Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 3 de julho de 2019

INFELICIDADE INDUZIDA - Fortaleza, 1/7/19. Rui Martinho Rodrigues.


INFELICIDADE INDUZIDA
Percepção, significado, valoração, ângulo visão, ênfase e idiossincrasias se sobrepõem aos fatos na formação da resultante do “sistema de forças” na constelação de fatores que compõem a felicidade. Condições materiais de vida melhoraram enormemente desde o advento da Revolução Industrial. Escolaridade, acesso aos bens e serviços, liberdades e garantias individuais, proteção de minorias pelo Estado e instituições, controle de epidemias, cura de doenças letais, tratamentos menos dolorosos, declínio da mortalidade infantil, maior esperança de vida, Direito Penal humanizado com penas alternativas, entretenimento disponibilizado pela popularização do rádio, TV e internet, atividade física facilitada pelo acesso às academias, pedagogias suaves, integração de pessoas especiais, abandono das práticas de amedrontar crianças com Bicho Papão, possibilidade de escolher o momento de engravidar, superação da infertilidade e o grande aumento da mobilidade geográfica são aspectos que objetivamente indicam melhores condições de vida.
Mais felizes, porém, não nos tornamos. O suicídio cresce. Dependência química é pandemia. Depressão, síndrome do pânico, ansiedade, as varias formas de insatisfação, o sentimento de revolta e indignação crescem levando a uma era de manifestações de protesto. A seletividade da memória, autêntico mecanismo de defesa, é lembrada para afastar a visão de um passado mais feliz. Dizem que huve apenas aumento do registro e da percepção da infelicidade, não fatos que traduzem esta condição. Objetivamente, porém, o crescimento dos fatos que expressam insatisfações e infelicidade é real. Não é só aumento de registro.
Formadores opinião, como professores, comunicadores, escritores e celebridades tendem a olhar o mundo pelo ângulo da inconformidade. Alegam que o conformismo paralisa a vida. Poetas dizem: “todo grande amor só é bem grande se for triste” (Vinicius de Moraes, 1913 – 1980). Comunicadores declaram: notícia é o homem morder o cachorro, não o cachorro morder o homem. Destacam o inusitado, ao invés de assinalar a tendência majoritária dos fatos e atos sociais. Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) percebeu a tendência das fórmulas políticas para a degradação, comparável a segunda lei da termodinâmca, na Física. A democracia tende, segundo o estagirita, a degenerar em demagogia. Políticos e ideológos exploram os ângulo desfavoráveis, omitindo a enorme melhoria de todos os indicadores de qualidade de vida.
Destaque e valoração dos fatos e atos é feita, até nas ciências da cultura, ao modo dos poetas e comunicadores, ressaltando a infelidade, deformando a percepção. Poetas mentem. Intelectuais fazem tratados como que valendo-se de licença poética. Comunicadores buscam audiência oferecendo emoções. Políticos procuram votos mostrando indignação com o que interpretam como injustiça. Mobilizar pessoas é mais fácil com raiva e indignação. O mundo foi orientado, desde o advento do jornal impresso e do enciclopedismo (que contribuiram para a Revolução Francesa) até as novas tecnologias de informação, para ser infeliz e revoltado por “direitos que lhes são negados”, magoando-se e tornando-se infelizes. Anthony Daniels disse, por isso, que o mundo está desorientado.
Fortaleza, 1/7/19.
Rui Martinho Rodrigues.

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