UMA CRÔNICA PARA VOCÊ
Suplemento do Instituto Brasileiro de Divulgação Literária
06 de Julho de 2022
NOSSO DIA A DIA
Pedro Bezerra deAraújo
Foi ontem.
Dirigia, calmo, o carro pela BR. Sem muito estranhar, divisei, dessa vez, um apenas saco de plástico sambando, doidivanamente. De um lado para o outro, sem encontrar companhia, o vento que lhe tocava, vindo dos veículos, ritmava o andante frenético de suas imaginárias ancas.
Então, pelo costado do carro, um troar rouquenho e nauseabundo emparelha-me e passa, arrastando o solitário dançarino. O que pilotava a moto tentou desvencilhar-se de inusitado par, porém, ele grudou-lhe no pé e, por mais que o forçasse a desistir, continuava firme e forte. Quanto mais agitava o pé, mais o saco curtia a dança, ao som daquela procela.
Do meu veículo, assisti a refrega perigosa da dupla, que culminou com a parada forçada do motociclista, no acostamento da BR. Mesmo assim, o danado do saco não lhe saía do pé. Foi necessário desmontar para despregá-lo também do pedal, ao qual se agarrara como a pedir socorro, tão à vontade se sentia.
E o coitado do bailador foi atirado à margem e não mais dançou, enquanto o seu ‘ingrato’ par seguiu seu curso, afastado o indesejado cara pálida.
E eu fiquei a remoer o fato, numa dimensão existencial e não apenas hilária. Nossa vida não nos é muito diferente. Qual uma moto e nós, o piloto. Pelas estradas, que palmilhamos, aparecem bailarinos intrusos prontos a nos compelir a desvios e nos desferir derrotas. Há os que tentam detê-los, há os que aceitam sua dança. Há-os também que os despregam de sua trilha, de forma enérgica e determinada, mesmo que tenham de fazer uma parada ou recuar alguns passos.
Aquele singelo saco de plástico, naquela manhã ensolarada, com somente o vazio do vento, transmitira-me uma lição de vida: ignorar não adianta, simplesmente tentar não basta, assumir para superar problemas e situações vexatórias é convite necessário.
Na jornada da vida tem disso.
Ao piloto, seguir em frente.
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