aguardava carona, quando um mercador passava com um pau sobre o ombro e galinhas penduradas numa ponta e na outra. Aos gritos anunciava repetidamente: “Olha, Galinha gorda e barata!”.

Um dos alunos vozeou: “Quem foi o dono?”.

Indignado, o homem botou o madeiro no chão e partiu em direção à estudantada.

Em igual momento, os colegiais correram em várias direções e com alarido de “Cuidado, vem um doido!”, “Socorro!” e “Chamem a guarda!”.

Atônito, o mercante ficou parado, segurando o madeiro na mão, enquanto as galinhas corriam em vários sentidos, pelo leito da rua, e os veículos buzinavam e freavam.

Completando a balbúrdia, a guarnição do Corpo de Bombeiros, cujo quartel fica ao lado da escola, pensando tratar-se de algo grave, rumou para o local.

JAP motivou tudo, tenho a certeza!


                                  *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.

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